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O jornal Correio do Serão e o fim do coronelismo em Morro do Chapéu

Luiz Carlos Santos Lopes

O jornal Correio do Sertão, com sede na Avenida Coronel Dias Coelho, 333, em Morro do Chapéu (cidade do interior da Bahia, distante 387k de Salvador, capital do Estado), foi inaugurado em 17 de julho de 1917, por Honório de Souza Pereira, que dirigiu e foi redator do impresso até 1946. Quando o jornal começou a circular, tinha uma periodicidade semanal e assim continuou até 1951, ocasião em que passou a quinzenal, da mesma forma que permanece hoje. Mantém o mesmo formato tablóide de antes, exceto o número de páginas, que aumentou de quatro para oito. Destina colunas para colaboradores e os processos de produção, edição e impressão foram mantidos inalterados até 2000, quando a arte final passou a ser feita em computador e a impressão em gráficas particulares.

O prédio onde a empresa está instalada é modesto e o ambiente lembra um pequeno museu. Quem tem acesso a ele encontra os equipamentos antigos em que eram impressos os primeiros exemplares: a máquina de linotipo de pedal, uma guilhotina manual e uma impressora - também manual – na qual eram gravados cartões. Em outro espaço, está a caixa para guardar os tipos móveis - elementos necessários para a composição das primeiras publicações. À frente da caixa, está a mesa de trabalho do atual diretor e editor, Paulo Gabriel de Oliveira. Atrás, existe uma estante que divide o ambiente em dois. Nela estão guardados e encadernados todos os números do Correio do Sertão. No segundo plano, encontram-se os equipamentos de informática, através dos quais é feita a diagramação do jornal. Não foram encontrados os atos constitutivos do jornal em seus arquivos, nem no Cartório de Registro Especial de Morro do Chapéu, tampouco na Junta Comercial do Estado da Bahia (Juceb).

As edições analisadas (2 de novembro a 28 de dezembro de 1930) apresentam-se divididos em três colunas com um fio de separação entre eles. Os elementos mais relevantes foram a marca serifada condensada das fontes, os artigos e as matérias bem diagramados (no que se refere à escolha de fonte). A distribuição no espaço apresenta, entretanto, dois problemas: não dá distância da barra separadora do nome do jornal e, nas colunas, não há distância adequada do fio separador.

A linha editorial e os aspectos textual e gráfico continuaram sem alterações até a data desta pesquisa. As matérias que compuseram as edições analisadas pecavam pelos textos prolixos, enfadonhos, sem pontuação, sem acentuação, cheios de verbosidade e falta de concisão. Obedeciam às regras gramaticais e léxicas do português daquela época, mas de difícil compreensão para os leitores contemporâneos.

O Correio do Sertão é um bem representativo da atividade cultural e influenciou várias gerações de filhos de Morro do Chapéu. Graças aos seus assinantes, inclusive os que moram em outros estados, o jornal tem alcance nacional. É uma importante fonte de pesquisa, e transformou a cidade que lhe serviu de berço em uma referência entre as demais da região. Morro do Chapéu, hoje em dia, é uma referência, não só pelas suas tradições, arquitetura, fauna, flora e clima, como também pelo seu patrimônio cultural que transcende os limites do município, cuja reconstrução histórica está fixada nas páginas do seu jornal.

Foram os exames nos arquivos do jornal que possibilitaram saber que o Correio do Sertão chegava aos leitores através do empenho pessoal de Honório Pereira. Ele entregava cada exemplar aos cidadãos de Morro do Chapéu. As pesquisas indicam também como alguns leitores saudaram a inauguração da imprensa na cidade. Segundo os dados, vários cidadãos enviaram cartas para a redação do jornal parabenizando Honório Pereira pela criação daquele empreendimento que, na opinião de cada um, foi um dos feitos mais notáveis para a gente do lugar. Muitos assuntos de interesse dos leitores e sugeridos por eles foram e ainda continuam sendo publicados pelo jornal: artigos, publicidades do comércio local, aniversários, recolhimentos de notas, comércio de gado, casos de doenças, notas fúnebres, compra e venda de pedras preciosas, eleição, e tantos outros.

