1 - Liceu Albert Sabin



1. Auto da barca do Inferno (1517), de Gil Vicente (1465?/1536?)

01. Aponte a alternativa correta em relação a Gil Vicente.

a) Compôs autos teatrais.

b) Introduziu a lírica trovadoresca em Portugal.

c) Escreveu a novela “Os Estrangeiros”.

d) Só escreveu peças em português.

e) Representa o melhor do teatro clássico português.

RESP: A - As peças teatrais de Gil Vicente são chamadas de autos porque estão estruturadas em um único ato, com cenas sequenciadas e independentes, rompendo com a “lei das 3 unidades” do teatro clássico - é um teatro medieval e popular. Apresentam registro polilíngue, isto é, estão escritas em várias línguas, dependendo do tipo alegórico representado pela personagem.

02.Caracteriza o teatro de Gil Vicente,

a) a revolta contra o cristianismo.

b) a obra escrita em prosa.

c) a elaboração requintada dos quadros e cenários apresentados.

d) a preocupação com o homem e, concomitantemente, com a religião.

e) a busca de conceitos universais.

RESP: D – A obra teatral de Gil Vicente está escrita em poesia, com versos, rimas e métricas. O autor escreve em “medida velha”, que é a medida poética da Idade Média (redondilhas maiores e menores). É uma obra que reflete o período de transição da Idade Média para o Renascimento – conhecido literariamente como Humanismo em Portugal (1418/1527) – e demonstra a passagem paulatina dos conceitos teocêntricos para os antropocêntricos. Além disso, o teatro gilvicentino estabelece um amplo painel específico da sociedade portuguesa do início do século XVI.

03. Assinale a alternativa correta sobre o teatro de Gil Vicente.

a) Gil Vicente, o maior teatrólogo português, criou a dramaturgia clássica e em prosa.

b) Monólogo do vaqueiro ou Auto da visitação foi sua última criação, caracterizado apenas por influência antropocêntrica.

c) Em toda sua produção literária nunca sofreu influência do espanhol Juan del Encina.

d) O mote “mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube” serviu de desafio para a criação da Farsa de Inês Pereira

e) Autos são peças teatrais de crítica social e farsas são peças teatrais de conteúdo religioso.

RESP: D – A peça Farsa de Inês Pereira (1523) aborda a necessidade de se casar de uma jovem que deseja fugir dos afazeres domésticos, mas “quem casa quer casa”, diz o ditado popular (mote) e, aí, reside todo o engano de Inês. O mote “mais que asno que me leve, que cavalo que me derrube” é desenvolvido pela mestria de Gil Vicente como desafio literário (na época, o autor estava rechaçando a acusação de plagiador de peças espanholas e pediu um tema público para provar sua criatividade e originalidade).

04. Assinale a alternativa em que se encontra uma afirmação incorreta a respeito da obra de Gil Vicente.

a) Sofre influência de Juan Del Encina, principalmente no teatro pastoril.

b) Suas personagens representam tipos de uma vasta galeria de classes da sociedade da época.

c) Por viver em época renascentista, apegou-se aos valores clássicos, desprezando princípios da Idade Média.

d) Um dos maiores valores de sua obra é ter contrabalançado uma crítica contundente aos hábitos e atitudes com um pensamento cristão.

e) Suas criações buscam mostrar os vícios aos viciados através de riso, da descontração e do divertimento, exercendo intensa crítica sobre os costumes de Portugal.

RESP: C – Gil Vicente é um escritor com estrutura medieval. Seu teatro não segue os modelos estruturais clássicos – como, por exemplo, a “lei das 3 unidades” (tempo, espaço e ação lineares).

05. Considere as seguintes afirmações sobre o Auto da barca do Inferno, de Gil Vicente:

I- O auto atinge seu clímax na cena do Fidalgo, personagem que reúne em si os vícios das diferentes categorias sociais anteriormente representadas.

