PARA OUVIR ANTES DE MORRER .br

 1001 M?SICAS

PARA OUVIR ANTES DE MORRER

EDITOR GERAL ROBERT DIMERY PREF?CIO DE TONY VISCONTI

O DJ Terry Dawson mostra sua cole??o em 1967.

P

SUM?RIO

Pref?cio

6

Introdu??o

10

?ndice de m?sicas

12

Cap?tulo 1: Antes de 1950

18

Cap?tulo 2: Anos 1950

46

Cap?tulo 3: Anos 1960

106

Cap?tulo 4: Anos 1970

256

Cap?tulo 5: Anos 1980

456

Cap?tulo 6: Anos 1990

640

Cap?tulo 7: A d?cada de 2000

788

10.001 m?sicas para ouvir . . .

900

Colaboradores

958

Cr?ditos das imagens

960

Agradecimentos

960

6 | Pref?cio

PREF?CIO

Por Tony Visconti, produtor e m?sico

No in?cio havia o single, a grava??o de uma ?nica m?sica. O fon?grafo, inventado por Thomas Alva Edison em 1877, continha um cilindro que armazenava cerca de dois minutos de m?sica ou recita??o ? este era o limite da m?dia. Feitos de cera, os cilindros resistiam a apenas algumas dezenas de reprodu??es antes de se desfazerem. Quanto ao som, era agudo e horr?vel, e ficava ainda pior a cada execu??o. Mais tarde, os cilindros pl?sticos, mais resistentes, se tornaram o padr?o da ind?stria, mas o som era ?spero e chiava demais. O p?blico, por?m, estava determinado a comprar os singles.

Edison estava satisfeito com seu sucesso quando um inventor em ascens?o, Emile Berliner, apresentou uma nova m?dia de grava??o e reprodu??o: o disco plano. Girando a 78 rota??es por minuto, o disco era basicamente preto, como o famoso Modelo T do Sr. Ford. O disco plano de Berliner produzia um som de qualidade superior e oferecia dois minutos a mais de m?sica, pois possu?a dois lados. Apesar desses m?ritos ?bvios, Edison estupidamente defendeu seu formato cil?ndrico, levando sua empresa ? fal?ncia ao tentar manter sua posi??o como ?nica ind?stria gravadora da cidade. Berliner (assim como Nikola Tesla, inventor da corrente alternada) n?o apenas derrotou Edison como tamb?m, sem querer, inventou o lado B ? sobre o qual falaremos mais tarde.

Meu pai, Anthony, era um ?vido colecionador de singles. Quando eu era crian?a, tentava ler o r?tulo de seus discos enquanto os observava girar. A m?sica jorrava de nosso aparelho ? can??es curtas de jazz da Glenn Miller Orchestra, dos Irm?os Dorsey (Tommy e Jimmy), m?sicas de harmonia simples dos The Pied Pipers (cujo vocalista e l?der era Frank Sinatra) e at? singles eg?pcios cantados em ?rabe e comprados em lojas de imigrantes na Atlantic Avenue, no Brooklyn. Eu observava o ritual de meu pai: tirar da capa o precioso disco preto envernizado com goma-laca e coloc?-lo cuidadosamente na plataforma girat?ria. Via a descida delicada do bra?o da agulha sobre as primeiras ranhuras e, prendendo a respira??o, ansiava pelo instante em que aquele ru?do alto de repente se transformava em m?sica ? era uma experi?ncia que eu reviveria incont?veis vezes durante minha vida, apesar de me dizerem para jamais tocar nos discos ou no aparelho de som do meu pai.

Aprendi do modo mais dif?cil a respeitar essa delicada m?dia. Aos 4 anos me entusiasmei com a ideia de segurar os sens?veis discos de 25cm de di?metro paralelos ao ch?o, solt?-los e me deliciar vendo-os se quebrar em pedacinhos. Num intervalo de cinco minutos eu havia dizimado uma parte importante da cole??o do meu pai. Foi quando meu traseiro n?o muito acolchoado recebeu v?rias palmadas, seguidas por uma enxurrada de l?grimas, n?o s? minhas, mas dele tamb?m.

