CONSTRUÇÃO E REPARAÇÃO NAVAL PORTUGUESAS SITUAÇÃO E ...

[Pages:17]CONSTRU??O E REPARA??O NAVAL PORTUGUESAS SITUA??O E PERSPECTIVAS

S?ntese, elaborada pelo capit?o-de-fragata engenheiro construtor naval ?scar Filgueiras Mota, das palestras sobre ?Constru??o e repara??o naval portuguesas. Situa??o e perspectivas?, apresentadas na Academia de Marinha em 13, 20 e 27 de Abril de 2010, no ?mbito das Jornadas sobre Constru??o Naval

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confian?a; todo o mundo ? composto de mudan?a, tomando sempre novas qualidades.

Lu?s de Cam?es

Autores CALM ECN Ref. Ant?nio Balc?o Reis CALM ECN Res. Victor Gon?alves de Brito CFR ECN Ref. ?scar N. F. Mota (coordenador)

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1 ? Introdu??o

Quando, por solicita??o do Presidente da Academia de Marinha, esbo??mos um programa para as tr?s jornadas sobre a ind?stria naval portuguesa, seleccion?mos como objectivos:

Dar a conhecer a capacidade e possibilidades da ind?stria naval nacional;

Contribuir para melhorar a coopera??o entre a Marinha e a ind?stria.

Os t?tulos escolhidos para as sess?es foram O complexo da ind?stria naval A componente industrial Os problemas e as solu??es

Das duas primeiras se encarregaram, respectivamente, os contra-almirantes engenheiros construtores navais Balc?o Reis (BR) e Gon?alves de Brito (GB). O Presidente da Academia tinha-nos solicitado que fiz?ssemos um resumo das apresenta??es anteriores. N?o nos atrevemos em rela??o ?s duas primeiras, pois foram demasiado interessantes, densas e ricas para arriscar fazer cortes ou condensa??es. Por isso tivemos de solicitar aos pr?prios a ingrata tarefa, que talvez demasiado disciplinadamente aceitaram; adiante reproduzimos os textos recebidos. Quanto ao resumo da nossa apresenta??o, tememos justificar o ditado "quem parte e reparte fica com a melhor parte". Que os colegas de escrita e os leitores nos perdoem.

2 ? O complexo da ind?stria naval

A apresenta??o centrou-se em tr?s pilares; A Ind?stria, Os servi?os e a Forma??o.

2.1 ? Ind?stria.

Os estaleiros navais, de certa dimens?o, que ainda existem, s?o os que conseguiram resistir. H? estaleiros com nomes novos em infra-estruturas previamente existentes, que foram sujeitas a transforma??es e moderniza??es de profundidade vari?vel. ? o caso da Naval Rocha operando nas hist?ricas infra-estruturas da Rocha. H? nomes que se

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mant?m mas associados a novas realidades. ? o caso da infra-estrutura da Mitrena que abandonou o nome Setenave e recuperou o nome m?tico da Lisnave. N?o assistimos, como era necess?rio, a uma moderniza??o das instala??es, nem a uma especializa??o dos estaleiros, nem a fus?es ou associa??es entre estaleiros, salvo raras excep??es e sempre pontuais. E no entanto a reduzida dimens?o do nosso mercado mais aconselhava iniciativas desse g?nero, n?o necessariamente confinadas ao territ?rio nacional. E assim foram ficando pelo caminho Argibay, Parry & Son, S. Jacinto, Margueira e seguiram em frente, actuais reservas estrat?gicas em metalomec?nica, a Lisnave, os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, o Arsenal do Alfeite, a Naval Rocha, Estaleiros Navais de Peniche, Navalria, Estaleiros Navais do Mondego. O Arsenal do Alfeite merc? da sua recente passagem de ?rg?o de execu??o de servi?os da Marinha a Sociedade an?nima de capitais exclusivamente p?blicos, justifica alguns coment?rios. Os textos legais apontam para mudan?as importantes, mas s? a forma como vierem a ser aplicadas permitir? um julgamento. H? que esperar para ver. Mant?m-se como "priorit?ria a execu??o de encomendas da Marinha" e concedem-se ? concession?ria "poderes especiais" de "subconcessionar as actividades compreendidas na concess?o" e "celebrar contratos e acordos que tenham como objecto a gest?o de partes funcionalmente aut?nomas do Arsenal". No campo das Pequenas empresas de constru??o e repara??o, de acordo com os dados do INE, citados pela AIN, existir?o cerca de 600 empresas, agrup?veis nesta classifica??o, 500 das quais com menos de 10 colaboradores. Um grande n?mero, com eventual significado local, mas limitada influ?ncia global. Realidade industrial e social que de modo algum pode ser ignorada e muito menos abandonada. Um outro mundo, de dimens?o e qualifica??o muito inferior ao desej?vel ? o da Subcontrata??o ? Empresas de instala??o. A subcontrata??o ? inevit?vel, fruto da evolu??o natural do processo construtivo, de passagem da empresa global e auto-suficiente a empresa essencialmente de montagem. H? que ter presente alguns riscos inerentes ? subcontrata??o, designadamente o menor conhecimento ou desconhecimento das capacidades, das t?cnicas, procedimentos e particularidades do contratante e o risco de onde se deveria encontrar especializa??o se encontrar amadorismo ou cultura biscateira. Mas este ? um caminho sem regresso e a solu??o est? na maior especializa??o e qualifica??o das empresas.

