UM OLHAR SOBRE O BRASIL: ANÁLISE DE NOTÍCIAS DO JORNAL THE NEW YORK TIMES1

UM OLHAR SOBRE O BRASIL: AN?LISE DE NOT?CIAS DO JORNAL THE NEW YORK TIMES1

Bruno C?sar Brito VIANA2 Sebasti?o Guilherme Albano da COSTA3 Departamento de Comunica??o Social -UFRN

Resumo

A realidade sobre fatos ocorridos em um pa?s estrangeiro pode ser facilmente acessada pelos registros feitos por jornais de grande alcance global como o The New York Times. Geralmente, os leitores de tais jornais n?o possuem contato f?sico com os acontecimentos, muito menos conhecimento cultural sobre a na??o estrangeira. O objetivo deste trabalho ? identificar quais imagens s?o difundidas pelo jornal The New York Times a respeito do Brasil, no per?odo de Janeiro a Mar?o de 2010. A metodologia consiste na an?lise das not?cias, a partir da perspectiva da An?lise Cr?tica do Discurso e das Teorias do Jornalismo.

Palavras-Chave: Brasil; Estados Unidos; Jornalismo; The New York Times.

Introdu??o

Contempor?neos que possuem muitas diferen?as, mas que tamb?m partilham algumas semelhan?as, Brasil e Estados Unidos mant?m uma rela??o est?vel ao longo dos anos. Entretanto, a imagem da na??o Brasileira como um pa?s violento, ex?tico e problem?tico ainda ? forte nos Estados Unidos. Tais concep??es podem ser verificadas nas elabora??es jornal?sticas de ve?culos norte-americanos. A imagem constru?da sobre o Brasil, por meio das not?cias do The New York Times, no per?odo de Janeiro a Mar?o de 2010, ? o tema deste trabalho. Pode se observar que as representa??es s?cio-culturais expostas pelo jornal, por meio de suas not?cias, apresentam o Brasil e seu povo ao p?blico estrangeiro e que tais representa??es influenciam na forma pela qual o pa?s ? visto pelo outro. A problem?tica est? em tentar identificar quais imagens s?o difundidas pelo jornal The New York Times a respeito do Brasil. Para tanto, ? levantada a hip?tese de que o Brasil ? apresentado como um pa?s inferior em rela??o aos Estados Unidos, ex?tico e com muitos problemas internos, mas que tem sido reconhecido por avan?os na ?rea econ?mica.

Para realizar a an?lise proposta por este trabalho foi constitu?do um corpus com not?cias extra?das do The New York Times publicadas na vers?o impressa do jornal. O crit?rio de sele??o foi por not?cias que tenham o Brasil como tema principal, ou que mesmo sobre outro tema, venham a discorrer de forma significativa sobre a na??o brasileira. Nove not?cias comp?em o corpus de an?lise, que foram divididas em categorias, conforme as editorias e as tem?ticas trabalhadas. As categorias estabelecidas

1 Trabalho apresentado no GT ? Linguagem, M?dia e Produ??o de Sentido da XIX Semana de Humanidades realizada de 7 a 9 de junho de 2011. 2 Estudante de Comunica??o Social da UFRN, email: brvuno.viana@ 3 Professor Doutor do curso de Comunica??o Social da UFRN, email: sgac@ufrnet.br

foram: Conflitos/Desastres, Pol?tica, Economia, Esportes e Cotidiano. A maior parte das mat?rias, tr?s ao todo, est? enquadrada na categoria Conflitos/Desastres, sendo not?cias sobre crimes, quest?es de seguran?a p?blica e desastres. O objetivo principal ? investigar a representa??o do Brasil feita pelo jornal e descobrir de que forma o pa?s est? sendo mostrado e por quais imagens. Dentro dos objetivos espec?ficos est? mapear tais imagens e relacion?-las com a constru??o da realidade Brasileira, como um todo, feita pelo jornal. A metodologia foi definida ap?s a coleta de dados e a delimita??o do corpus.

