OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …

Vers?o On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA P?BLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

ARTE - A ESS?NCIA PELA EXPERI?NCIA!?

Marlene Rampanelli? Eglecy Lippmann

Resumo

O conhecimento da Arte apresenta-se com efici?ncia na possibilidade de amplia??o de perspectivas para compreens?o do mundo na qual a dimens?o po?tica esteja presente. Estimula o desenvolvimento do pensamento cr?tico; promove a criatividade e o senso est?tico; possibilita a an?lise de estilos e procedimentos; proporciona conhecimento hist?rico (fatos e ideologias); contribui para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social; ? meio de express?o e comunica??o; tem uma fun??o social: educar para transformar a realidade humana-social; e est? em busca constante do equil?brio entre refletir, criar e produzir, elementos estes indissoci?veis tendo a flexibilidade como condi??o fundamental para realiza??o do processo de ensino/aprendizagem. Nesta compreens?o, subsidiados no referencial te?rico principalmente de Duarte Jr, oferecemos aos professores de outras disciplinas, a oportunidade de conhecer a import?ncia da arte, objetivando destacar seu papel na educa??o, como elemento fundamental na forma??o do individuo, salientando a importante contribui??o cultural presente na arte, desde o in?cio das civiliza??es. Esta pr?tica deu-se por meio de um curso com os professores das escolas da rede estadual de ensino, no munic?pio de RealezaPR.

Palavras-chave: Arte. Forma??o. Transforma??o.

1- Introdu??o Analisar a import?ncia do ensino da Arte na escola ? ?rduo exerc?cio em

nosso contexto educacional uma vez que esta disciplina ? tratada como "sem import?ncia" frente ?s demais ?reas conceituais que equivocadamente s?o consideradas como de maior relev?ncia para a forma??o do indiv?duo (basta verificar o espa?o curricular que as ?reas de conhecimento ocupam na sua distribui??o no cronograma semanal). Quando aprendemos, criamos um esquema de significados que nos permite interpretar nossa situa??o no mundo e desenvolver nossa a??o numa certa dire??o, pois, n?o h? conhecimento sem s?mbolos; nisto est? impl?cita a arte. Neste sentido nos reporta Duarte (1988):

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1Projeto de Interven??o Pedag?gica desenvolvida junto ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), durante o per?odo de 2013-2014, sob orienta??o da Professora Ms.Eglecy Lippmann (UNICENTRO, Campus de Guarapuava-PR). 2Professora de Arte da Rede Estadual de Educa??o do Estado do Paran? e Professora PDE (turma 20123-2014). Graduada pela FEMP- Faculdade de Educa??o Musical do Paran? e P?s-Graduada em Arte Educa??o pela FAP ? Faculdade de Arte do Paran?. E-mail: marlene@.br.

Uma ponte que nos leva a conhecer e a expressar os sentimentos ?, ent?o, a arte, e a forma de nossa consci?ncia apreend?-los ? atrav?s da experi?ncia est?tica. Na arte busca-se concretizar os sentimentos numa forma, que a consci?ncia capta de maneira mais global e abrangente do que no pensamento rotineiro. (DUARTE, 2000, p.16).

Assim, conceituamos a arte como forma de conhecimento humano, e acima de tudo, como ela se constitui num importante elemento educativo, promovendo o desenvolvimento dos alunos uma vez que amplia seus conhecimentos de si mesmo e de mundo, calcados numa dimens?o do sens?vel.

Para Vygotski (1999), a arte ? um mecanismo psicol?gico permanente e indispens?vel de supera??o dos est?mulos quando afirma.

As emo??es, n?o realizadas na vida, encontram vaz?o e express?o na combina??o arbitr?ria dos elementos da realidade, antes de tudo na arte. A arte n?o s? d? vaz?o e express?o a emo??es v?rias como sempre as resolve e liberta o psiquismo da sua influ?ncia obscura. A cria??o art?stica ? uma necessidade profunda do nosso psiquismo em termos de sublima??o de algumas modalidades de energia. (VYGOTSKI, 1999, p. 14).

Enquanto alguns valorizam a palavra como forma de comunica??o que, ? importante lembrar que assim como aprendemos a ler as palavras, tamb?m podemos fazer leituras de imagens, de sons, composi??es, movimentos, para melhorar nossa compreens?o de mundo, construir conhecimentos, aprender sobre diferentes culturas, por meio das diferentes linguagens da Arte, como a Dan?a, a M?sica, as Artes C?nicas ou Visuais. H? que se considerar, que diferentemente do signo lingu?stico, que ? aleat?rio a natureza humana, a arte, por sua iner?ncia a esta ess?ncia, manifesta-se desde os prim?rdios tanto da vida da humanidade quanto da vida do individuo.

