PRECISÃO DAS SONDAGENS PRÉ-ELEITORAIS EM PORTUGAL Resumo

PRECIS?O DAS SONDAGENS PR?-ELEITORAIS EM PORTUGAL

Resumo

A precis?o das sondagens pr?-eleitorais tem sido alvo de alguns estudos em diversos pa?ses, contudo em Portugal tem sido uma ?rea pouco abordada, sendo que os poucos trabalhos resultam de an?lises de casos pontuais, n?o havendo uma abordagem mais geral. Esta lacuna resulta, porventura, do facto de estas sondagens serem relativamente recentes em Portugal, apenas em 1991 a lei foi alterada permitindo a publica??o de sondagens pr?-eleitorais.

Este estudo faz uma abordagem, a mais vasta poss?vel, analisando quase todas as sondagens pr?-eleitorais, publicadas ou emitidas em Portugal no m?s anterior a cada uma das elei??es realizadas, desde 1991 at? ? ?ltima em Janeiro de 2006. Para a an?lise da precis?o destas sondagens foram consideradas algumas medidas utilizadas em estudos anteriores.

Na primeira parte ? feita uma breve contextualiza??o da utiliza??o de sondagens em Portugal, quando come?aram a ser utilizadas, como evolu?ram e qual a legisla??o que as regulamenta. ? ainda abordado o modo como a precis?o das sondagens pode ser medido, apresentando-se exemplos de v?rios estudos que abordaram esta tem?tica.

Na segunda parte, ap?s uma descri??o da amostra, s?o apresentados os resultados relativos ? precis?o das sondagens, como evolu?ram, como se comparam com outros pa?ses e quais as rela??es com diversas vari?veis que podem estar relacionadas com esta, como por exemplo, o ?mbito da elei??o ou o m?todo de amostragem.

SONDAGENS PR?-ELEITORAIS EM PORTUGAL

A ditadura em vigor no nosso pa?s at? Abril de 1974 levou a que as sondagens eleitorais n?o tivessem qualquer relevo, dada a sua inexist?ncia. N?o s? as elei??es eram uma fachada que sustentava a manuten??o da ditadura, como tamb?m a cobertura que a comunica??o social fazia destas se limitava a propaganda do estado.

No ?mbito pol?tico qualquer estudo por inqu?rito que se realizasse teria sempre s?rias limita??es de realiza??o, n?o s? por for?a da censura que havia, como pelo medo que as pessoas teriam em responder ao inqu?rito. Numa sondagem realizada pela SERTE para o expresso realizada poucos dias antes do 25 de Abril de 1974 em que se inquiria os cidad?os de Lisboa sobre as elei??es em Fran?a, quase metade (42%) recusou-se a responder, referindo o artigo "A elevada percentagem de pessoas que n?o responderam deve-se, em parte, ao ?medo?, mais ou menos manifesto do ?controle-policial? das respostas e das caracter?sticas pessoais do entrevistado." (de notar que apesar do inqu?rito ser feito antes do 25 de Abril a sua publica??o s? ocorreu ap?s este).

Com o fim da ditadura e a realiza??o de elei??es livres, estariam reunidas as condi??es para que finalmente se realizassem sondagens eleitorais no nosso pa?s. Contudo o decreto lei eleitoral regulamentador desta elei??o viria a proibir, desde o dia em que fossem marcadas as elei??es, "a divulga??o sob forma de reportagem, entrevista ou outra, quaisquer inqu?ritos que visem, ou conduzam a desvendar a atitude dos eleitores ou o seu voto no dia das elei??es" (artigo 62? da lei eleitoral).

Tal proibi??o n?o obstou a que alguns estudos fossem efectuados, no entanto, os resultados n?o eram apresentados directamente: -"segundo sondagens recentes, a percentagem de indecisos elevar-se-ia a 71%!", Jornal Novo 23/04/75 (dois dias antes das primeiras elei??es),

- "Algu?m utilizou abusivamente o nome do nosso colega do Porto ?Jornal de Not?cias?, fazendo sondagens telef?nicas sobre as filia??es pol?ticas das massas populares." (Di?rio de Noticias, 29/03/75)

- " A tend?ncia actual da opini?o p?blica portuguesa expl?cita n?o ? de modo nenhum favor?vel ?s ideologias conservadoras, como vem sendo apontado em resultados de sondagens cuja origem e garantia t?cnica se desconhece e que chegam at? n?s atrav?s de revistas estrangeiras." Vida Mundial (13/3/75)

Um pormenor curioso, resultante do decreto eleitoral proibindo as sondagens antes das elei??es, foi a publica??o, em 1975 no Jornal Novo, de uma sondagem pr?-eleitoral no dia seguinte ?s elei??es. Esta sondagem foi realizada pelo IPOPE cerca de um m?s antes das elei??es e envolveu 2000 entrevistados.

PS

MDP PCP PPD CDS Outros

Sondagem

47

4

17

21 2

9

Elei??o

38

4

13

26

8

11

Tabela 1 ? Resultados da primeira elei??o p?s 25 de Abril e da sondagem publicada no dia seguinte.

Nesta sondagem destacam-se dois resultados com particular relevo, a sobrestima??o dos partidos de esquerda e a sub estima??o ? direita. Estes dois aspectos, combinados com uma alt?ssima taxa de n?o resposta, cerca de 71 %, parecem apontar para alguma dificuldade do eleitorado de direita assumir a sua op??o de voto.