As not?cias publicadas no The New York Times, nos tr?s primeiros meses de 2010 sobre o Brasil, foram analisadas a partir da perspectiva da An?lise Cr?tica do Discurso (ACD), tendo como embasamento te?rico principal os estudos realizados por Fairclough (1995, 2001), Charaudeau (2006), Van Dijk (1990), Wodak (2003) Sousa (2004) e Traquina (2005). A an?lise das mat?rias selecionadas se d? por meio da macroestrutura, apontando os enquadramentos e que temas e subtemas foram abordados pelo jornal e como se construiu a teia discursiva nessas tem?ticas. Al?m da An?lise Cr?tica do Discurso, tamb?m s?o utilizadas as Teorias do Jornalismo, notadamente as Teorias de A??o Pol?tica (vers?o esquerda), Teoria Organizacional e a Teoria Estruturalista. A An?lise Cr?tica do Discurso (ACD) pode ser definida como um campo fundamentalmente interessado na an?lise de rela??es estruturais, transparentes de discrimina??o, poder e controle, manifestas na linguagem. Em outras palavras, a ACD almeja investigar criticamente como a desigualdade social ? expressa, sinalizada, constitu?da, legitimada, atrav?s do uso da linguagem ou no discurso. O te?rico Norman Fairclough (2001) defende o discurso como pr?tica pol?tica e ideol?gica. Como pr?tica pol?tica, o discurso estabelece, mant?m e transforma as rela??es de poder e as entidades coletivas em que existem tais rela??es. Como pr?tica ideol?gica, o discurso constitui, naturaliza, mant?m e tamb?m transforma os significados de mundo, nas mais diversas posi??es das rela??es de poder.

Conflitos/Desastres

A categoria Conflitos/Desastres apresenta o maior n?mero de not?cias, dentre o corpus de an?lise deste trabalho. Do total de nove not?cias sobre o Brasil, publicadas pelo The New York Times, de janeiro a mar?o de 2010, tr?s delas trazem tem?ticas sobre viol?ncia, desastres e problemas envolvendo a seguran?a p?blica. O Brasil ? exposto pelas not?cias desta categoria, a partir de uma imagem negativa, como violento e inoperante frente a alguns problemas.

Psicanaliticamente, a aten??o ao crime, aos acidentes, ? viol?ncia, etc., funcionaria como um sistema emocional de autodefesa: ao contemplarem-se express?es dos nossos pr?prios temores, o facto de serem outros a sofrer com as situa??es proporcionar-nos-ia tanto al?vio como tens?o. (VAN DIJK, 1990 apud SOUSA, 2002, p. 97).

J? na primeira not?cia do ano de 2010 que trata sobre o Brasil, o pa?s ? associando a mortes e destrui??o, tratando sobre um desastre ocorrido no dia de ano novo no estado do Rio de Janeiro. A segunda not?cia do ano sobre o Brasil, tem o t?tulo "With World Watching, Rio Focuses on Security" (Com o mundo assistindo, o Rio se concentra na Seguran?a ? Tradu??o nossa), publicada no dia 16 de janeiro de 2010,

p?gina A6 da editoria Am?ricas. A mat?ria foi escrita pelo correspondente do NY Times no Brasil, Alexei Barrionuevo, demarcado nesta an?lise como enunciador. Essa not?cia aponta o Brasil como estando ref?m de gangues de drogas. No dicurso ideol?gico, ? posto que o pa?s est? agindo na ?rea de seguran?a, apenas, por press?o internacional, j? que ir? sediar importantes eventos como a Copa do Mundo e as Olimp?adas.

(1) The campaign is an expansion of a police "pacification program" that began in late 2008. It comes as Brazilian officials are feeling the weight of international scrutiny after being chosen to host both the World Cup and the 2016 Olympic Games. (A campanha ? uma expans?o de um "programa de pacifica??o" da pol?cia, que come?ou no final de 2008. Ele vem como as autoridades brasileiras est?o sentindo o peso do escrut?nio internacional depois de ter sido escolhido para sediar a Copa do Mundo e os Jogos Ol?mpicos de 2016. ? Tradu??o nossa ? With World Watching, Rio Focuses on Security, 16 de Janeiro de 2010.)

No exemplo (1) acima, est? exposto o par?grafo da not?cia em que o enunciador coloca, explicitamente, sua posi??o a respeito da opera??o da pol?cia. A expans?o do "programa de pacifica??o" acontece agora, devido ? press?o que as autoridades brasileiras est?o sentindo, segundo o enunciador coloca como sendo o "peso do escrut?nio internacional". Tudo isso, porque agora o Brasil ? o pa?s sede de dois importantes eventos ? "a Copa do Mundo e os Jogos Ol?mpicos de 2016".

(2) With international scrutiny rising, Mr. Cabral also recently reached out to Rudolph W. Giuliani, the former mayor of New York City. "We are discussing the possibility of Giuliani consulting for Rio" on security issues, Mr. Cabral said. (Com a crescente aten??o internacional, o Sr. Cabral tamb?m recentemente estendeu a m?o para Rudolph W. Giuliani, o ex-prefeito de Nova York. "Estamos discutindo a possibilidade de consultar Giuliani para o Rio" sobre quest?es de seguran?a, disse Cabral. Tradu??o nossa ? Ibid.)