A aus?ncia da compreens?o acerca da Arte gera um preconceito que faz com que muitos n?o atribuam o seu devido valor ao seu ensino formal, aquele transmitido na escola, por meio de planejamento e organiza??o de aulas. A arte n?o ? uma forma de ganhar ou preencher o tempo que sobrou da aula sem planejamento, mas sim uma forma de instigar a forma??o do cidad?o cr?tico e participante na sociedade, abrindo-lhe os olhos. "Conhecendo a arte de outras culturas, o aluno poder? compreender a relatividade dos valores que est?o enraizados nos seus modos de pensar e agir". (PCN/2001 p. 61)

Nesse sentido, refletimos sobre o que diz Martins (1998, p. 10)

Ainda ? comum, as aulas de arte ser confundida com lazer, terapia, descanso das aulas s?rias, o momento para fazer a decora??o da escola, as festas, comemorar determinada data c?vica, fazer o presente do dia dos pais, pintar o coelho da p?scoa e a ?rvore de natal.

Cada ?rea de conhecimento contribui para a forma??o humana. A arte ? a ressignifica??o da express?o social coletiva, uma forma de exteriorizar e refletir os passos hist?ricos da sociedade..

Conforme Barbosa (1991), "a arte ? um rio cujas ?guas profundas irrigam a humanidade com um saber outro que n?o estritamente intelectual, e que diz respeito ? interioridade de cada ser". Ainda, segundo a autora, "uma sociedade s? ? desenvolvida quando ao lado de uma produ??o art?stica de alta qualidade h? tamb?m uma alta capacidade de entendimento desta produ??o pelo p?blico".

Se a arte ? importante fora da escola, pois relacionamo-nos com arte o tempo todo, quando organizamos nosso cotidiano vivencial (nossas casa, paredes, entorno sonoro, gestual. Nas ruas, clubes, televis?o, r?dios, etc....) e de v?rias maneiras est? presente em nossas vidas, cabe ? escola democratiz?-la, socializando-a, disseminando-a.

Por ser um conhecimento constru?do pelo homem atrav?s dos tempos, a arte ? um patrim?nio cultural da humanidade e todo ser humano tem direito ao acesso a esse saber. (MARTINS, 1998, p.13).

Na educa??o, a arte auxilia na forma??o de um cidad?o consciente, cr?tico e participativo, com capacidade para compreender a realidade em que vive algu?m que n?o fa?a apenas constatar os acontecimentos, mas tamb?m que consiga intervir neles, uma vez que o ser humano n?o deve ser apenas objeto neutro da hist?ria, e sim sujeito ativo.

O presente trabalho tem como objetivo, promover o estudo e a pesquisa sobre o papel da arte na escola e sua import?ncia na constru??o do cidad?o cr?tico reflexivo e atuante, propiciando ampla discuss?o por parte dos educadores, al?m de perceber o educando como agente transformador da sociedade mostrando que o conhecimento em artes ? necess?rio em seu mundo vivencial e faz parte tamb?m do desenvolvimento profissional dos cidad?os, delineando caminhos que apontem para que seu conhecimento possibilite abrir horizontes para uma compreens?o de mundo na qual, inclusive, a dimens?o po?tica esteja presente.

Proporcionar aos professores um minicurso sobre a import?ncia da arte na forma??o do individuo com vistas a um repensar sobre o fazer pedag?gico,

instigando-os a uma reflex?o pedag?gica acerca da import?ncia da arte na forma??o do individuo e sua relev?ncia no curr?culo escolar, estimulando para uma aprendizagem sens?vel e significativa no cotidiano dos alunos.

O Projeto de Interven??o Pedag?gica na Escola fora desenvolvido na Escola Estadual Dom Carlos Eduardo-Ensino Fundamental, na cidade de Realeza-PR, com docentes do Ensino Fundamental e M?dio, e agentes educacionais, tendo como meta levar informa??o t?cnica, com propostas te?rico-metodol?gicas, sobre esta importante ?rea de conhecimento, abordando por meio de pesquisas nas diferentes m?dias, para que eles tamb?m se constituam num referencial de di?logo e desafio na constru??o do conhecimento por meio da Arte.