Meu pai adorava grava??es de m?sicas c?micas. Nos anos 1940, ele me mostrou par?dias de m?sicas populares da ?poca feitas por Spike Jones, l?der da banda City

Slickers. Minha preferida era "All I Want for Christmas Is My Two Front Teeth" (Tudo o que quero neste Natal s?o meus dois dentes da frente), na qual o cantor desdentado (o trompetista George Rock) me fazia rir pelo modo como cantava a palavra "Christmas", pronunciando os "s" com um assobio. Quando ouvi "Cocktails for Two", de Jones, instintivamente soube que a banda n?o poderia tocar os instrumentos e, ao mesmo tempo, produzir aqueles efeitos sonoros extravagantes (eu j? era um jovem e entusiasmado tocador de ukulele). Algo estranho acontecia no est?dio, e eu queria descobrir o que era e como faz?-lo. Basta dizer que, desde ent?o, passei incont?veis horas em est?dios, tentando aperfei?oar a antiga arte de produzir algo esquisito!

O primeiro disco que comprei foi Blueberry Hill, de Fats Domino. Na ?poca eu j? tinha responsabilidade suficiente para usar o fon?grafo de meu pai e escutei o single at? que tivesse decorado cada nuance ? das oito notas do solo de piano da introdu??o at? a artimanha dos tambores que se interrompem abruptamente no ?ltimo acorde. Escutei mais ainda o lado B, pois nunca tinha ouvido aquela m?sica no r?dio. Era "Honey Chile", cantada com um sotaque de Nova Orleans t?o marcante (pelo menos para mim, na ?poca) que eu n?o conseguia entender o primeiro verso da m?sica, embora o tivesse decorado foneticamente. Esse single era meu, minha propriedade cultural! Era um belo come?o para minha pequena cole??o de singles de 78rpm, que cresceu a ponto de incluir Tutti Frutti, de Little Richard, e Flying Saucer, de Buchanan & Goodman (eu ainda gostava de m?sicas c?micas). Tocava esses discos (e seus lados B) incessantemente depois da escola. Meu pai costumava gritar quando voltava do trabalho: "Tire essa porcaria de disco!" As m?sicas do meu pai eram as minhas m?sicas, mas ? claro que as minhas m?sicas n?o eram as m?sicas do meu pai!

Pouco depois de dar in?cio ao viciante passatempo de colecionar discos, tornei--me v?tima da hoje conhecida "guerra dos formatos". Discos de vinil quase inquebr?veis eram a nova m?dia, com uma superf?cie resistente capaz de suportar o peso e o desgaste da agulha por muito mais tempo do que seu antecessor. Singles de vinil eram menores e mais compactos do que os de goma-laca, e muitos deles cabiam perfeitamente numa caixa port?til com uma al?a de pl?stico que ainda tenho. Eu era filho ?nico e meus discos de 45rpm eram meus companheiros de todas as horas. Comprava singles dos meus ?dolos: Elvis Presley, Chuck Berry, Buddy Holly, Buddy Knox e Mickey (Baker) & Sylvia (Vanderpool), cuja m?sica "Love Is Strange" (lado B de No Good Lover) foi um marco da guitarra. Aprendi a tocar no viol?o tudo o que podia do estilo de Mickey "Guitar" Baker ouvindo aquele disco sem parar. Em 1957 encontrei meu her?i na sa?da dos fundos da Brooklyn Paramount. Mickey e Sylvia estavam em cartaz, fazendo at? seis apresenta??es por dia. Mickey, que estava correndo depois da apresenta??o da manh?, provavelmente para tomar caf? e comer alguma coisa, gentilmente parou e autografou a capa do meu disco. Ele at? me deu

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uma palheta, que guardei na carteira durante anos, at? que a quebrei, usando-a numa apresenta??o.

