Relatório da Expedição ao Rio Doce

 Relat?rio da Expedi??o ao Rio Doce | LESTE; Geomorfologia e Recursos H?dricos; TERRA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ? UFMG UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA ? UFJF

A TRAG?DIA DO RIO DOCE A LAMA, O POVO E A ?GUA

Relat?rio de campo e interpreta??es preliminares sobre as consequ?ncias do rompimento da barragem de rejeitos de Fund?o (Samarco/VALE/BHP)

AUTORIA/EQUIPE DA EXPEDI??O Miguel Fernandes Felippe ? Departamento de Geoci?ncias ? UFJF Alfredo Costa ? Programa de P?s-Gradua??o em Geografia ? UFMG

Roberto Franco ? Pesquisador Convidado Ralfo Matos ? Departamento de Geografia - UFMG

PROJETO 21405: FUNDEP-UFMG REGIONALIZA??O TRANSTEMPORAL E A REGI?O DA BACIA DO RIO DOCE

(Fapemig/Universal-2013) COORDENA??O

Ralfo Matos ? Departamento de Geografia - UFMG

BOLSISTAS La?s Carneiro Mendes ? Curso de Gradua??o em Geografia - UFJF

Gabriela Reis - Curso de Gradua??o em Geografia - UFMG

Belo Horizonte - MG /Juiz de Fora - MG Janeiro/2016

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SUM?RIO 1. Introdu??o ......................................................................................................................... 4 2. Organiza??o e desenvolvimento das atividades de campo ................................................ 6 3. Localidades visitadas .......................................................................................................... 8

3.1. Reg?ncia-ES ............................................................................................................... 8 3.2. Linhares-ES ................................................................................................................ 10 3.3. Colatina-ES ................................................................................................................ 11 3.4. Baixo Guandu-ES ....................................................................................................... 13 3.5. Resplendor-MG ......................................................................................................... 14 3.6. Conselheiro Pena-MG ................................................................................................ 16 3.7. Governador Valadares-MG ........................................................................................ 17 3.8. Periquito-MG ............................................................................................................. 18 3.9. Ipatinga-MG ............................................................................................................... 19 3.10. Rio Doce/Santa Cruz do Escalvado-MG ...................................................................... 21 3.11. Barra Longa-MG.......................................................................................................... 24 4. Reflex?es Preliminares ........................................................................................................ 27

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1. INTRODU??O Na tarde do dia cinco de novembro de 2015, ocorreu o rompimento de um dos diques da barragem de rejeitos de minera??o de Fund?o, localizada em Mariana-MG. A barragem ? de responsabilidade da mineradora Samarco, controlada pela Vale e pela companhia anglo-australiana BHP Billiton, que atua desde 1977 na produ??o de min?rio de ferro para produ??o de a?o, com empreendimentos nos estados de Minas Gerais e Esp?rito Santo (Figuras 1 e 2).

Figura 1: Complexo das barragens de Fund?o/Santar?m/Germano, e a localidade de Bento Rodrigues, no rio Gualaxo do Norte, em maio de 2011.

Figura 2: Complexo das barragens de Fund?o/Santar?m/Germano, e a localidade de Bento Rodrigues, em novembro de 2015, ap?s o rompimento de Fund?o.

O rompimento da barragem de Fund?o tem sido considerado por diversas ag?ncias de risco (p.e. Bowker Associates) o maior desastre ambiental da hist?ria do Brasil. A trag?dia provocou 17 mortes de pessoas, dois desaparecimentos e um conjunto incalcul?vel de preju?zos ?s cidades e povoados das margens do rio Doce e nas extensas ?reas rurais ao longo de mais de 500 km do rio Doce (formador da quinta maior bacia do pa?s). Estima-se que foram escoados cerca de 60 bilh?es de metros c?bicos de rejeitos liquefeitos, com impactos ainda mal avaliados at? o momento. Com isso, uma s?rie de danos ambientais de alt?ssima magnitude e preju?zos incalcul?veis para o meio f?sico, bi?tico e socioecon?mico v?m sendo mostrado por jornais, institutos de pesquisa, universidades, ?rg?os p?blicos e organiza??es independentes.

As informa??es divulgadas pela m?dia dizem que a lama ? composta de ?gua, areia, ferro, res?duos de alum?nio, mangan?s, cromo al?m das suspeitas de presen?a de merc?rio. Essas subst?ncias causam danos ? sa?de humana, pioram a qualidade da ?gua dos mananciais atingidos; destroem matas ciliares e pesqueiros essenciais ? pesca artesanal; asfixiam esp?cies aqu?ticas e eliminam micro-organismos do fundo do rio; comprometem faixas de terras nas margens (soterradas por material inerte). A recupera??o da biodiversidade pode levar d?cadas, o assoreamento pode ser irrevers?vel em muitos trechos do leito do Doce, assim como a extin??o de esp?cies t?picas do rio pode ser irrevers?vel, como nos diz Ricardo Coelho, ec?logo (UFMG).

