Olimpíadas e Paraolimpíadas Uma correlação com a mídia

Olimp?adas e Paraolimp?adas_ Uma correla??o com a m?dia

Prof. Mestre orientador M?rcio de Oliveira Guerra Graduanda Tatiane Hilgemberg Figueiredo

Vinculados ? Universidade Federal de Juiz de Fora e ? Faculdade de Comunica??o Social dessa institui??o.

Resumo

O presente estudo analisa a hist?ria das Olimp?adas e das Paraolimp?adas relacionando seus desenvolvimentos com o advento da cobertura midi?tica, e correlaciona essas duas modalidades de evento entre si. Por meio do estudo te?rico e da observa??o dos dados sobre a cobertura da m?dia dos Jogos Ol?mpicos e Paraol?mpicos tentamos comprovar a diferen?a de tratamento dado a cada evento, reflexo de uma sociedade que se diz inclusiva, mas que acaba se revelando discriminat?ria atrav?s da m?dia.

Palavras-chave

M?dia; Olimp?adas; Paraolimp?adas; discrimina??o.

Corpo do trabalho

1 Introdu??o Este estudo tem como finalidade analisar a hist?ria das Olimp?adas e das

Paraolimp?adas relacionando seus desenvolvimentos a partir da cobertura midi?tica, e correlacionar essas duas modalidades de evento entre si.

Os Jogos Ol?mpicos s?o um conjunto de provas esportivas de car?ter mundial, disputadas de quatro em quatro anos em cidades escolhidas; s?o, tamb?m "um espet?culo filmado e divulgado pelas televis?es".1

?Trabalho apresentado Encontros Especiais III: Intercom J?nior. ?M?rcio Guerra, formado em Comunica??o Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Especialista em Marketing pela Funda??o Educacional Machado Sobrinho. Mestre em Comunica??o e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutorando pela UFRJ, com previs?o de t?rmino da tese em 2006. Professor da UFJF, onde leciona para os cursos de Comunica??o e Turismo. Secret?rio de Imagem Institucional da UFJF. Ex-diretor, coordenador e chefe de departamento de Jornalismo da Faculdade de Comunica??o. Diretor de Programa??o da R?dio Universit?ria. ?Tatiane Hilgemberg Figueiredo, graduanda do 3? per?odo, da Faculdade de Comunica??o Social, da Universidade Federal de Juiz de Fora. Participou do II Encontro Regional de Comunica??o, do I F?rum das Comunica??es de Juiz de Fora e Regi?o, da Oficina de Publicidade: "O mercado em Juiz de Fora", e do Evento Fotografia em Foco, com palestras Fotojornalismo e Fotografia na publicidade. Integrou o Projeto de Extens?o "Cobertura das Elei??es 2004" com carga hor?ria total de 14 horas. Endere?o eletr?nico: tatizinhahf@.br 1BORDIEU, 1997, p. 123

Esse tamb?m pode ser considerado o conceito de Paraolimp?adas, entretanto, h? diferen?as. Os Jogos Ol?mpicos s?o divulgados intensamente, j? a cobertura dos Jogos Paraol?mpicos fica restrita a pequenas notas na m?dia, e a transmiss?o prec?ria das competi??es em alguns canais por assinatura.

Mostrar e analisar essa diferen?a entre a cobertura das Olimp?adas e das Paraolimp?adas ? um dos objetivos desta pesquisa. Assim como verificar a hip?tese de que os Jogos Ol?mpicos, ao contr?rio dos Jogos Paraol?mpicos, tornaram-se espet?culos pelo fato de que atletas transformam-se em mitos nacionais, enquanto paratletas transformam-se em s?mbolos de supera??o.

Analisaremos de que forma a comunica??o contribui para a inclus?o ou a exclus?o dos deficientes, e mostraremos a import?ncia da atua??o do jornalista no processo de desmistifica??o da defici?ncia, focando o trabalho na diferen?a de cobertura jornal?stica das Olimp?adas e das Paraolimp?adas.

2 Olimp?adas, Paraolimp?adas e Sociedade Nos anos de Olimp?adas e Paraolimp?adas, o mundo inteiro se rende aos

encantos e magia da abertura, dos diferentes esportes, da supera??o de tempo, espa?o e de limites. A m?dia tem grande parcela de responsabilidade nesse fato, uma vez que por tr?s do momento m?gico ol?mpico est?o as redes midi?ticas e seus patrocinadores exigindo reformas arquitet?nicas, ditando regras, impondo hor?rios e vestimenta. "Mas o que se observa claramente ? a tend?ncia do ser humano em criar her?is, endeusar pessoas, mitificar nomes". 2Qual o papel da m?dia nessa tarefa? O objetivo deste trabalho ? responder essa e outras quest?es.

