VARIAÇÃO FONOLÓGICA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO - UFS

Aula 10

VARIA??O FONOL?GICA DO PORTUGU?S BRASILEIRO

META

Demonstrar a import?ncia do estudo da varia??o na fala de uma comunidade e sua rela??o no mecanismo da mudan?a lingu?stica.

OBJETIVOS

Ao final desta aula, o aluno dever?: reconhecer no portugu?s brasileiro as principais varia??es fonol?gicas

das vogais post?nicas; das vogais pret?nicas; das consoantes posvoc?licas.

PR?-REQUISITO

Aula 5,6,7 e 8

Denise Porto Cardoso

Fonologia da L?ngua Portuguesa

INTRODU??O

Os Par?metros Curriculares Nacionais ? PCN defendem que ensinar ? produzir e promover conhecimento. Nessa perspectiva podemos compreender o ensino de l?ngua portuguesa como capaz de promover a produ??o do conhecimento, devido ? necessidade de intera??o social dos indiv?duos e a rela??o deles com o conhecimento. Essa dimens?o de ensino de l?ngua portuguesa pressup?e considerar a l?ngua em sua dimens?o heterog?nea, ou seja, deve-se levar em considera??o a sua heterogeneidade, a sua diversidade, mas deve-se considerar tamb?m os falantes que a utilizam porque a l?ngua se presta a numerosas formas de uso. Essas formas de uso dependem do meio social, ou socioecon?mico, ou cultural dos falantes, ou da situa??o de comunica??o nas quais os falantes se encontram. ? importante ressaltar que do ponto de vista lingu?stico, temos apenas diferentes usos porque as pessoas n?o falam da mesma maneira.

(Fonte: ).

VARIA??O FONOL?GICA

Fatores lingu?sticos (posi??o das palavras na frase, a ?nfase a determinados elementos, as rela??es de concord?ncia que se estabelecem entre v?rios elementos da frase, o uso de pronomes etc.) e extralingu?sticos (sexo, faixa et?ria, n?vel de escolaridade, situa??o socioecon?mica, profiss?o, situa??o de comunica??o etc.) podem interferir no uso da l?ngua. Para Labov, a exist?ncia de varia??es e estruturas heterog?neas nas comunidades lingu?sticas ? uma realidade.

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Varia??o Fonol?gica do Portugu?s Brasileiro

Aula 10

Em princ?pio, uma l?ngua apresenta, pelo menos, tr?s tipos de diferen?as internas, que podem ser mais ou menos profundas: 1. diferen?as de espa?o geogr?fico ou varia??o diat?pica (falares locais, variantes regionais); 2. diferen?as entre as camadas socioculturais ou varia??o diastr?tica (n?vel culto, n?vel popular, l?ngua padr?o etc) e 3. diferen?as entre os tipos de modalidade expressiva (l?ngua falada, l?ngua escrita, liter?ria, linguagem formal, coloquial, linguagens especiais, linguagem dos homens, das mulheres etc) ou varia??o diam?sica.

As principais regras fonol?gicas de varia??o no portugu?s brasileiro ocorrem na posi??o p?s-voc?lica da s?laba. ? muito importante observar que as vogais m?dias /e/ e /o/ s?o geralmente pronunciadas [+] e [7] em s?labas ?tonas, pret?nicas ou post?nicas, principalmente as ?tonas finais. Conforme vimos na aula 07, quando da classifica??o das vogais, segundo o prof. Mattoso C?mara Jr., em posi??o ?tona final ocorre uma neutraliza??o entre a vogal alta (/i/ e /u/) e a m?dia(/e/ e /o/) em proveito da alta. Assim ? que em palavras como `marte', `parto', as vogais /e/ e /o/ finais s?o sempre pronunciadas [+] e [7]. Isso acontece em todo o Brasil, em todas as classes sociais, em qualquer grau de escolaridade, entre homens e mulheres. Portanto n?o h? discrimina??o quanto a essa variante; todos n?s a usamos. N?o ? preciso repetir que as m?dias de 1? grau (/'/ e /n/) nunca aparecem entre as ?tonas finais. Nas post?nicas n?o finais, pode ocorrer neutraliza??o ou n?o. Aqui no Nordeste muitas vezes pronunciamos abertas as vogais `e' e `o' em palavras como `n?mero' ['num'47]e `p?rola' [p'4nl]. Sabemos que essas mesmas palavras s?o, na maioria das vezes, pronunciadas como [nuner7] e [p'4ol] ou [numi47] e [p'4ul]. Por isso o prof. Ricardo Cavaliere afirma que