Em seus 88 anos de existência, o impresso noticia fatos, descontrai, informa, e tem ao longo da sua trajetória viajado por todo o Brasil e pelo exterior, como informam algumas pessoas entrevistadas. Honório Pereira soube promover o jornal, ao tempo em que entrava em detalhes acerca do preço das assinaturas, pontos de distribuição e até o preço e condições para a inserção de anúncios. Ele utilizava técnicas de promoção de vendas, ainda que intuitivas, para divulgar a nova mídia. Vendia espaços do jornal à Prefeitura local e às Prefeituras dos municípios vizinhos, oferecia assinaturas aos leitores e vendia também espaços para anúncios de propagandas para o comércio local a fim de manter o seu impresso. Hoje em dia, o jornal se mantém com as mesmas práticas de antes, sobretudo pela obstinação dos descendentes do fundador do jornal, que o conduzem imperturbáveis diante do avanço do tempo.

É através do Correio do Sertão que se conhecem os hábitos e as variadas facetas da gente de Morro do Chapéu. Uma gente com um gosto especial pelas as artes e para as letras, a exemplo de Honório Pereira. Ele era músico e, desde criança, confeccionava e distribuía jornais manuscritos, sempre mantendo o sonho de ter um jornal próprio impresso em sua cidade. Como todos os que pensam adiante do seu tempo, foi considerado louco por seus contemporâneos que não compreendiam como alguém poderia criar um meio de comunicação impresso em um lugar onde o atraso e o analfabetismo predominavam. Nem por isso, deixou de acreditar nos seus sonhos. Aos que o ridicularizavam respondia com convicção: “sou louco, louco para fundar um jornal”. Com esse ideal, e com acentuada visão de futuro, lançou as bases para a criação do seu impresso e o produto da sua crença está aí até hoje - um dos maiores orgulhos de Morro do Chapéu e fonte de pesquisa para quem quiser conhecer a história da Bahia.

Honório Pereira queria que o Correio do Sertão levasse as notícias para o público leitor de Morro do Chapéu, principalmente as notícias que marcaram a história da Bahia do Brasil e do Mundo. Não faltava espírito de luta a ele. Dirigia, redigia, diagramava e editava o jornal além de ter uma visão empreendedora, como prova o passo ousado que deu ao modernizar a tipografia do jornal, em 1923, quando gastou todas as suas economias e tomou até dinheiro emprestado para comprar uma impressora de pedal da Alemanha.

A jornalista Ivone Pinto escreveu uma reportagem no jornal A Tarde, de Salvador, em 1992, sobre a trajetória do equipamento da Alemanha até Morro do Chapéu:

[...] importada da Alemanha, chegou a Salvador, num navio, a tão esperada máquina de linotipo. De salvador a Queimadas, o transporte foi por via férrea. De lá a Morro do Chapéu, o maquinário percorreu mais 200km em carro de boi, passando entre vilas e pequenos povoados e, na maior parte do percurso, por grandes fazendas [...] (PINTO, 1992, p.12).

Não foram encontrados registros que comprovem se os recursos para comprar a máquina eram próprios ou se Honório Pereira recebeu ajuda financeira de partidos políticos, de algum coronel ou da Igreja. O atual editor do Correio do Sertão garante que Honório Pereira usou suas economias para tal fim. Mas, não é o que dizem pessoas mais idosas do lugar. Para elas, foi o coronel Dias Coelho quem patrocinou a instalação do jornal em Morro do Chapéu porque o fundador do Correio do Sertão não possuía dinheiro suficiente nem conhecimento do idioma germânico para uma transação desse porte. Ao contrário do coronel Dias Coelho que, de acordo com o historiador Jubilino Cunegundes (1999, p. 32), “era capitalista, grande fazendeiro, alto comprador de carbonatos de diamantes para a firma Levy, de Paris”.

O fato é que o jornal existe e, desde o início, Honório Pereira mostrou que o impresso teria um estreito relacionamento com a população local. O fundador do jornal conseguiu enxergar no jornalismo a função de remediar a dissociação que havia entre o crescimento da cidade e o dos grandes centros. Além disso, parecia saber que era impossível imaginar um povo sem o seu jornal livre. Foi assim que levou as principais notícias sobre a Revolução de 1930 para a população de Morro do Chapéu.