Esta situa??o de quase aus?ncia de sondagens manteve-se nas elei??es seguintes, tendose apenas alterado em 1991, quando a legisla??o foi alterada. De acordo com a nova lei passou a ser poss?vel a divulga??o de resultados de sondagens at? ? ?ltima semana antes da elei??o.

Esta legisla??o viria a ser alterada em 2000 com a publica??o de um novo decreto-lei que veio introduzir algumas mudan?as, entre as quais se destaca a redu??o do per?odo de interdi??o da divulga??o de sondagens para um dia.

MEDIDAS DE PRECIS?O DAS SONDAGENS

A avalia??o da precis?o das sondagens desenvolveu-se, sobretudo, ap?s o falhan?o das sondagens nas elei??es Norte Americanas de 1948, onde, no seu rescaldo, o Social Science Research Council criou uma comiss?o de an?lise de sondagens pr?-eleitorais, que apresentou um relat?rio sobre o desempenho das sondagens nessas elei??es. Ap?s este estudo inicial v?rios outros autores abordaram esta tem?tica, utilizando algumas medidas a? propostas ou sugerindo outras.

Medida

Medida 3 Erro m?dio nos principais partidos

Medida 5 Erro da diferen?a entre os primeiros

Medida 6 Erro M?ximo

Erro do vencedor

Descri??o

M?dia do desvio (em pontos percentuais e independentemente do sentido da diferen?a) entre as previs?es das percentagens dos principais Partidos.

n Resultado do Partido i - Previs?o da sondagem

M3 =

i=1

n

Diferen?a (em pontos percentuais) entre a previs?o da dist?ncia entre os dois primeiros partidos e a dist?ncia verificada nos respectivos resultados eleitorais.

M 5 = (Previs?o P1? - Previs?o P2?) - (Resultado P1? - Resultado P2?)

onde o P 1? ? o partido em primeiro lugar nas sondagens e P2? ? o partido em segundo lugar nas sondagens

Maior diferen?a (em pontos percentuais) entre a previs?o de cada partido e o respectivo resultado eleitoral.

M6 = M?ximoin=1 Resultado do Partido i - Previs?o da sondagem

Diferen?a (em pontos percentuais) entre o resultado do Partido e a respectiva previs?o.

M 9 = Resultado do PV - Previs?odo PV onde PV ? o partido vencedor

Autor

Mosteller (1949); Crespi (1988) Traugott (2004); Mitofsky (1998) Durand et al (2002) Magalh?es (2005) Mosteller (1949); Durand et al (2002) NCPP (2004) Traugott (2004) Magalh?es (2005) Mosteller (1949) Crespi (1988)

Crespi (1988)

Erro relativo a outras sondagens Erro de enviesamento

Desvio entre o resultado da sondagem e o resultado m?dio das restantes sondagens, ponderado pela dimens?o.

Medida da subvaloriza??o ou sobrevaloriza??o do partido Democrata (ou

Republicano).

R A

=

Res. Sondagem Democratas Res.Sondagem Republicanos

?

Res. Elei??es Democratas Res. Elei??es Republicanos

Lau (1994)

Martin et al (2004)

No relat?rio sobre o insucesso das sondagens atr?s referido, Mosteller (1949) apresentou oito medidas que podiam ser utilizadas para medir a precis?o das sondagens,

sete das quais baseadas nas diferen?as, para cada candidato, entre os resultados eleitorais e os estimados, embora algumas apenas considerassem o candidato vencedor ou a diferen?a entre os dois primeiros candidatos. A restante medida era relativa ? diferen?a entre a estima??o de participa??o eleitoral e a efectiva participa??o.

Mitofsky (1998) refere uma falta de consenso quanto ? escolha da melhor medida da precis?o das sondagens. Este autor considera que, entre as medidas propostas por Mosteller, o erro m?dio dos principais partidos e o erro da previs?o da diferen?a entre os dois primeiros s?o as melhores escolhas, preferindo, no entanto esta ?ltima, quer por ser independente do n?mero de partidos, quer por ser a mais referida na divulga??o dos resultados. Tamb?m a National Council on Public Polls na sua an?lise ?s elei??es Norte Americanas de 2002 utiliza este indicador como medida do erro das sondagens. Magalh?es (2005) refere como desvantagem desta medida o facto de n?o ser compar?vel com a margem de erro.

Crespi (1988) utilizou tr?s medidas de precis?o, o desvio relativo ao candidato vencedor, o desvio m?dio para os tr?s principais candidatos e o maior dos desvios verificados nos tr?s principais candidatos. No c?lculo destas medidas Crespi (1988) considerou sempre os resultados obtidos ap?s exclus?o dos indecisos. Os valores da correla??o entre estas medidas revelaram-se alt?ssimos, acima de 0,8.

Lau (1994), considerou uma outra medida, distinta das anteriores por n?o envolver o resultado eleitoral, que utiliza o desvio entre o resultado da sondagem e o resultado m?dio das restantes sondagens, ponderado pela dimens?o. O autor justifica esta medida com o facto de estudar sondagens relativamente afastadas da data das elei??es e, consequentemente o resultado eleitoral n?o ser um bom indicador para a precis?o da sondagem.

Traugott (2004), na avalia??o do desempenho das sondagens nas elei??es presidenciais norte americanas de 2004, utilizou o erro m?dio dos dois principais partidos e o erro da previs?o da diferen?a entre os dois primeiros. Contudo, este autor, utilizou ainda uma outra estat?stica, desenvolvida por Martin et al (2004), que combina a avalia??o da precis?o com a medida do enviesamento, possibilitando analisar a exist?ncia de sistem?ticas sobreestima??es, ou subestima??es, de um determinado partido.

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