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Jornalistas fazem autocrítica da prática investigativa[pic]

Marina Lemle 05/09/2007 - 00:00 |

“Temos que sair do chutômetro”. A frase do repórter da TV Globo Fernando Molica arremata as discussões da mesa-redonda Cobertura de Crime Organizado, promovida em 28 de agosto na PUC-Rio pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). De acordo com Molica, os jornalistas tendem a repetir números “chutados” por fontes sem refletir sobre eles, e ao mesmo tempo não sabem aproveitar o que chamou de “núcleo pensante” - órgãos que produzem dados que permitem cruzamentos, como o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro e o IBGE.

“Jornalistas precisam de informação em on. Não estamos sabendo aproveitar dados, isso ainda não foi incorporado ao cotidiano das redações, mas é crucial para o futuro do país e da sociedade”, disse Molica.

Presidente da Abraji e ex-ombudsman da Folha de S. Paulo, Marcelo Beraba foi taxativo em seu diagnóstico: a investigação jornalística brasileira é débil, irregular, superficial e inconsistente. “Há bons repórteres e reportagens, mas o conjunto não é assim”, afirma.

Apesar de considerar que houve melhora no jornalismo, Beraba detecta uma dificuldade de se dar um salto de qualidade. Para isso, ele afirma ser necessário que os repórteres conheçam melhor as políticas de segurança pública nacional e dos estados e entendam mais de investigação policial, para que possam questionar procedimentos e fazer críticas consistentes. Ele destaca ainda a importância de se buscar estatísticas e números absolutos e se fazer cruzamento de dados.

“Sem isso, continuaremos só nas aspas do delegado e a tendência será perpetuar um jornalismo superficial e inconsistente. Precisamos ter conhecimento dos assuntos que tratamos, questionar delegados com mais gabarito. Nosso patrimônio é a nossa credibilidade”, disse.

Além de buscar qualificação no tema, o jornalista deve, segundo Beraba, cultivar fontes e buscar provas e documentos que embasem as informações. Ele reconhece que a reportagem investigativa sobre crime organizado é difícil, tratando de temas escusos como tráfico de drogas e armas, contrabando, jogo do bicho e lavagem e desvio de dinheiro, para os quais os instrumentos para cobertura são insuficientes. “O crime está sempre pensando adiante, buscando novas formas de agir. Se é difícil para a polícia, para nós é mais ainda”, diz.

 

Em defesa do acesso a informação pública

Para melhorar a qualidade da cobertura do crime no Brasil, a Abraji tem parcerias com universidades e empresas jornalísticas, promovendo cursos, seminários e encontros com fontes como juízes, promotores e delegados, para que passem conhecimento aos jornalistas.

Outro campo de ação da associação é uma frente de luta pelo acesso à informação pública, um direito constitucional. Como parte de uma campanha pela garantia desse direito e da criação de uma cultura da transparência, a entidade está solicitando a diversos órgãos informações tidas como “estratégicas”, como efetivos e orçamentos, para poder mostrar a dificuldade em se obtê-las.

Questionado pelo Comunidade Segura sobre o papel das assessorias de comunicação de órgãos de segurança pública, cujo trabalho é freqüentemente criticado por repórteres, Beraba disse que uma forma de se mudar isso é a pressão dos usuários – isto é, os próprios jornalistas. “Na área de economia, as empresas que não divulgavam informações foram percebendo que escondê-las é pior, porque resulta em erros. Houve uma mudança de mentalidade nessas assessorias”, observa.

Imprensa carioca escorrega na cobertura do Carnaval

Repórter especial do jornal O Globo e professor da PUC-Rio, Chico Otávio concentrou suas críticas a uma cobertura específica: a do Carnaval carioca. Ele disse que enquanto os repórteres buscam fofocas, beldades, polêmicas e segredos de desfiles, uma “entidade inidônea” – a Liga das Escolas de Samba – continua gerindo a festa com recursos da Prefeitura.

 

“Existe uma profunda promiscuidade entre a contravenção, em especial o jogo do bicho, e a Liga. O crime organizado tem um pé nos Poderes e isso merece toda a atenção das redações”, frisou o repórter, que junto com Aloy Jupiara divulgou em junho um relatório da Polícia Federal que prova que o Bicho pagou propina a jurados do carnaval.

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