Dada a abrangência e complexidade da Revolução de 1930, este trabalho não se deteve em sua análise. Abordou, sim, aspectos pontuais do movimento revolucionário nos meses de novembro e dezembro daquele ano (a exemplo dos atos que contribuíram para acabar a influência do coronelismo no Brasil), em particular as determinações que atingiram em cheio os interesses de Morro do Chapéu e mudaram definitivamente os rumos da sua história. Na política, o fato marcante foi a destituição do coronel Antonio de Souza Benta da chefia política local, e a sua imediata prisão pelos revolucionários. Na economia, o sumiço do protocolo que assegurava a construção de uma estrada de ferro que ligaria Morro do Chapéu ao França (cidade próxima a Jacobina), sonho perseguido pelo coronel e o então prefeito Vicente Grassi. Os dois, segundo Jubilino Cunegundes (1999, p. 45), viam na construção daquela estrada a melhor maneira de escoar a economia do município.

Até a década de 1930, de acordo com a professora Consuelo Novais Sampaio, a Bahia era um estado eminentemente rural, vivia uma situação de penúria e pouco havia mudado desde as últimas décadas do século XIX. Para ela, as causas do aprofundamento das adversidades sociais e econômicas do Estado eram originárias da descapitalização e dos efeitos da instabilidade político-institucional gerada pela Revolução de 1930. Na avaliação da professora, as condições de vida dos baianos eram precárias e a maioria deles vivia no campo. Nas cidades do interior as condições sanitárias e de saúde eram constrangedoras.

No que diz respeito às condições sanitárias e de saúde, o quadro da estado da Bahia era dos mais constrangedores. A quase totalidade dos municípios (139) não possuía esgotos sanitários. Somente 39 cidades tinham serviços de abastecimento d’água, e apenas 18 dispunham de distribuição domiciliar. O restante só conhecia chafarizes públicos. Não havia água encanada. Tomava-se banho de cuia ou de bacia. A água potável consumida pela maior parte da população era vendida de porta em porta, por aguadeiros, no lombo de burros e jumentos (SAMPAIO, 1992, p. 31-32).

Além desse quadro desolador, a professora aponta também as condições climáticas que aumentavam ainda mais as desventuras do povo interiorano:

[...] A crise social foi agravada por uma seca inclemente, que flagelou grande parte do território baiano e aprofundou a crise agrária, fazendo crescer o número de desocupados nos campos. Em decorrência, o êxodo rural intensificou-se e o processo de concentração da propriedade acelerou-se [...] (SAMPAIO, 1992, p. 41-42).

Nada disso, porém, impedia o Correio do Sertão de levar as notícias ao povo de Morro do Chapéu. O editor, sem recursos técnicos e financeiros, não deixava de noticiar os fatos e os transcrevia, na maioria das vezes, de outros jornais de centros mais adiantados. Os exemplares desses jornais chegavam a Morro de Chapéu através de caminhões. Uma viagem que levava três a quatro dias em média de Salvador até aquela cidade. Era assim que o jornal registrava as principais notícias ligadas à Revolução de 1930. A partir da mudança política, a vida rotineira de Morro do Chapéu mudou e o jornal se incumbiu de relatar os fatos mais importantes relacionados ao novo regime brasileiro, publicando as notícias de interesse nacional, principalmente aquelas que se referissem diretamente aos habitantes de Morro do Chapéu. Era, agora, um defensor das medidas saneadoras da Revolução.

Parte dos habitantes da cidade, influenciada pelas exaltações do jornal a Getulio Vargas, passou também a idolatrá-lo porque via no presidente a oportunidade de mudanças profundas na área social e econômica, ao fim do filhotismo parasitário e ao fortalecimento das fontes produtivas. A Revolução de 1930 divide opiniões até hoje. O Correio do Sertão, por exemplo, encontrou espaço para ser uma espécie de porta-voz do movimento em Morro do Chapéu. Informava tudo o que fosse de interesse dos poderosos de plantão, sem lhes dirigir, sequer, uma nota reprobatória. Tinha (e tem) aversão ao comunismo, como mostram vários dos seus artigos de ontem e de hoje. As reportagens mostram o posicionamento do jornal diante do movimento político e, sobretudo, o seu valor enquanto veículo de comunicação regional preocupado em levar informações e interagir com os leitores a respeito das mudanças havidas em Morro do Chapéu.

