Gramática Essencial de Interlingua

Gram?tica Essencial de

Interlingua

em Portugu?s

Cl?udio Rinaldi

Edi??o revisada e ampliada ? 2018

GRAM?TICA ESSENCIAL DE INTERLINGUA EM PORTUGU?S? CL?UDIO RINALDI

Conte?do

O que ?, como surgiu e para que serve Interlingua? 1. Sons e letras 2. Os seres e seus atributos 3. Tudo sobre os verbos 4. Palavrinhas ?teis 5. Fa?a as contas 6. Em outras palavras 7. Arranjos e desarranjos 8. Museu de Interlingua 9. Um novo estilo 10. Interlingua para os poetas Ep?logo

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O que ?, como surgiu e para que serve Interlingua?

Ao longo das d?cadas de 1930 e 1940, linguistas de diversas universidades europeias e norte-americanas analisaram juntos alguns projetos de l?nguas auxiliares internacionais, a fim de avaliar qual deles poderia ser vi?vel caso o mundo decidisse adotar uma l?ngua comum de interc?mbio que fosse planejada em vez de ?tnica. Os projetos mais famosos at? ent?o eram o Esperanto (1887), o Latino sine Flexione (1903), o Ido (1907) e o Occidental (1922). Al?m desses, existiam centenas de outros, em geral jamais usados por ningu?m al?m de seus pr?prios inventores.

A entidade que patrocinava esses linguistas chamava-se International Auxiliary Language Association e tinha sede nos Estados Unidos. Ap?s alguns anos, chegou-se ? conclus?o de que nenhum desses projetos de l?ngua era suficientemente adequado para a finalidade a que se propunha. O Ido era uma vers?o revisada e aperfei?oada do Esperanto, e o Occidental mesclava a gram?tica regular do Ido com o vocabul?rio do Latino sine Flexione, que por sua vez utilizava apenas termos de origem greco-latina e palavras de curso internacional. Andr? Martinet, um dos diretores da IALA, acreditava que a solu??o talvez passasse por uma reforma do Occidental, a l?ngua constru?da que mais se aproximava dos crit?rios apurados pelos linguistas da pr?pria associa??o. A essa altura, a IALA j? trabalhava com algumas alternativas de gram?tica e vocabul?rio e j? tinha definido que a melhor forma de construir uma l?ngua internacional inclu?a o aproveitamento da heran?a cultural greco-latina, comum ?s l?nguas do Ocidente e presente tamb?m, ainda que em menor propor??o, em l?nguas de todo o mundo.

Ao tornar-se diretor da IALA, Alexander Gode deu a Interlingua a forma com que ela foi publicada pela primeira vez, em 1951. Foram estabelecidas cinco "l?nguas de controle": ingl?s, franc?s, italiano, espanhol e portugu?s. Para pertencer ? lingua internacional, uma palavra tem de estar presente na maioria dessas l?nguas. Se isso n?o for poss?vel, verifica-se tamb?m se a palavra existe em alem?o ou em russo, que servem como l?nguas de consulta. Se ainda assim n?o for encontrada uma palavra adequada, escolhe-se uma palavra do latim ou de alguma das l?nguas de controle ? esse ?ltimo recurso mostrou-se necess?rio para certas palavras gramaticais como pronomes, preposi??es e conjun??es, que s?o muito diferentes de uma l?ngua natural para outra, ainda que se trate de l?nguas da mesma fam?lia. O procedimento n?o se limita a palavras de origem greco-latina; palavras como vodka ou sushi, por exemplo, fazem parte de Interlingua porque foram adotadas pela maioria das l?nguas de controle. Essas l?nguas, por serem amplamente estudadas em diversas partes do mundo, atestam a internacionalidade de determinada palavra.

? medida que ganha adeptos e ? praticada, Interlingua evolui como qualquer outra l?ngua. Novas palavras s?o incorporadas ? exemplos mais ou menos recentes s?o virtual, global, e-posta, genoma, cybercaf?, tsunami ?, ao passo que outras caem em desuso. Muitos latinismos que eram correntes antigamente, quando o ensino de latim ainda vigorava nas escolas, acabaram substitu?dos naturalmente por palavras emprestadas das l?nguas de controle. Sempre que a gram?tica n?o estabelece regras claras sobre algum ponto em d?vida, a? est?o as l?nguas de controle, que podem e devem ser consultadas. Se essas regras s?o complicadas ou arcaicas, os pr?prios usu?rios acabam por simplific?-las e moderniz?-las, ?s vezes sem sequer se dar conta disso, exatamente como numa l?ngua natural viva. Em Interlingua, o mais importante ? a intercomunica??o, o interc?mbio entre pessoas que falam l?nguas diferentes, independente de purismo lingu?stico ou corre??o gramatical. Sua fun??o ? a mesma que

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o latim teve um dia e que o ingl?s tem hoje, com a vantagem de que Interlingua requer menos tempo de estudo e soa familiar a qualquer pessoa que conhe?a uma de suas l?nguas de controle, ainda que superficialmente. Al?m disso, Interlingua n?o ? a l?ngua materna de ningu?m, mas uma heran?a cultural comum a toda a civiliza??o ocidental.