Para melhor elucidar a tem?tica abordada, o trabalho de Interven??o Pedag?gica se fundamentou por meio de pesquisa bibliogr?fica, referendada em Ana Mae Barbosa, Paulo Freire, Ricardo Ottoni Vaz Jpiassu, Mirian Celeste Martins, Vigotsky, entre outros e um minicurso, procurando adequar o ensino da Arte ?s necessidades da pr?tica pedag?gica dos docentes.

2 - Proposi??es te?rico-metodol?gicas do Projeto de Interven??o Pedag?gica

Conceituar Arte ainda ? um impasse. Educar atrav?s da arte tamb?m o ?. Aquele que a realiza ou estuda tem dela uma concep??o, mesmo que informal. A fun??o da arte hoje ? tamb?m de analisar, criticar e refletir socialmente sobre a realidade humana.

Barbosa (2003) afirma que por meio da Arte ? poss?vel desenvolver a percep??o e imagina??o, aprender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade cr?tica, permitindo ao indiv?duo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade, que foi analisada.

Fazendo uma an?lise das manifesta??es art?sticas desenvolvidas pelos homens atrav?s da hist?ria, conclui-se a dificuldade da arte ser vista apenas como conceito definido, dado a complexidade da arte cujos significados tendem a ser complexos.

No entanto, no pensamento dentro da ideologia capitalista que traz em seu bojo que as coisas ?teis s?o mais importantes que as coisas belas, ou seja: o utilit?rio antes do sentimento. Neste sentido, pa?s desenvolvido ? aquele que atinge n?veis de desenvolvimento financeiro, cujos modelos econ?micos s?o insustent?veis.

Um sistema capitalista ? respons?vel por esse desenvolvimento, onde o poder est? vinculado ? ordem econ?mica, introduzindo na sociedade uma necessidade de consumir e de se modernizar. A esse respeito Duarte (1988) declara:

Seria compreens?vel e mesmo defens?vel um apelo para que os valores est?ticos fossem inclu?dos em nossos curr?culos. Ningu?m negaria que a beleza tenha sido deles banida de forma espantosamente radical. Por boas raz?es, ? claro. Afinal de contas ? sensibilidade art?stica parece n?o oferecer contribui??o alguma, seja ao desenvolvimento, seja ? seguran?a do pa?s (DUARTE, p.11).

De acordo com as Diretrizes Curriculares de Arte para a Educa??o B?sica (DCE's, 2006), a arte ? um processo de humaniza??o. Como criador, o ser humano produz novas maneiras de ver e sentir, que s?o diferentes em cada momento hist?rico e em cada cultura. Por isso, ? fundamental considerar as determina??es econ?micas e sociais que interferem nas rela??es entre os homens, os objetos e os outros homens, para compreender a relatividade do valor est?tico e as diversas fun??es que a arte tem cumprido historicamente que se relacionam com o modo de organiza??o da sociedade. Pela arte, o ser humano se torna consciente da sua exist?ncia individual e social; percebe-se e se interroga, e ? levado a interpretar o mundo e a si mesmo. A arte ensina a desaprender os princ?pios das obviedades atribu?das aos objetos e ?s coisas, ? desafiadora, exp?e contradi??es, emo??es e os sentidos de suas constru??es (DCE's, 2006, p.49).

A quest?o ? repensar a educa??o sob a perspectiva da arte e n?o incluir a arte na educa??o. Nesta vis?o, s?o pertinentes as afirma??es de Rubem Alves (apud Duarte 1988) quando cita:

A come?ar pelo fato de que a atividade est?tica n?o pode nunca ser considerada como meio. Ela ? sempre um fim em si mesmo. E nisto se parece muito com o brinquedo. Interessante que o ingl?s e o alem?o usem um mesmo verbo para se referir ao brinquedo e ao ato de tocar um instrumento: to play, spielen... Que ? que o brinquedo produz? Que objeto novo se encontra no fim da concentrada atividade dos m?sicos e de uma orquestra? Tudo t?o diferente da linha de montagem ( DUARTE, p.13).

Aqui se justifica a atividade apenas em fun??o daquilo que aparece no fim. No brinquedo e na arte n?o aparece coisa alguma no fim. Ent?o se pergunta: "Como justificar estas atividades curiosas, in?teis, improdutivas?" ? que elas produzem

prazer: "atividades que s?o um fim em si mesmo". N?o existe em fun??o de coisa alguma a n?o ser elas mesmas e a alegria que fazem nascer (DUARTE, 1988, p.13).

A educa??o atual exige que sejamos multifuncionais e n?o apenas educadores, mas psic?logos, pedagogos, fil?sofos, soci?logos, psicopedagogos, recreacionistas e muito mais, para que possamos desenvolver as habilidades e a confian?a necess?rias em nossos educandos, garantindo-lhes sucesso no processo de aprendizagem e na vida.