Conforme mostra o exemplo (2) acima, o enunciador volta a refor?ar o enquadramento evidenciado em toda not?cia, ao afirmar que o Rio est? sob uma "crescente aten??o internacional". Esse enquadramento passa ao leitor a mensagem que o governo brasileiro s? est? agindo, devido ? press?o internacional. Pela Intertextualidade, discurso direto, ? exposta a fala do governador do Estado do Rio de Janeiro, S?rgio Cabral, que afirma a possibilidade de consultar o ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, para pedir ajuda sobre quest?es relativas ? seguran?a. Essa cita??o posta no texto traz, por meio da Interdiscursividade, o discurso pol?tico sobre rela??es de poder. Neste caso, o Brasil ? posto, implicitamente, como inferior aos Estados Unidos, j? que precisa recorrer ao pa?s norte-americano, para pedir ajuda na solu??o de problemas internos, como a seguran?a p?blica. Os acontecimentos e as id?ias n?o s?o apresentados de forma neutra e objetiva na m?dia, mas constituem vers?es que dependem de valores, cren?as e objetivos daqueles que as produzem.

No decorrer das mat?rias, o Brasil continua a ser estereotipado de forma negativa, por meio do crime. Al?m disso, s?o apontados diversos problemas internos vivenciados pela popula??o brasileira, que al?m da viol?ncia, tamb?m incluem a corrup??o, baixos sal?rios e a inoper?ncia das Institui??es p?blicas, como a Marinha. Os

discursos pol?ticos apontam o Brasil como inferior aos Estados Unidos e ao Canad?, pois precisa da ajuda desses pa?ses norte-americanos para solucionar quest?es nacionais.

Pol?tica

Duas not?cias comp?em a categoria Pol?tica. As tem?ticas trabalhadas, pelas mat?rias desta categoria, mostram o Brasil como um pa?s problem?tico, al?m de expor os Estados Unidos numa posi??o de superioridade em rela??o ao Brasil. Por meio das constru??es discursivas, o enunciador mostra o Brasil como um pa?s com diversos problemas internos, como a pobreza, mis?ria extrema e a corrup??o. A primeira delas ? a "New Film May Sway Brazil's Vote on President" (Novo filme pode balan?ar o voto do Brasil para Presidente ? Tradu??o nossa), publicada no dia 12 de janeiro de 2010, na p?gina A4 da Editoria Americas do The New York Times. A not?cia ? escrita pelo correspondente do NY Times no Brasil, Alexei Barrionuevo, tratado na an?lise como enunciador. Nessa mat?ria, o governo brasileiro enquanto Institui??o tem sua credibilidade contestada no texto. O discurso pol?tico-ideol?gico sobre a perpetua??o no poder do Partido dos Trabalhadores (PT) exp?e ainda o Brasil como uma terra em que tudo ? poss?vel, para permitir a manuten??o no poder ? desde a produ??o de filmes para persuadir a popula??o, como acordos e corrup??o entre governo e setores da sociedade.

Nos textos, as diferen?as discursivas se negociam. Est?o regidas por diferen?as de poder que se encontram, por sua vez, parcialmente codificadas no discurso e determinadas por ele e pela variedade discursiva. Como conseq??ncia, os textos s?o com freq??ncia arenas de combate que mostram as pistas dos discursos e das ideologias encontradas que contenderam e batalharam pelo predom?nio (WODAK, 2003, p.31 - tradu??o nossa).

A not?cia acima citada traz explicitamente o ponto de vista do jornal, acerca do longa-metragem ? uma produ??o realizada em ano eleitoral com interesses pol?ticos ? conforme est? exposto no exemplo (3).

(3) The story stops before Mr. da Silva's political career takes off. But that has not stopped politicians and other critics from questioning the intentions of the producers, who released the film during a presidential election year. "Everything about this film is political," said Amaury de Souza, a political analyst in Rio de Janeiro. "You are not just doing a movie about an ordinary Brazilian."(A hist?ria termina antes da carreira pol?tica de Lula decolar. Mas isso n?o impediu os pol?ticos e outros cr?ticos de questionarem as inten??es dos produtores, que lan?aram o filme durante um ano de elei??o presidencial. "Tudo neste filme ? pol?tico", disse Amaury de Souza, analista pol?tico no Rio de Janeiro. "Voc? n?o est? apenas fazendo um filme sobre um brasileiro comum". ? Tradu??o nossa - New Film May Sway Brazil's Vote on President, 12 de Janeiro de 2010.)