II- A descontinuidade das cenas é coerente com o caráter didático do autor, pois facilita o distanciamento do espectador.

III- A caricatura dos tipos sociais presentes no auto não é gratuita ou artificial, mas resulta da acentuação de traços típicos.

Está(ão) correta(as)

a) I, apenas.

b) II, apenas.

c) II e III, apenas.

d) I e II, apenas.

e) I e III, apenas.

RESP: C – O Fidalgo é o primeiro tipo social a entrar em cena. A fragmentação das cenas justifica a estrutura teatral do auto e permite que o espectador acompanhe as lições de moral que cada cena apresenta. As personagens tipificam indivíduos da platéia, refletindo as posturas (em suma, teatro é o lugar onde se vê, num jogo de mirar e refletir).

06. Esta questão refere-se às obras Auto da barca do Inferno (1517), de Gil Vicente, e Morte e vida severina (1956), de João Cabral de Melo Neto. Leia as alternativas abaixo e assinale a correta.

a) As duas obras apresentam crítica à sociedade de suas épocas: a de Gil Vicente, a partir das almas que representam classes sociais de Portugal; a de João Cabral, a partir das personagens representativas de tipos sociais do Nordeste.

b) As duas obras apresentam construções poéticas diametralmente opostas, uma vez que a primeira é escrita em versos decassílabos e a segunda, em redondilhas.

c) As duas obras apresentam aspectos em comum, como o julgamento e a condenação, isto é, em ambas as personagens são julgadas e condenadas à morte.

d) As duas obras apresentam julgamento ocorrendo na consciência de cada personagem. Entretanto, na primeira obra, a execução da justiça é somente realizada pelo Diabo, e, na segunda, pela miserabilidade da vida.

e) As duas obras apresentam estrutura de auto; assimilam, portanto, tradições populares e constroem a realidade por meio da crítica. Como autos, possuem representações teatrais que contêm vários atos.

RESP: A – O subtítulo da obra de João Cabral é “Auto de Natal Pernambucano” e justifica a alternativa A.

07. O Diabo e seu companheiro, Anjo, Fidalgo, Onzeneiro, Parvo e Sapateiro, Frade e Florença, Brísida Vaz, o Judeu, Corregedor, Procurador e Enforcado, Quatro Cavaleiros são personagens do Auto da barca do Inferno. Selecione, abaixo, a alternativa incorreta, cujas características não descrevem, adequadamente, a personagem.

a) Onzeneiro: idolatra dinheiro, é agiota, usurário; dos seus bens materiais, nada leva para a morte, ou melhor, leva a bolsa vazia.

b) Frade: representa o clero decadente e é subjugado por suas fraquezas: mulher e esporte; leva a amante e as armas de guerra.

c) Diabo: capitão da Barca do Inferno, apressa o embarque dos condenados; é dissimulado e irônico.

d) Anjo: capitão da Barca do Céu, exalta a fé, simplicidade e perseverança dos homens; é austero e inflexível.

e) Corregedor: representa a Justiça e luta pela aplicação íntegra e exata das leis; leva papéis e processos.

RESP: E – O Corregedor é condenado ao Inferno pela corrupção, pela prevaricação, pela gula....

08. Sobre o Auto da barca do Inferno, é incorreto afirmar:

a) Apresenta severa crítica à prepotência e tirania dos nobres, e à desonestidade e corrupção dos homens da lei.

b) Na luta entre o Bem e o Mal, são favorecidos aqueles que, em vida, pertenceram à classe social privilegiada.

c) O Diabo atua como agente crítico e irônico, que revela as mentiras e falsidades das personagens.

d) O Parvo embarca para o Paraíso, uma vez que o reino dos Céus pertence aos simples.

e) O autor vale-se do tema do Juízo Final para estabelecer uma crítica à sociedade, fazendo desfilar em cena os tipos sociais identificados através de suas qualidades e defeitos.

RESP: B – obviamente, dentro da moral religiosa, a alternativa B está incorreta.