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Terminamos este cap?tulo da Ind?stria com a Ind?stria Auxiliar naval que engloba todas as actividades fornecedoras de servi?os, materiais e equipamentos da ind?stria de constru??o e repara??o naval. A reduzida dimens?o do mercado e as especifica??es de maior exig?ncia, que s?o colocadas aos componentes navais, dificultam o estabelecimento de uma ind?stria auxiliar que, para se afirmar teria que se desenvolver tecnologicamente e internacionalizar/exportar. E efectivamente, ao mesmo tempo que as poucas ind?strias auxiliares tradicionais que ainda t?nhamos foram desaparecendo, afirmaram-se fabricantes em tecnologias de ponta virados para a exporta??o, como ? o caso da EID e EDISOFT, actuando na ?rea da concep??o e fabrica??o de sistemas e equipamentos de comunica??es navais, sistemas de Processamento de mensagens e de controlo de tr?fego mar?timo, desenho de sistemas de comando e controlo de armas e sensores de navios militares. Louv?vel a iniciativa da Associa??o das Ind?strias Navais fazendo-se parceira no projecto Aux-Navalia, integrado no programa europeu Espa?o Atl?ntico, destinado a aumentar a competitividade da ind?stria auxiliar naval, apontando para a concentra??o sectorial, internacionaliza??o, agrupamentos transnacional, coopera??o entre a ind?stria auxiliar e os centros tecnol?gicos sectoriais. A exporta??o constitui um imperativo, um requisito de sobreviv?ncia. O mercado nacional tem de servir de cobaia, exigente e respons?vel. E entre as cobaias t?m de ser os organismos p?blicos, as For?as Armadas em particular, a dar o exemplo, correndo riscos calculados, dando a m?o, sendo equilibradamente exigentes, sendo parceiros na procura da excel?ncia.

2.2 ? Servi?os

No cap?tulo Servi?os merecem destaque as Sociedades de classifica??o, provavelmente as entidades da ?rea naval cujas caracter?sticas societ?rias mais se ter?o alterado nos ?ltimos cinquenta anos, passando de Funda??es ou Para-funda??es sem af? de lucro, para entidades marcadamente comerciais. ? margem dessas altera??es, as Sociedades de Classifica??o sempre foram e continuam a ser dos maiores deposit?rios da ci?ncia e engenharia naval e dos maiores respons?veis pela sua evolu??o e avan?os. A Universidade ensina e investiga, os centros de produ??o, estaleiros e afins, produzem, ou seja, aplicam a ci?ncia. As Sociedades de Classifica??o investigam e acompanham a produ??o, aliam a teoria ? pr?tica, a ci?ncia pura ? aplica??o concreta.