A raz?o de ser desta gram?tica

Interlingua foi publicada em 1951 por meio de duas obras: Interlingua Grammar e Interlingua-English Dictionary. Um ano antes tinha falecido Alice Vanderbilt Morris, a principal patrocinadora da IALA, e a institui??o se viu sem fundos para promover adequadamente a l?ngua auxiliar que havia projetado. Essas duas obras est?o dispon?veis na p?gina eletr?nica mantida pela Union Mundial pro Interlingua e podem ser consultadas gratuitamente por qualquer interlinguista que saiba ingl?s.

Iniciativas individuais e coletivas produziram gram?ticas de Interlingua em v?rias l?nguas nacionais, inclusive em portugu?s, mas poucas delas est?o dispon?veis na Internet. A maioria saiu publicada apenas em papel e s? pode ser obtida atrav?s de organiza??es nacionais nem sempre equipadas para atender adequadamente aos interessados que as procuram.

N?o raro, tenho recebido pedidos de orienta??o sobre como encontrar gram?ticas e dicion?rios em portugu?s. Para uso pessoal, disponho de tr?s obras impressas que adquiri da Uni?o Brasileira pr? Interlingua por volta do ano 2000: Dicion?rio Portugu?s-Interlingua, de Euclides Bordignon; Dicion?rio Interlingua-Portugu?s, de Waldson Pinheiro; e Gram?tica de Interlingua em 30 li??es, de Rui Rabelo Mariano. Exce??o feita ao bom dicion?rio de Euclides Bordignon, s?o obras bastante incompletas, incapazes de saciar as d?vidas de um estudante mais aplicado.

Por essa raz?o, lancei-me ? tarefa de compor essa gram?tica um pouco mais aprofundada e, sobretudo, modernizada, condizente com o uso contempor?neo de Interlingua. N?o pretendo com ela impor regras r?gidas e imut?veis, mas antes descrever as pr?ticas mais correntes e as m?ltiplas possibilidades de uma l?ngua auxiliar que, insisto, tem como objetivo e raz?o de ser a comunica??o entre pessoas de nacionalidades diversas. O estudante que j? se dedicou a outras l?nguas, ?tnicas ou planejadas, talvez estranhe a liberalidade de Interlingua, em que nem tudo se resolve com um r?tulo de certo ou errado, de bom ou ruim. Isso n?o quer dizer, contudo, que Interlingua n?o tenha regras, que seja uma miscel?nea de palavras enfileiradas de forma aleat?ria. Alguns princ?pios saud?veis e necess?rios devem ser respeitados, e s?o esses princ?pios que ser?o expostos ao longo desta gram?tica.

Contei com a colabora??o de alguns interlinguistas brasileiros e portugueses, que me auxiliaram com a revis?o e me forneceram pistas valiosas sobre a melhor maneira de abordar determinados temas, sobretudo os mais controversos. Agrade?o por esse aux?lio a Aender dos Santos, Gon?alo Neves, Ramiro Castro, Carlos Soreto e Erick Fishuk. Permane?o ? disposi??o para receber sugest?es ou cr?ticas que possam ser aproveitadas para melhorar esta gram?tica.

Cl?udio Rinaldi Dezembro de 2012

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1. Sons e letras

Interlingua usa o alfabeto ocidental de 26 letras, o mesmo que se usa para o portugu?s. N?o se usam sinais diacr?ticos como acentos, til ou cedilha, a n?o ser em nomes pr?prios e em raras palavras emprestadas que n?o sofreram nenhum tipo de adapta??o (p.ex. Cura?ao, S?o Paulo, caf?, ca?on, k?mmel). Algumas letras podem ser pronunciadas de duas maneiras, segundo a prefer?ncia do usu?rio. O quadro a seguir mostra as pron?ncias oficiais, aceitas como corretas pela Interlingua Grammar. Varia??es a essa norma ser?o apresentadas mais adiante.

Letra

A B

C D E F

G H I

Nome da letra a be ce

de e ef ge

hacha i

J

jota

K

ka

L

el

M

em

N

en

O

o

P

pe

Q

ku

R

er

S

es

T

te

U

u

V

ve

W duple ve

X

ix

Y ypsilon ou

i grec

Z

zeta

Fonema

Notas

/a/ /b/ /k/ /s/, // /d/ /e/, // /f/ /g/ //, // /-/, /h/ /i/ /j/ //, // /k/ /l/ /m/ /n/ /o/, // /p/ /k/ // /s/ /z/ /t/ /s/, // /u/ /w/ /v/ /w/ /ks/, /gz/ /i/ /j/ /z/

sempre aberto antes de a o u antes de e i y sem distin??o de timbre aberto ou fechado com som de "gu?": agente /ag?nte/ somente no sufixo -age e mais algumas palavras pode ser mudo ou aspirado junto de outra vogal: filio /f?ljo/

sem distin??o de timbre aberto ou fechado

sempre como em caro: rapide /?pide/ entre duas vogais: rosa /?za/; em transnas s?labas ?tonas tia, tie, tio n?o precedidas por s junto de outra vogal: aqua /?kwa/

mexican /meksik?n/, exemplo /egz?mplo/ id?ntico ? vogal i: physica /f?zika/ junto de outra vogal: yogurt /jog?t/

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