Quando Honório Pereira morreu, em 1946, o impresso passou a ser administrado por seu filho, Adalberto Pereira, até 1983. Daquela data, até hoje, a direção do periódico está a cargo de Paulo Gabriel de Oliveira, neto de Honório Pereira. Ele faz de tudo um pouco. É editor e confessa que o jornal não dá lucro. Vale ressaltar a saga e a obstinação dele e dos filhos, que mantêm o Correio do Sertão indiferentes às dificuldades impostas pelas adversidades políticas e econômicas do país e ao avanço das novas mídias – radio, televisão e Internet.

Paulo Gabriel afirma que as matérias do jornal estão voltadas para os assuntos da comunidade, mas também para temas de interesse do país e da atualidade. Da mesma maneira que seus antecessores, o editor se empenha em publicar os fatos que mais interessam à população local, apesar de lhe faltarem conhecimentos específicos sobre as técnicas da redação jornalística, razão por que permite a publicação de textos sem critérios, prolixos, cheios de adjetivações.

O Correio do Sertão é uma empresa familiar, como mostra a sua estrutura administrativa. Paulo Gabriel e seus filhos Edson, Paulo Sérgio e Alex Vasconcelos de Oliveira são, dentre outras atividades, repórteres. Função, aliás, exercida por todos na hora de precisão. Embora nenhum deles tenha formação universitária na área da comunicação (tampouco os antigos dirigentes), o empenho de cada um ajudou a transformar o jornal em um referencial histórico muito influente e vivo no cotidiano da sociedade de Morro do Chapéu.

Os gêneros jornalísticos praticados pelo Correio do Sertão encontram uma melhor definição no professor Nilson Lage (2002, p. 40-41), para quem o jornalismo em cidades do interior segue uma tendência em que a notícia compete com outros tipos de textos, desde os francamente opinativos até os que se destinam à promoção de eventos e à interpretação particular de fatos já divulgados pelos veículos de comunicação maiores. As análises documentais no Correio do Sertão mostram claramente as definições do professor Lage. O jornal tem uma tendência para publicar textos opinativos, quase sempre exaltando as elites políticas de Morro do Chapéu, ou promovendo eventos, ou ainda transcrevendo fatos já publicados em jornais de outros centros.

Para o editor, o impresso não está vinculado a grupos que possam utilizá-lo para impingir suas idéias ao resto da sociedade. Na sua opinião, não obstante ao bom relacionamento do Correio do Sertão com os poderes constituídos de Morro do Chapéu, tal comportamento não significa que deixe de existir solidariedade e amizade entre o trabalho desenvolvido pelo impresso e seus leitores. Prática considerada pela professora Beatriz Correa P. Dornelles como própria do jornalismo interiorano, que ela entende como danosa à isenção e imparcialidade jornalísticas:

[...] Há uma cumplicidade entre as partes no que diz respeito à defesa dos interesses da comunidade. Em contrapartida, essa amizade interfere na prática do Jornalismo Informativo quando a honra de um cidadão está em jogo. Assim, fofocas são inadmissíveis, bem como a divulgação da intimidade de qualquer leitor, especialmente na área sexual [...] (DORNELLES, 2005).

Na opinião da professora, o envolvimento entre jornalistas e leitores acontece especialmente em jornais com tiragens inferiores a 20 mil exemplares. É o caso do Correio do Sertão, que imprime em cada edição uma média de 2.200 volumes. Além dos assuntos relacionados aos interesses da sociedade local, como educação, saúde, turismo, política, e outros, o Correio do Sertão se envolve também em coberturas dos acontecimentos relacionados aos municípios vizinhos de Morro do Chapéu, o que o caracteriza como o meio de comunicação que transmite o noticiário regional, anseio maior dos seus leitores. O sucesso do Correio do Sertão se deve, enfim, ao comando dos seus proprietários que desenvolveram um espírito comunitário, o que leva o jornal a se envolver em lutas reivindicatórias junto com o seu público leitor.