09. Assinale a alternativa incorreta a respeito do Auto da barca do Inferno:

a) O Procurador, por ser achar superior e estudado, não aceita a idéia de ir para o Inferno.

b) Logo que entra, o Judeu é preterido pelo Diabo, mesmo propondo suborno para entrar na barca; no final, o judeu irá, com seu bode, atracado à barca do Inferno.

c) A Alcoviteira, Brisida Vaz, é cheia de enleios e futilidades e se acha merecedoras dos Céus por oferecer virgens postiças aos padres.

d) Escrita em versos decassílabos, em tom coloquial e com intenção marcadamente doutrinária, a obra deixa clara, em algumas passagens, a fusão do latim com o espanhol.

e) Usando de características medievais (em especial dos dogmas da Igreja católica) e antropocêntricas (ao atos e atitudes humanos), o autor alegoricamente faz o julgamento final das almas.

RESP: D – O teatro gilvicentino está em “medida velha”; no autor em questão, os versos são redondilhas maiores (sete sílabas métricas).

10. Sobre o Auto da barca do Inferno, assinale a alternativa correta.

a) Os condenados representam a sociedade quinhentista observada sob a ideologia católica, combatendo todos os pecados e desvios comportamentais e exaltando posturas de fé e resignação.

b) O comportamento das várias personagens femininas expressa a condenação e o preconceito em relação aos padrões de liberdade amorosa da época.

c) Depreende-se da observação do Diabo que o Enforcado tem diante da Barca do Inferno uma atitude de extrema humildade e resignação dos pecados cometidos em vida e que estava preparado para morrer.

d) Na representação do Parvo está um indivíduo consciente de suas atitudes e desejos, tanto que consegue conquistar o Paraíso.

e) Os glorificados são os que se arrependeram os atos praticados e se despojam de seus objetos pecaminosos: a bolsa do Onzeneiro, a fieira de calçados do Sapateiro, a mala de bugigangas da Alcoviteira, e as armas do Frade.

RESP: A – O texto expressa a ideologia cristã da idade média, julgando as atitudes dos homens. Pode ser encarado como uma alegoria do Juízo Final.

11. A respeito de Gil Vicente, assinale a alternativa incorreta.

a) A obra gilvicentina pode ser caracterizada pelo lema “ridendo castigat mores” (rindo, castiga-se a moral).

b) Em seus 44 autos, o autor elabora um vasto painel da sociedade portuguesa do início do século XVI.

c) A linguagem adotada apresenta tom coloquial – chegando a registrar gírias e palavrões - e facilita sobremaneira o aprendizado dos ensinamentos das peças.

d) O fato de ser um teatro poético permite a colocação de música e dança, dificultando uma montagem mais agradável e divertida para o público.

e) O público é moralmente castigado com a exposição das virtudes e dos defeitos humanos.

RESP: D – A possibilidade de música e dança torna a montagem teatral mais comunicativa e participativa.

Leia para as questões 12 e 13:

01 FIDALGO Esta barca onde vai ora,

02     que assistá apercebida?

03 DIABO Vai pera a ilha perdida´

04      e há- de partir logo ess´ora.

05 FIDALGO Para lá vai a senhora?

06 DIABO Senhor, a vosso serviço.

07 FIDALGO Parece-me isso cortiço...

08 DIABO Porque a vedes lá de fora.

09 FIDALGO Porém, a que terra passais?

10 DIABO Para o inferno, senhor.

11 FIDALGO Terra é bem sem-sabor.

12 DIABO Quê? E também cá zombais?

13 FIDALGO E passageiros achais para tal habitação?

14 DIABO Vejo-vos eu em feição

15      para ir ao nosso cais...

(Gil Vicente, fragmento do Auto da Barca do Inferno, em Obras-primas do teatro vicentino. Edição organizada pelo Prof. Segismundo Spina. São Paulo, Difusão Européia do Livro/Edusp, 1970. p. 108-116).