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Todas as grandes Sociedades mant?m de h? muito escrit?rios (stations) em Portugal; Lloyd's Register, Bureau Veritas, American Bureau, Det Norske Veritas, Registro Italiano Navale. Mas nenhuma delas atingiu entre n?s dimens?o suscept?vel de promover ou influenciar de forma tang?vel a investiga??o, o desenvolvimento ou as t?cnicas navais, nem nenhuma delas delegou poderes para a aprova??o de planos em Portugal e essa ? exactamente a fun??o que promove o desenvolvimento desej?vel. H? uma grande mais-valia associada a estes departamentos. O estabelecimento de uma classificadora portuguesa, que se queria como base de desenvolvimento tecnol?gico e ninho de engenharia naval foi um belo sonho, que se concretizou na Rinave. Foi indiscutivelmente uma iniciativa de marcado interesse, ? sua medida, no contexto da engenharia naval em Portugal. Por longos per?odos foi o primeiro empregador nacional de engenheiros e t?cnicos navais. Com a ajuda de alguns conseguiu sucessos que pareciam imposs?veis de alcan?ar. Morreu na praia. O mais clamoroso de todos os erros foi o div?rcio entre a Sociedade de Classifica??o e a Escola, entenda-se o IST, com o seu curso de engenharia naval e o Centro de Engenharia e Tecnologia Naval. As novas tecnologias vieram permitir a cria??o de Gabinetes de Projecto, baseados num pequeno n?cleo t?cnico, com possibilidades de responder a solicita??es que antigamente exigiam vastos gabinetes de engenharia e grandes salas de desenho. E jovens engenheiros t?m aproveitado estas possibilidades para montar pequenos gabinetes de projecto com trabalhos independentes ou em colabora??o com estaleiros que de igual modo t?m vindo a tirar partido destas capacidades. Porque o tema do projecto e dos gabinetes de projecto ser? tratado nas apresenta??es dos colegas limito-me a repisar a import?ncia dos estaleiros terem uma boa capacidade de projecto e a enunciar a minha op??o entre as alternativas poss?veis no encaminhamento do projecto-constru??o. Advogo a obten??o de um ante-projecto num gabinete de projecto onde consiga fazer passar os meus requisitos operacionais, ante-projecto esse que entrego ao estaleiro construtor com a fun??o de o desenvolver, adaptando-o ?s suas pr?ticas, com a liberdade poss?vel de interpreta??o, mas sem permitir desvios do cumprimento dos requisitos. O estaleiro dever? assumir a responsabilidade integral do projecto, n?o lhe servindo de escusa o ter recebido um ante-projecto para desenvolvimento. Se n?o ? exequ?vel deve denunciar a situa??o e, se for o caso, propor ao Armador solu??es alternativas. Ainda dentro dos Servi?os uma refer?ncia ao IPTM ? Instituto Portu?rio e dos Transportes Mar?timos.

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Tem por miss?o regular, fiscalizar e exercer fun??es de coordena??o e planeamento do sector mar?timo-portu?rio e regulamentar as actividades desenvolvidas neste sector. O seu eficiente funcionamento ? essencial ao bom funcionamento do sector. Condi??o necess?ria, n?o suficiente.

2.3 - Forma??o

O IST ? Instituto Superior T?cnico ? o principal centro de forma??o em engenharia naval do pa?s e em sentido restrito ser? mesmo a ?nica sede de tal ensino. Reconhecido o alto n?vel da forma??o ministrada ao n?vel do mestrado, segundo Bolonha, com coloca??o assegurada a todos os finalistas, merece ser duramente criticada a licenciatura segundo Bolonha, 3 anos, que deveria preparar os instruendos para imediata entrada no mercado de trabalho e os deixa sem um m?nimo de prepara??o, obrigando-os a prosseguir os estudos rumo ao mestrado, negando a pr?pria natureza da licenciatura. Com um ingresso em m?dia de 10 alunos a que se junta uma dezena de estrangeiros, espanh?is, belgas, brasileiros, noruegueses, etc. em regime de Erasmus ou na base de parcerias com outras Escolas, saem anualmente 4 ou 5 engenheiros. O IST, na figura do Centro de Engenharia e Tecnologia Naval (CENTEC) continua a ser o maior ou um dos maiores empregadores de rec?mformados, conforme os fundos que habilmente, honra lhe seja feita, vai angariando. Mas ter?o tido as centenas de milhares de euros angariados a desej?vel influ?ncia e de progresso na engenharia naval nacional? Entre os cursos ministrados pela Escola Naval est? a Engenharia naval, com os ramos de Mec?nica e de Armas e Electr?nica. Pela reforma de 1986 foi extinta a classe de Engenheiros construtores navais, sem preju?zo da Marinha continuar a manter um programa de forma??o no estrangeiro de pos-gradua??o em arquitectura naval, que nos ?ltimos anos tem tido lugar no University College London. Terminada a pos-gradua??o mant?m-se no quadro comum de engenheiros navais. Tentando ser isentos pensamos que este tipo de solu??es n?o motivam ades?es ? arte da engenharia naval, n?o ajudam ao seu desenvolvimento nem honram tradi??es de s?culos de pa?s marinheiro. Uma palavra final para a Escola N?utica, escola de ensino superior polit?cnico p?blico tutelada pelo Minist?rio da Ci?ncia, Tecnologia e Ensino Superior. ? hoje o cora??o de um moderno complexo de estudos n?uticos.