Meus primeiros discos de vinil foram That'll Be the Day (1957), de Buddy Holly & The Crickets; You Can't Catch Me (1956), de Chuck Berry ? apesar de gostar mais do lado B, "Havana Moon"; All Shook Up (1957), de Elvis Presley; Let the Good Times Roll (1956), de Shirley & Lee; To Know Him Is to Love Him (1958), de The Teddy Bears (disco que marcou a estreia de Phil Spector como produtor e integrante do grupo); A Rose and a Baby Ruth (1956), de George Hamilton IV (e sabia de cor cada palavra da m?sica do lado B, a verborr?gica "If You Don't Know"); e uma vers?o psicod?lica obscura de "Muleskinner Blues", rebatizada de Good Morning Captain (1956), de Joe D. Gibson. Mas foram os singles da Invas?o Brit?nica dos anos 1960 ? Beatles, The Rolling Stones, The Zombies, e um disco em particular, Happy Jack, do The Who ? que acabaram por me tirar de Nova York e me levar para Londres, onde comecei aprendendo a fazer discos para a banda T. Rex.

Esse per?odo extremamente f?rtil do in?cio do rock progressivo comp?e cerca de metade do meu DNA musical. Os discos, o cheiro do vinil, os r?tulos, com suas mensagens enigm?ticas (os nomes dos compositores entre par?nteses, os n?meros de s?rie, as advert?ncias jur?dicas), fazem parte de mim; foram eles que determinaram quem sou e o que fa?o hoje. Claro que naquela ?poca a ind?stria fonogr?fica j? fabricava LPs, discos de vinil maiores, de 30cm de di?metro, que rodavam a 33rpm, mas eles eram para f?s adultos de Doris Day ? e caros demais para garotos. Eu quase n?o comprava LPs porque na ?poca n?o parecia fazer sentido comprar novamente os mesmos singles com seus lados B somente para ter algumas can??es a mais, que preenchiam o espa?o restante. Quando comprava um single, era de um artista de que gostava, como o Oh Boy, dos Crickets, com a incr?vel "Not Fade Away" no lado B. A ind?stria fonogr?fica chamava o single de "compacto"; para mim, era um compacto de puro prazer.

Por fim, os LPs, com sua capacidade maior de armazenamento, foram aceitos pelos artistas pop, que queriam expressar profundidade e nuance maiores sem que precisassem se sujeitar ?s press?es comerciais que as gravadoras exerciam quando se tratava de singles. Nos Estados Unidos durante os anos 1970, o single foi for?ado a se retirar quando as esta??es de r?dio FM come?aram a tocar lados inteiros de LPs. A popularidade e o prest?gio do disco-conceito de rock estavam no auge, e os singles serviam apenas como pe?as publicit?rias para os LPs (mesmo que um single de sucesso nem sempre garantisse o ?xito de um LP). Mas continuei comprando singles porque alguns eram "?rf?os" que n?o apareciam nos LPs-pais; outros tinham enigm?ticos lados B, como a irrelevante "Tandoori Chicken", no lado B de Try Some, Buy Some, de Ronnie Spector.

Mas o LP de vinil e, a seguir, o CD e os downloads pela internet mudaram o modo como as pessoas compram m?sica. Neste livro voc? encontrar? muitas m?sicas que colecionei na forma de singles e outras tantas que foram lan?adas em LPs ? e que hoje as pessoas podem novamente baixar na forma de single. Hoje, mais do que nunca, o consumidor tem o poder de decidir quais m?sicas quer ouvir e quais merecem virar hits.

Ainda assim, os singles, especialmente os de 45rpm, n?o apenas tiveram um papel revolucion?rio na m?sica e na cultura como tamb?m mudaram um modelo muito r?gido de neg?cios. At? o fim dos anos 1960, todos os contratos das gravadoras determinavam que a empresa ficaria com 10% dos direitos do artista por "perdas com a quebra de discos", apesar de, em meados dos anos 1950, discos muito resistentes de 33 e 45rpm serem a ?nica forma de distribui??o musical. Ao renegociar um contrato dos Rolling Stones com a gravadora Decca, o empres?rio Andrew Loog Oldham insistiu que essa cl?usula fosse exclu?da. Quando os executivos da gravadora disseram que a cl?usula obsoleta (do tempo dos discos de 78rpm) era "padr?o", Oldham tirou um 45 (o disco, n?o o rev?lver) do bolso do seu palet?, bateu-o com toda a for?a na mesa do executivo e o desafiou: "Quebre isto!" A cl?usula deixou de existir.