12) Com base nesse fragmento, é correto afirmar que:

a) o Diabo não gostou quando o Fidalgo zombou dele, chamando-lhe de senhora (verso 05).

b) para que o Fidalgo mudasse de atitude, o Diabo inicialmente foi gentil com seu passageiro (verso 06).

c) de acordo com o Diabo, vendo o barco de fora (verso 08), o passageiro sempre se motiva para a viagem.

d) o Diabo conclui que o Fidalgo deve pegar a barca, porque não tem mais tempo de esperar um outro passageiro (verso 04).

e) a ilha perdida (verso 03) de que fala o Diabo é o nome de uma famosa ilha européia, descrita ao longo do texto.

RESP: A – A presunção e soberba do Fidalgo embaçam sua visão; por outra, ele não enxerga o que não interessa (verso 07).

13) Em “Porque a vedes lá de fora” (verso 08), o termo grifado pode ser substituído por:

a) barca.

b) senhora.

c) ilha perdida.

d) habitação.

e) terra.

RESP: A – O termo se refere ao batel dos Danados.

Leia o texto: E chegando à barca da glória, diz ao Anjo:

Brísida:

Barqueiro, mano, meus olhos,

prancha a Brísida Vaz!

Anjo:

Eu não sei quem te cá traz...

Brísida:

Peço-vo-lo de giolhos!

Cuidais que trago piolhos,

anjo de Deus, minha rosa?

Eu sou Brísida, a preciosa,

que dava as môças aos molhos.

A que criava as meninas

para os cônegos da Sé...

Passai-me, por vossa fé,

meu amor, minhas boninas,

olhos de perlinhas finas!

14.a) No excerto, a maneira de tratar o Anjo, empregada por Brísida Vaz, relaciona-se à atividade que ela exercera em vida? Explique resumidamente.

b) No excerto, o tratamento que Brísida Vaz dispensa ao Anjo é adequado à obtenção do que ela deseja – isto é, levar o Anjo a permitir que ela embarque? Por quê?

RESP: a) Por ser uma alcoviteira, seu discurso caracteriza-se pela intimidade e sedução do outro: “Barqueiro, mano...”; “meu amor, minhas boninas, / olhos de perlinhas finas!”.

b) Não, trata-se de um discurso que não surte efeito em função do seu receptor, pois o Anjo, na visão de Gil Vicente, não é passível de sedução ou corrupção.

15. Leia o diálogo abaixo, do Auto da Barca do Inferno.

Diabo:

Cavaleiros, vê passais

E não perguntais onde is?

Cavaleiro:

Vós, Satanás, presumis?

Atentais com quem falais!

Outro cavaleiro:

Vós que nos demandais?

Siquer conhece-nos bem.

Morremos nas partes d’além,

E não queirais saber mais.

a) Por que o cavaleiro chama a atenção do Diabo?

b) Onde e como morreram os dois cavaleiros?

c) Por que os dois passam pelo Diabo sem se dirigir a ele?

RESP: a) O primeiro cavaleiro repreende o Diabo por lhe dirigir a palavra. Sendo um nobre religioso e distinto, que participou das Cruzadas, considera um atrevimento, um desrespeito, o Diabo ter-lhe dirigido a palavra, como se fora um homem comum, na tentativa de atraí-lo

para sua Barca. Na posição de nobre, o cavaleiro de Cristo repreende o Diabo por este não saber a quem estava se dirigindo. b) Os dois Cavaleiros morreram em “partes d’além”, terras distantes, de África ou Oriente, enquanto lutavam pela reconquista de Jerusalém. Os cavaleiros participaram das Cruzadas promovidas pela Igreja Católica contra os infiéis e, portanto, morreram nos campos de batalha,

em nome de Cristo e em defesa da fé cristã. c) Ambos os cavaleiros de Cristo passam pelo Diabo, sem se dirigir à sua Barca, porque têm a certeza da salvação eterna.

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