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A melhor refer?ncia que se pode fazer ao seu ensino ? a forma como s?o requisitados todos os que nela se formam tendo assegurada a sua imediata coloca??o no mercado de trabalho. S?o de crise os tempos que vivemos, crise em geral, crise em particular no sector naval. Que haja empreendedores que, seguindo a m?xima que ? em tempos de crise que se investe, tenham a vis?o e a coragem de apostar no sector, investindo e investindo forte.

3 ? A componente industrial

A ind?stria naval engloba duas vertentes distintas: a constru??o e a repara??o naval. Ainda que recorram a instala??es e tecnologias id?nticas e que contem com o contributo de profissionais com as mesmas qualifica??es, apresentam caracter?sticas diferenciadoras, j? que uma configura essencialmente a produ??o de bens e na outra preponderam os servi?os. Os requisitos de utiliza??o dos navios condicionam a respectiva configura??o e caracter?sticas t?cnicas e de desempenho e estas, atrav?s do projecto de engenharia, s?o traduzidas em especifica??es que s?o usadas pelo estaleiro; da qualidade das primeiras depende em grande medida o sucesso das segundas. Para uma rela??o contratual segura, promotora da racionalidade econ?mica e da inova??o tecnol?gica, devem ser adoptados requisitos contratuais baseados em indicadores de desempenho, em alternativa ? fixa??o de solu??es t?cnicas. A produ??o e os servi?os industriais em contexto empresarial s?o sempre condicionados pela vertente econ?mica. Qualquer interven??o industrial deve preocupar-se com a racionalidade da aplica??o dos recursos, isto ?, com a produtividade. Esta ? um elemento essencial na forma??o duma base industrial competitiva, mas podem existir outros elementos influentes na competitividade que acabem por ter maior influ?ncia.

3.1 - Constru??o naval

A constru??o naval ? uma actividade planeada, com prazos longos de execu??o, onde a disciplina da organiza??o e a programa??o das fases de execu??o das diversas partes do navio s?o condi??es de sucesso no plano t?cnico, no controlo de custos e no cumprimento de prazos.

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A constru??o de navios militares "combatentes" exige especializa??o e s?o relativamente poucos os estaleiros capazes, existentes nesse segmento. Em geral, a constru??o naval exige capitais elevados mas, com frequ?ncia, o retorno do investimento ? baixo e o risco financeiro elevado, o que de algum modo justifica o desinteresse de empreendedores que preferem investir em actividades com menos risco e com taxas de retorno do investimento mais amig?veis. Embora a tend?ncia seja de ter cada vez mais automa??o e ter uma for?a laboral relativamente reduzida com recurso a subcontrata??o de servi?os, a constru??o naval mant?m-se uma ind?stria de m?o-de-obra intensiva.

i. Import?ncia da capacidade de projecto

A capacidade de projecto de concep??o ?, por si s?, uma actividade econ?mica. Mas o seu interesse ? refor?ado quando ? inclu?do na fileira da constru??o naval e tamb?m nas transforma??es de navios, contribuindo para a qualifica??o da empregabilidade do sector, isto ?, para que ele n?o seja visto apenas na ?ptica das profiss?es oficinais. Os estaleiros de constru??o e os que se dedicam a transforma??es de navios devem ter capacidade de projecto de produ??o sendo altamente desaconselh?vel a subcontrata??o dessa capacidade j? que ela est? intimamente ligada ao processo produtivo espec?fico. Em Portugal, onde existe forma??o de qualidade nas engenharias, h? todas as condi??es para se desenvolver a actividade de projecto naval.

ii. Obten??o de navios para a Armada

A Marinha ? hoje o principal "armador" nacional. A expectativa de aquisi??o de novos navios, ? muito importante para a ind?stria naval portuguesa. Por raz?es de capacidade tecnol?gica e de racionalidade econ?mica, nem todos os navios para a Marinha podem ser constru?dos em Portugal. Mas existe uma forte convic??o que os que podem ser constru?dos com as capacidades tecnol?gicas existentes, devem fazer unir os esfor?os das institui??es e das empresas envolvidas para que tais empreendimentos sejam um sucesso e permitam que esses navios possam constituir uma montra do que a Engenharia e Ind?stria portuguesas podem realizar. A corrente situa??o com os patrulhas oce?nicos n?o deve levar ao des?nimo. H? que analisar o que se passou e actuar de forma a que este pesadelo seja rapidamente ultrapassado e substitu?do por outros

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