O trabalho tem a intenção de mostrar a importância do Correio do Sertão enquanto jornal regional de Morro do Chapéu. As pesquisas nos arquivos da empresa, as entrevistas com o seu editor e alguns leitores mostram que o jornal foi cúmplice da população local frente aos acontecimentos que mudaram os rumos políticos e econômicos do lugar, mantendo os habitantes informados sobre o andamento do movimento revolucionário, apesar de lhe faltarem recursos técnicos e financeiros que permitissem apurações mais rigorosas dos fatos.

Os dados indicam também que, desde o início, o Correio do Sertão optou por uma linha editorial voltada para a população local, e os moradores dos municípios vizinhos. É para eles que produz as matérias e atende aos anseios, como se pode observar pelas cartas dos leitores dirigidas à redação do jornal. A idéia de notícia, tal como enunciada por Luiz Amaral (1996, p. 25-44), em que predominam a mistura de estilo direto, imparcialidade, fatualidade, isenção, neutralidade, distanciamento, alheamento em relação a valores e ideologias, não era uma prática comum no jornal de antes e dos dias atuais. Também lhe faltam noções de objetividade, cujos princípios, de acordo com Amaral, foram estabelecidas por volta de 1850 e só vieram a ser empregados em relação à imprensa cerca de 80 anos mais tarde, depois da I Guerra Mundial (1914-1918).

A revisão de literatura e o exame da estrutura do Correio do Sertão possibilitaram entender que a falta de conhecimentos demonstrados por seus administradores sobre os conceitos citados por Amaral se deve à inexistência de profissionais com formação universitária na redação do jornal – um jornalista, um fotógrafo e um diagramador – que pudessem contribuir para melhorar o aspecto gráfico e editorial do impresso. Tais argumentos, porém, esbarram nas alegações do editor. Na opinião de Paulo Gabriel, o Correio do Sertão é uma empresa familiar que não tem recursos para contratar mão-de-obra especializada, embora reconheça que a qualidade do jornal é diretamente proporcional à presença de jornalistas formados nas redações.

Além de a falta de recursos apontada por ele, existe um outro problema encontrado nos estudos de Beatriz Dornelles: a falta de interesse dos jornalistas em desenvolver trabalhos no interior e, os poucos que querem, não estão preparados para exercer todas as funções que uma redação de jornal regional exige. De acordo com a professora, o interior representa um mercado de trabalho em potencial, tanto para empregar jornalistas quanto para se investir na abertura de novos jornais. Mas ela adverte:

[...] os jornalistas precisam se qualificar em algumas áreas, obtendo maior conhecimento sobre administração empresarial, publicidade, programas de editoração eletrônica e fotografia. Além disso, necessitam de maior compreensão sobre a forma de vida de pequenas comunidades para que possam interagir com elas. (DORNELLES, 2005).

Os argumentos de Beatriz Dornelles encontram o apoio de Paulo Gabriel, que atribui o sucesso do Correio do Sertão à capacidade dos administradores (antigos e atuais) de interagir com os habitantes de Morro do Chapéu e permitir que os leitores sejam co-autores de matérias que digam respeito à comunidade. Desde a fundação do jornal, diz o editor, o Correio do Sertão é o veículo que melhor noticia o que realmente interessa aos filhos da terra, como nascimentos, querelas políticas, mortes, aniversários, festas, propagandas do comércio local, enfim, as notícias que estão próximas do leitor, apesar de faltarem profissionais qualificados em sua redação.

Chega-se à conclusão que, mesmo com a falta de mão-de-obra habilitada, o Correio do Sertão sempre dependeu da sua capacidade de adaptação para enfrentar os desafios que encontrou em sua trajetória. Mas, a revolução digital que está acontecendo nas mídias do mundo inteiro exige a presença de profissionais qualificados nas redações dos jornais, sejam eles grandes ou pequenos, sem o que vai ser difícil encarar futuros embates no campo das comunicações. As opções estão em aberto, como estão abertos os caminhos que o Correio do Sertão deverá optar por seguir daqui para frente.