n?o h? registro no portugu?s do Brasil de vogais m?dias de primeiro

grau (/'/ e /n/) nesta posi??o. Uma pron?ncia [num'47] ou

[p'4nlc] decerto n?o seria acatada como variante orto?pica pelo falante do portugu?s, raz?o por que n?o se h? de falar, neste caso, em neutraliza??o entre as m?dias de segundo e primeiro grau, sen?o em verdadeira impossibilidade de ocorr?ncia dessas ?ltimas. (CAVALIERE, 2005, p. 81.)

Mas n?s sabemos que essas pron?ncias ocorrem aqui em Sergipe, apesar do que diz o prof. Cavaliere. ? claro que, como ? uma caracter?stica nordestina, ? muito desprestigiada. Entretanto, mesmo no Sul e Sudeste do Brasil, encontramos palavras em que ocorrem n?o apenas as m?dias de segundo grau ( /e/ e /o/ ), mas principalmente as m?dias de 1? grau (/'/ e /n/) quando antecedem a um tepe (/4/). Exemplo: ?pera, c?mera, frut?fero pronunciadas [np'4c], [kam'4c], [f4utif'47]. Outro ponto a assinalar nas ?tonas post?nicas n?o finais ? em rela??o ? exist?ncia ou n?o de neutraliza??o das anteriores /e/ pelo /i/. Sabemos que o prof. Mattoso

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Fonologia da L?ngua Portuguesa

C?mara Jr. afirma que h? apenas neutraliza??o do /o/ pelo /u/. Entretanto estudos recentes pautados no modelo variacionista, demonstram que h? neutraliza??o tanto do /o/ pelo /u/ quanto do /e/ pelo /i/, conforme assinala a prof?. Leda Bisol, "os resultados da an?lise estat?stica apontam ... que na pauta da post?nica n?o final, a eleva??o de ambas as vogais vem ocorrendo,...(BISOL, 2002, p.130).

Passemos agora para a ocorr?ncia das ?tonas pret?nicas. Em rela??o ?s vogais pret?nicas orais m?dias (/e/, /'/, /o/, /n/), verificamos que desaparece a distin??o entre /e/ e /'/ e entre /o/ e /n/. Aqui no Nordeste n?s optamos pela pron?ncia aberta em palavras como negado [n''gad7] e podado [pndadu], enquanto na regi?o Sul e Sudeste eles optam pela pron?ncia fechada [ne'gad7] e [po'dad7]. Por isso mesmo, encontramos nos trabalhos sobre fon?tica, a caracter?stica da abertura das pret?nicas para a fala do nordestino. Mas isso n?o ? tudo, veja o que dizem as professoras Yonne Leite e Dinah Callou:

A op??o por uma vogal baixa aberta, ['] ou [n], ou alta fechada, [i] ou [u], obedece a condicionamentos estruturais e sociais, sutilezas que passam desapercebidas aos falantes e ouvintes. O primeiro condicionamento ? a presen?a de uma vogal alta ou baixa na s?laba acentuada, como em c[u]ruja e p[i]rigo, em vez de coruja e perigo, P['] l? e b[n]lota, em vez de Pel? e bolota. As consoantes adjacentes s?o tamb?m condicionadoras do processo de eleva??o. A lateral palatal, grafada lh, tem o efeito de alterar a vogal (c[7]lher e m[+]lhor). As consoantes labiais (p/b, f/v, m) provocam a eleva??o apenas de o, como em m[7]leque, b[7]neca, apesar da presen?a em s?laba t?nica de uma vogal aberta. A vogal pret?nica da palavra melhor chega, em algumas ?reas, a admitir as tr?s pron?ncias, m[e]lhor, m[+]lhor e m['] lhor, a primeira, em que nenhuma regra se aplica, j? que a eleva??o e abaixamento s?o processos facultativos, a segunda, em que atua a consoante lh, e a terceira em que o fator condicionante ? a vogal aberta da s?laba t?nica (LEITE; CALLOU 2002, p. 41)

Em rela??o ?s vogais nasais /~e/ e /?/, observamos que apenas o /~e/ pode ser pronunciado /+~/ como em `encolhido' e `encontro' pronunciados [ ~+kuid7] ou [~+kolhid7], [~+k?tr7], mas ? dif?cil encontrarmos embelezar com a pron?ncia [+~ belezar]. ? mais f?cil encontrarmos [~eb'l'zah] ou [e~belezah], n?o ? mesmo?

Passemos agora para as consoan~tes em posi??o posvoc?lica. Em todas as regi?es do Brasil, o T p?s-voc?lico, ? normalmente suprimido, nos infinitivos verbais (amar > am?; saber > sab?; sentir > senti), nas formas do futuro do subjuntivo: ( se eu estiver > estiv?; se ele quiser > quis?; se ela fizer > fiz?), nos substantivos ( amor > am?); nos adjetivos ( melhor > melh?); e nos adv?rbios ( devagar > devag?).

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Varia??o Fonol?gica do Portugu?s Brasileiro

Aula 10

(Fonte: ).

Quando o suprimimos, alongamos a vogal final e damos mais intensidade a ela. A regra de supress?o do /r/ nos infinitivos d? origem a uma hipercorre??o (fen?meno que voc? j? conhece) que resulta em constru??es assim: "Jo?o *estar muito quieto hoje". Esta, como qualquer outra hipercorre??o, decorre de uma hip?tese malsucedida. O falante da l?ngua, quando suprime um /r/ em infinitivo verbal ao escrever, faz isso porque na l?ngua oral ele j? n?o usa mais esse r. Ent?o, ao produzir uma forma como est?, da terceira pessoa do singular do indicativo presente, imagina que nela tamb?m haveria um /r /que foi igualmente suprimido, e acrescenta esse suposto r, incorrendo numa hipercorre??o. (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 85)

A vocaliza??o do /l/ p?s-voc?lico, tanto em final de s?laba quanto em final de palavra, ? uma outra caracter?stica comum a todas as regi?es do Brasil exceto o Sul. Mesmo assim, "a pron?ncia vocalizada concorre em Porto Alegre com a pron?ncia velar/alveolar, com predom?nio da primeira entre os jovens, o que indicaria uma mudan?a em progresso..." (LEITE; CALLOU 2002, p. 47) Nas palavras parox?tonas terminadas em /l/, observamos tamb?m a supress?o desse fonema em estilos n?o-monitorados, principalmente quando est?o falando depressa. Para o ensino, a vocaliza??o do /l/ p?s-voc?lico torna-se um problema porque os alunos t?m de aprender a usar a letra `l' em palavras como sol, d?cil, cartel, total, a letra `u'em palavras como cacau, pauta, e a letra `o' em palavras como navio, pavio. Por isso sempre dizemos que ? preciso tempo para que a crian?a adquira a norma escrita.

Outro fonema que ocorre na posi??o p?s-voc?lica ? o /s/. Esse fonema ? representado graficamente pelas letras s, x, z, exemplo bis, metas, luz,

Ver gloss?rio no final da Aula

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