A presen?a de vozes de enunciadores indiretos ? uma pr?tica comum e bastante utilizada nessa not?cia, no sentido de atestar as id?ias que formam o enquadramento da mat?ria. Ao afirmar que o filme termina antes da carreira de Lula come?ar, o enunciador p?e em debate que "pol?ticos e outros cr?ticos" - sem especificar quem seriam eles ? questionam o lan?amento do filme em um ano eleitoral. Apesar de atribuir seu

pensamento a grupos an?nimos n?o identificados, quando fala do questionamento de "pol?ticcos e outros cr?ticos", o enunciador traz a cita??o de Amaury de Souza, um analista pol?tico. O analista pol?tico citado na mat?ria destaca que n?o ? um filme sobre um brasileiro comum e que tudo na produ??o ? "pol?tico".

(4) Although Mr. da Silva is barred from running for re-election, he hopes to transfer his popularity to his chief of staff and his chosen successor, Dilma Rousseff. Beyond any lift for Ms. Rousseff, who has struggled with name recognition, political analysts see the film as a part of a reordering of the "myth of Lula" that could help him return to power in 2014. (Embora o Sr. da Silva esteja impedido de concorrer ? reelei??o, ele espera transferir sua popularidade para sua chefe de pessoal e sua sucessora escolhida, Dilma Rousseff. Al?m de qualquer apoio para Rousseff, que tem lutado para o reconhecimento de seu nome, os analistas pol?ticos v?em o filme como parte de um reordenamento do "mito de Lula", que poderia ajud?-lo a voltar ao poder em 2014. ? Tradu??o nossa ? Ibid.)

No exemplo (4) est? demarcado de forma expl?cita o macro-enquadramento defendido em todo o texto. ? posto que o presidente Lula espera "transferir sua popularidade" para a ministra Dilma Roussef, candidata e "sucessora escolhida" por Lula. Dilma ? posta na not?cia como desconhecida, que luta pelo reconhecimento de seu nome. Mais uma vez, o enunciador reccore a grupos desconhecidos para corroborar suas id?ias, quando afirma que "analistas pol?ticos" ve?m no filme um "reordenamento" do "mito de Lula" que pode ajud?-lo numa eventual "volta ao poder em 2014". Ainda em not?cias da categoria Pol?tica, a mat?ria "Quake Overshadows Clinton Tour of Region" (Terremoto ofusca a turn? de Clinton pela regi?o ? tradu??o nossa) ? o segundo objeto de an?lise. Publicada no dia 01 de Mar?o de 2010, na editoria Americas, p?gina A6 do The New York Times, a not?cia foi escrita pelo correspondente do NY Times no Brasil, Alexei Barrionuevo, no Rio de Janeiro, e por Ginger Thompson, em Washington, ambos demarcados na an?lise por "enunciador". Essa mat?ria apresenta uma complicada rela??o entre Brasil e Estados Unidos, por conta do Ir?. Escolhas de voc?bulos como "pressionar" s?o utilizadas para informar sobre a a??o dos EUA frente ao Brasil., conforme exp?e o exemplo (5) abaixo:

(5) For the United States, one of the most critical meetings will be in Brazil, where Mrs. Clinton will press President Luiz In?cio Lula da Silva to vote for stiffer sanctions against Iran at the United Nations Security Council. The sanctions are meant to pressure Iran into ending its nuclear program, which the United States says it believes is intended to produce weapons. (Para os Estados Unidos, um dos encontros mais cr?tico ser? no Brasil, onde a Sra. Clinton vai pressionar o presidente Luiz In?cio Lula da Silva para votar san??es mais duras contra o Ir? no Conselho de Seguran?a das Na??es Unidas. As san??es s?o destinadas a pressionar o Ir? a encerrar seu programa nuclear, que os Estados Unidos dizem que acreditam se destinar ? produzir armas. ? Tradu??o nossa - Quake Overshadows Clinton Tour of Region, 01 de Mar?o de 2010..)

O Brasil ? tratado de forma especial na mat?ria. Por ser um pa?s l?der na Am?rica Latina e com uma economia forte, o Brasil tem ganhado destaque no cen?rio mundial. Tanto que se posiciona contra as san??es ao Ir?, propostas pelos Estados Unidos ao Conselho de Seguran?a da Na??es Unidas. Por esse motivo em especial, o

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