Fica a proposta para futuros pesquisadores se deterem nos exames da história do Correio do Sertão. Ele é o segundo jornal mais velho da Bahia e o mais antigo do interior do Estado em plena atividade. Um modesto veículo de comunicação que desafia as razões do tempo, as leis da economia, a lógica dos novos tempos e soube vencer as dificuldades, desde a sua inauguração, quando à volta o obscurantismo predominava.

ESTRUTURA DO TRABALHO - Os resultados obtidos nas pesquisas são apresentados em quatro capítulos, obedecendo a uma ordem mais ou menos cronológica.

O capítulo I é dedicado ao histórico do Correio do Sertão. Nele, consta quem fundou o jornal e quando, suas instalações, estrutura administrativa, formato, análise gráfica, linha editorial, abrangência, como chegava aos leitores e a administração do jornal.

No capítulo II, é feita uma breve referência à importância do jornalismo regional e à época em que o Correio do Sertão surgiu.

No capítulo III, é mostrado como o jornal transmitiu as notícias sobre o início da Revolução de 1930 à sociedade local.

No capítulo IV, é apresentada a reação do público leitor diante dos fatos relacionados aos atos revolucionários.

FONTES: As principais fontes de pesquisas foram as edições do jornal Correio do Sertão. A primeira, de 15 de julho de 1917, e as dos meses de novembro e dezembro de 1930. Dos exames nos exemplares do jornal foram extraídas as informações básicas que interessaram ao trabalho. Delas também surgiu o interesse pela imprensa das cidades do interior e a crença na consolidação do jornalismo regional. Visão, aliás, respaldada em alguns estudiosos que enxergam uma tendência de crescimento dos jornais de cidades interioranas pela sua proximidade com o leitor e por assimilar seus problemas com uma linguagem direta, que nenhum grande veículo de comunicação vai conseguir.

A maior parte das pesquisas foi realizada em Morro do Chapéu, na redação do Correio do Sertão, quando se entrevistou o redator do jornal, seus filhos, e algumas pessoas da cidade. Outra parte foi realizada na Biblioteca Central de Salvador, no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, na Associação Baiana de Imprensa, na Junta Comercial da Bahia, no Arquivo Público do Estado, em livros, sites da Internet, outros periódicos, guias turísticos, como demonstrado a seguir:

1. ANUÁRIO ESTATÍSTICO da Bahia. Salvador, Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, 2003, v. 17

2. AQUINO, Ramiro Soares de. De Tabocas a Itabuna-100 Anos de Imprensa: Uma breve história da imprensa de Itabuna a partir de 1897 até aos nossos dias. Itabuna: Agora, 1999, 250 p.

3. BAHIA. Secretaria da Cultura e Turismo. Superintendência de Cultura. Guia Cultural da Bahia: Piemonte da Diamantina. Salvador, 2001. v.2,.

4. BRANDÃO, Ana Maria (org.). A Revolução de 1930 e seus antecedentes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. Disponível em: . Acesso em 9 abr. 2005.

5. CARVALHO, Aloysio de. A Imprensa na Bahia em 100 anos. In: TAVARES, Luis Guilherme Pontes. (Org.) Apontamentos para a história da imprensa na Bahia. Salvador, Academia de Letras da Bahia; Assembléia Legislativa da Bahia, 2005.

6. CHAGAS, Américo. O chefe Horácio de Matos. Salvador: EGBA, 1996. 254 p.

7. CUNEGUNDES, Jubilino. Morro do Chapéu: um pouco de sua história, sua vida político-administrativo, suas belezas e sua gente. Salvador: EGBA, 1999. 121 p.

8. DANTAS JUNIOR, Antônio Barreto; ARLÊGO, Judith; OLIVEIRA, Maria do Carmo Silva. Sociedade Filarmônica Minerva: 92 anos de história. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo, EGBA, 1998.

9. DIZARD JUNIOR, Wilson. A nova mídia: a comunicação de massa na era da informação. 2.ed. rev. e atualizada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000, 324 p.