Por fim, por que a maioria dos discos de 45rpm ainda hoje ? preta? Os produtos qu?micos que comp?em o vinil s?o essencialmente claros, mas, durante o processo de fabrica??o, os discos se sujam com facilidade por causa das impurezas. A alternativa para manter uma f?brica limpa foi acrescentar carv?o ? f?rmula, tornando o disco preto. Sei que muitas pessoas t?m discos de vinil vermelhos, azuis, verdes, amarelos e at? mesmo transparentes, mas eles custam muito caro para serem produzidos, imagino que tenham sido feitos numa f?brica virgem, sem germes ou poeira, no alto dos Alpes Su??os, por um vil?o de um filme do James Bond.

Voc? realmente deve comprar, roubar ou pedir emprestadas as 1.001 m?sicas recomendadas neste livro. N?o sei se conseguirei fazer isso um dia, mas, como o t?tulo sugere, morrerei tentando.

Tony Visconti, Greenwich Village, NYC

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INTRODU??O

Por Robert Dimery, editor geral

? dif?cil acreditar que j? se passaram cinco anos desde que 1001 discos para ouvir antes de morrer chegou ?s livrarias. Reunir aquela sele??o de grandes ?lbuns de rock e pop foi um desafio e tanto, gerando debates acalorados entre a equipe por tr?s do livro ? e entre os leitores, claro. Desta vez o desafio foi ainda maior: escolher 1.001 m?sicas fundamentais da rica e incrivelmente variada heran?a musical popular. Antes de mais nada, as prefer?ncias musicais podem ser muito subjetivas e est?o propensas a revis?es regulares. ? prov?vel que, ao chegar ao fim deste livro, voc? conclua que teria optado por uma sele??o diferente de 1.001 m?sicas. E voc? n?o est? sozinho: com o tempo provavelmente farei o mesmo.

Ent?o, por onde come?ar? Para come?ar, limitamos um pouco nosso foco e nos restringimos a m?sicas que tivessem letras. Assim, nenhuma m?sica instrumental foi inclu?da ? o que significa que "The Star-Spangled Banner", de Jimi Hendrix, ter? que esperar outro livro. Mesmo assim, a escolha se provou um trabalho herc?leo, com as listas sendo constantemente modificadas, m?sicas obscuras dando lugar a sele??es mais populares (e vice-versa) e, naturalmente, mais debates acalorados.

Como n?o podia deixar de ser, embora meu nome apare?a na capa de 1001 m?sicas para ouvir antes de morrer, este foi um trabalho extremamente colaborativo, com sugest?es de todos os resenhistas e editores que lan?am o livro ao redor do mundo. As editoras foram essenciais para ampliar o escopo de 1001 m?sicas, fazendo com que nele constassem m?sicas fundamentais de v?rios pa?ses e culturas diferentes. Embora o mundo seja enorme, ele est? ficando cada vez menor: m?sicos ocidentais se inspiram livremente em artistas e estilos n?o ocidentais ? que, assim, influenciam sua m?sica.

Esperamos que voc? encontre nestas p?ginas v?rias can??es que provoquem um prazer inesperado, al?m dos maiores sucessos. O livro come?a com "O sole mio" e termina com m?sicas lan?adas alguns meses antes do prazo final da publica??o. Entre uma coisa e outra voc? poder? acompanhar o crescimento do jazz e do blues e a evolu??o do R&B e do swing no rock 'n' roll. Voc? vai experimentar a abund?ncia infinita do grande cancioneiro norte-americano e ser? testemunha da explos?o da soul music em inspiradoras afirma??es da consci?ncia e do orgulho negros nos anos 1960 e 1970. Voc? encontrar? os principais momentos da can??o francesa, do fado portugu?s, do flamenco espanhol, do calipso caribenho e da bossa nova brasileira. Ao mesmo tempo, vai se deparar com hist?rias fascinantes sobre m?sicas extraordin?rias e seus cantores igualmente fant?sticos ? como o afrobeat incendi?rio de Fela Kuti atraiu a ira dos militares nigerianos, como as reflex?es m?rbidas de um metrovi?rio inspiraram um sucesso de Serge Gainsbourg e como Michael Stipe, do R.E.M., nem sempre soube o que suas letras queriam dizer.

Na verdade, entre as belezas de um livro como este est?o as fascinantes curiosidades que ele mostra. Em geral, as revela??es mais not?veis dizem respeito n?o

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