Aprendizagem que n?o ? alcan?ada apenas com atividades de arte, usadas como motiva??o nas aulas cotidianas, mas, atividades elaboradas com o prop?sito de aperfei?oar o desenvolvimento do educando, podendo servir para intervir e at? mesmo diagnosticar suas habilidades, transmitir valores como responsabilidade, autoconfian?a, solidariedade, toler?ncia, alegria, al?m de outros fatores formadores da sua personalidade.

O trabalho do professor ? de possibilitar o acesso e mediar o sentir e perceber com o conhecimento sobre arte, para que o aluno possa interpretar as obras, transcender apar?ncias e apreender, pela arte, aspectos da realidade humana em sua dimens?o singular e social (DCE's, 2006).

Nessa perspectiva, educar os alunos em arte ? possibilitar-lhes um novo olhar, um ouvir mais cr?tico, um interpretar da realidade al?m das apar?ncias, com a cria??o de uma nova realidade, bem como a amplia??o das possibilidades de frui??o (sentir/perceber) e express?o art?stica (DCE's, 2006).

Dessa forma, procuramos atender ?s exig?ncias da nova Lei de Diretrizes e Bases ( LDB 9394/96), que foi inspirada nos princ?pios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tendo como finalidade o pleno desenvolvimento dos educandos.

Alguns questionamentos s?o pertinentes para que observemos com maior precis?o "o porqu?" do fazer art?stico transformando a pr?tica educativa, como por exemplo: Como podemos ter um novo educando insistindo em uma educa??o reprodutora, repetitiva e sem criatividade? Como fazer com que a escola se torne agrad?vel aos olhos, deixando de ser um mero dep?sito de educando?

Elucida esta discuss?o, Peixoto (1988, p.168), quando afirma que "brincar ? muito importante porque, enquanto estimula o desenvolvimento intelectual da crian?a, tamb?m ensina os h?bitos necess?rios ao seu crescimento". Por meio de

ideias novas e um novo jeito de caminhar, focando a intera??o entre a arte e a pr?tica educativa, isso se concretiza.

Referendados no estudo de Vygotsky (1984), acreditamos que as artes, a brincadeira e o jogo, o l?dico, s?o ingredientes vitais para uma inf?ncia sadia e para um aprendizado significativo, consequentemente, para forma??o de um adulto saud?vel. Vygotsky (1984) atribui importante papel ao ato de brincar na constitui??o do pensamento infantil. Segundo ele, atrav?s da brincadeira, a crian?a reproduz o discurso externo e o internaliza, construindo seu pr?prio pensamento. De acordo com Vygotsky (1984, p.97):

A brincadeira cria para as crian?as uma "zona de desenvolvimento proximal" que n?o ? outra coisa sen?o a dist?ncia entre o n?vel atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o n?vel atual de desenvolvimento potencial, determinado atrav?s da resolu??o de um problema sob a orienta??o de um adulto ou com a colabora??o de um companheiro mais capaz.

A inf?ncia ? um per?odo de aprendizagem necess?ria ? idade adulta, e ? atrav?s das artes que a crian?a abandona o seu mundo de necessidades e constrangimentos e se desenvolve, criando e adaptando uma nova realidade a sua personalidade. ? a hora que o fazer art?stico se torna uma oportunidade de afirma??o do seu "eu", ? quando se torna espont?nea, desperta sua criatividade, interage com o seu mundo interior e exterior.

Duarte (1988) afirma que ? na arte que o educando desenvolve sua habilidade de subordinar-se a uma regra, mesmo quando um est?mulo direto o impele a fazer algo diferente. "Dominar as regras significa dominar seu pr?prio comportamento, aprendendo a control?-lo, aprendendo a subordin?-lo a um prop?sito definido" (DUARTE, 1988, p.17).

Mesmo o ato de criar ocupando um lugar distinto na prefer?ncia dos educandos poucos s?o os espa?os na escola para que ocorram. ? comum n?o valorizar estas tarefas, como se n?o fossem importantes para o desenvolvimento da capacidade de pensar, refletir, abstrair, organizar, realizar, avaliar.

Nesta perspectiva recorremos a Porcher (1982, p.25) que argumenta que a educa??o em arte propicia o desenvolvimento do pensamento art?stico e da percep??o est?tica, que caracterizam um modo pr?prio de ordenar e dar sentido ? experi?ncia humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percep??o e imagina??o, tanto ao realizar formas art?sticas quanto na a??o de apreciar e

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