10. DORNELLES, Beatriz Correa P. Características de jornais e leitores interioranos no final do século 20. Disponível em: . Acesso em 15 abr. 2005.

11. ESTADO vai lançar na segunda banco de dados sobre a caatinga. Tribuna da Bahia, Salvador, 5 e 6 jun. 2004. Meio Ambiente, p. 25.

12. FAUSTO, Boris. A revolução de 1930: historiografia e história. São Paulo: Brasiliense, 1970, 118 p.

13. FONTES, Oleone Coelho. Lampião na Bahia. Petrópolis: Vozes, 1988.

14. GOMES, Álvaro Cardoso. Jorge Amado: seleção de textos, notas, estudos biográfico, histórico e crítico e exercícios. São Paulo: Abril Educação, 1981, 124 p.

15. HENNING, Hermano. Tendência. Folha da Região, Araçatuba. 1997. Disponível em: . Acesso em: 15 abr. 2005.

16. IPANEMA, Marcelo de; IPANEMA, Cybelle de. A tipografia na Bahia: documentos sobre suas origens e o empresário Silva Serva. Rio de Janeiro: Instituto de Comunicação Ipanema, 1977.

17. JANOTTI, Maria de Lourdes M. O Coronelismo: uma política de compromissos. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1986, 86 p.

18. MARINI, Wilson. Os valores éticos, raiz do jornalismo. Folha da Região, Araçatuba, São Paulo, 11 Jun. 2004. Caderno F2 e F3, Coluna do Editor

19. MELO, José Marques de. Os jornais do interior estão mais receptivos às demandas comunitárias. Disponível em: . Acesso em: 15 abr. 2005.

20. MORAES, Walfrido. Jagunços e heróis: a civilização do diamante nas lavras da Bahia. 5 ed.rev. e ampl..Salvador: Empresa Gráfica da Bahia, 1997, 217 p.

21. MORRO do Chapéu. Disponível em: < .br>. Acesso em 06 jun. 2004.

MORRO do Chapéu: O portal da Chapada Diamantina. Disponível em:< .br/portal/destinos.asp >. Acesso em: 06 jun. 2004.

22. MURITIBA, Itamar Reis, et al. O coronelismo na Chapada Diamantina e Piemonte

(1880-1930). Jacobina; Santa Cruz Artes Gráficas, 1997.

23. PINTO, Ivone. Correio do Sertão continua circulando. A Tarde, Salvador, 15 out. 1992, Suplemento Especial.

24. QUEIROZ, Claudionor de Oliveira. O sertão que eu conheci. 2 ed. Salvador: Assembléia Legislativa, 1998. 111 p.

25. SAMPAIO, Consuelo Novais. Poder & representação: o Legislativo da Bahia na Segunda República. Salvador: Assembléia Legislativa, 1992, 271 p.

26. SANTOS, José Weliton Aragão dos. Formação da grande imprensa na Bahia. 1985. 132 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador.1985.

27. SCHILLING, Voltaire. A crise do coronelismo. Disponível em: . Acesso em: 16 set. 2002.

28. SILVA, Maria Beatriz Nizza da. A primeira gazeta da Bahia: Idade D’Ouro do Brasil. São Paulo: Cultrix; (Brasília): INL, 1978.

29. SOUZA, Antonio Loureiro de. Apontamentos para a história da imprensa na Bahia. In: TAVARES, Luis Guilherme Pontes (org.) Apontamentos para a história da imprensa na Bahia. Salvador: Academia de Letras da Bahia; Assembléia Legislativa do Estado da Bahia, 2005.

30. TAVARES, Luiz Henrique Dias. História da Bahia. Salvador: Correio da Bahia, 2000, 332 p.

31. TEIXEIRA, Cid. As oligarquias na política baiana. In: LINS, Wilson et al. Coronéis e Oligarquias. Salvador: UFBA, 1988.

32. TORRES, João Nepomuceno; CARVALHO, Alfredo (org.). Annaes da imprensa da Bahia: 1º centenário 1811 a 1911. Bahia: Typ. Bahianna, 1911, 302 p.

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