Como um tsunami, a trag?dia atingiu os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo (munic?pio de Mariana) e pode provocar o surgimento de estranhos desertos de lama. "Esse res?duo de minera??o ? inf?rtil porque n?o tem mat?ria org?nica. Nada nasce ali", diz Maur?cio Ehrlich, professor de geotecnia da Coppe-UFRJ (centro de pesquisa em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Observa que a reconstitui??o do solo pode levar "at? centenas de anos, que ? a escala geol?gica para a forma??o de um novo solo" e que "nada se constr?i ali [pois trata-se de] um material mole, que n?o oferece resist?ncia. Vai virar um deserto de lama, que demorar? dezenas de anos para secar".

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N?o causam surpresa as tantas afirma??es de estudiosos sobre a irreversibilidade dos danos ambientais, inclusive porque a lama barra a entrada da luz solar, dificulta a oxigena??o da ?gua e altera sua composi??o qu?mica causando mortandade de peixes e de outras esp?cies que vivem nas margens do rio. Por outro lado, a magnitude da trag?dia mobiliza agentes p?blicos do judici?rio como nunca antes ocorrera na hist?ria ambiental do pa?s. As multas bilion?rias impostas a empresas, a a??o da Pol?cia Federal e do Minist?rio P?blico tem sido noticiada com frequ?ncia na grande m?dia nacional e internacional. O volume de rejeitos liberado pelo rompimento da barragem fez surgir um fluxo de lama que rapidamente atingiu as art?rias fluviais, causando dist?rbios impens?veis na din?mica dos rios, na sociedade e no meio ambiente. A cerca de 2,5 km do dique, a localidade de Bento Rodrigues foi atingida pela lama 15 minutos ap?s o rompimento, tendo grande parte de sua estrutura urbana destru?da. Segundo informa??es do Corpo de Bombeiros Militares de Minas Gerais, os dep?sitos de rejeitos atingiram mais de 10 metros de altura em alguns pontos do vilarejo. Outras localidades de Mariana tamb?m foram atingidas pela lama, com destaque para Paracatu de Baixo, que teve parte das casas soterrada. Aproximadamente 750 pessoas perderam suas casas e as mortes podem chegar a 19. Drenados pelo rio Gualaxo do Norte, parte significativa dos rejeitos chegou ao rio do Carmo e atingiu, posteriormente, o rio Doce, acompanhada por uma onda de cheia que promoveu inunda??es em diversos trechos, com destaque para a ?rea urbana de Barra Longa-MG. No dia 21 de novembro, a ?gua com os rejeitos alcan?ou o Oceano Atl?ntico e se espalhou por uma extens?o superior a 10 quil?metros no litoral do Esp?rito Santo. Os rejeitos depositados agora v?o sendo remobilizados paulatinamente pelos processos pluviais e fluviais, mantendo os sedimentos oriundos do rompimento da barragem nas ?guas do rio Doce por um per?odo de tempo ainda inestim?vel. As consequ?ncias do rompimento da barragem foram enquadradas legalmente como crimes ambientais e a Samarco est? sendo responsabilizada judicialmente, em processos, nos quais cada vez mais suas acionistas ? Vale e BHP ? v?m sendo co-responsabilizadas. Todavia, os laudos oficiais sobre as causas do rompimento ainda n?o foram conclu?dos. O momento atual ? ainda de esfor?os t?cnicos e acad?micos de entendimento da magnitude das consequ?ncias, interpreta??o das causas e mapeamento de efeitos extensivos e locais, o que, per se, j? ? algo bastante complexo. O evento de rompimento da barragem coincidiu com os meses finais de execu??o do projeto "Regionaliza??o transtemporal e a bacia do rio Doce" (financiamento pela Fapemig/Universal-2013), sediado no Laborat?rio de Estudos Territoriais (LESTE), do Instituto de Geoci?ncias da UFMG, em parceria com os grupos de pesquisa (CNPq) "Geomorfologia e Recursos H?dricos" e "TERRA ? Tem?ticas Especiais Relacionadas ao Relevo e ? ?gua". Dada a import?ncia da trag?dia, que atingiu diretamente a calha dos rios Doce, do Carmo e Gualaxo do Norte (recorte espacial do projeto), foi organizada em car?ter emergencial uma expedi??o para percorrer os trechos afetados recolhendo dados prim?rios sociais e ambientais. Um novo eixo de investiga??o foi aberto no projeto, dando voz ?s inquietudes geogr?ficas concernentes ao desastre. Este relat?rio apresenta o di?rio de bordo da equipe e os resultados preliminares de parte das consequ?ncias do rompimento da barragem de Fund?o.

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