A m?dia auxilia o desenvolvimento de ambos os eventos, na medida em que divulga as competi??es e os transforma em grandes espet?culos televisivos e radiof?nicos, principalmente; segundo Bourdieu "(...) a representa??o televisiva, embora apare?a como um simples registro, transforma a competi??o esportiva entre atletas origin?rios de todo o universo em um confronto entre campe?es (...) de diferentes na??es". 3Mas, os meios de comunica??o tamb?m atuam como meios excludentes, "pelo fato de que cada televis?o nacional d? tanto espa?o a um atleta ou a uma pr?tica

2 OLIVEIRA, 2004, p. 01 3 BORDIEU, 1997, p. 124

esportiva quanto mais eles forem capazes de satisfazer o orgulho nacional ou nacionalista".4

Estamos numa sociedade dita inclusiva, mas na qual o preconceito para com o deficiente ? ainda muito grande. Segundo Claudia Werneck5, "o preconceito da

sociedade em rela??o ? defici?ncia se revela de in?meras e discretas formas. O da m?dia

tamb?m". Os jornalistas t?m dificuldade em falar no assunto. Para Carlos Alberto Marques no deficiente est? incutido o arqu?tipo da

incapacidade, sem que "se busque conhecer o potencial desse indiv?duo", 6assim, de acordo com Ana Maria Morales Crespo "a m?dia reflete uma imagem t?o imprecisa e incompleta ? das pessoas com defici?ncia -, que torna imposs?vel reconhecer-se nela".7

A diferen?a b?sica, que pretendemos mostrar, entre Olimp?adas e Paraolimp?adas ? a cobertura. Enquanto os Jogos Ol?mpicos s?o divulgados ? exaust?o,

os Jogos Paraol?mpicos ficam relegados a uma ?nfima cobertura jornal?stica, n?o existem favoritos ao podium, nem mesmo dep?sito de confian?a e esperan?a nas

atividades esportivas desses atletas. Aqueles que conseguem uma imagem positiva na m?dia, devido as suas vit?rias, s?o tidos como s?mbolos de supera??o; de acordo com a

Coordenadora de comunica??o do CPB, Gisliene Hesse, "a m?dia ainda privilegia muito

a emo??o nas mat?rias sobre atletas com defici?ncia e falta o jornalista entender que o esporte paraol?mpico ? de alto rendimento" 8; e ? sociedade cabe "somente a fun??o de

reconhecer e aplaudir o sucesso daqueles que teriam vencido as suas pr?prias limita??es".9

Isso porque h? uma dificuldade de identifica??o e de proje??o, por parte dos telespectadores, com os atletas paraol?mpicos, o que n?o ocorre com rela??o aos ol?mpicos.

"(...) a cultura nacional, desde a escola, nos imerge nas experi?ncias m?tico-vividas do passado, ligando-nos por rela??es de identifica??o e proje??o aos her?is da p?tria, os quais tamb?m se identificam com o grande corpo invis?vel, mas vivo, que atrav?s dos s?culos de prova??es e vit?rias assume a figura materna (a M?e-P?tria, a quem devemos amor) e paterna (o Estado, a quem devemos obedi?ncia)". 10

A m?dia faz com que as pessoas tenham compaix?o por esses para-atletas, uma vez

que, segundo a imprensa, eles s?o "s?mbolos de supera??o". Portadores de qualquer

4 BOURDIEU, 1997, P. 123 5 WERNECK, 2000, p. 241 6 MARQUES, 2001, p. 55 7 CRESPO, 2000, p. 06 8 Brasil Paraol?mpico, ano VIII, n? 07 9 MARQUES, 2001, p. 66

10 MORIN, 1977, p. 15

defici?ncia ou doen?a "devem ganhar n?o a solidariedade, mas o respeito e a confian?a da m?dia".11Materiais jornal?sticos sobre esse assunto n?o devem causar compaix?o, mas levar a uma reflex?o.

Embora os atletas paraol?mpicos "mostrem talento e coragem para enfrentar os obst?culos da vida, a sociedade ainda acredita na sua incapacidade e os meios de comunica??o refletem essa mentalidade". 12A sociedade continua sem (in)forma??o para acreditar nas potencialidades dessas pessoas. A diferencia??o que os meios de comunica??o fazem entre as Olimp?adas e as Paraolimp?adas ? o maior exemplo de que a m?dia, como reflexo da sociedade (ou o inverso), constr?i uma realidade para ser consumida pelo p?blico, j? que mostrar a defici?ncia s? d? "ibope" se for em situa??es que explicitem o "ex?tico-humano".

3 Olimp?adas Paraolimp?adas

De quatro em quatro anos o maior evento esportivo do mundo, as Olimp?adas, movimentam bilh?es de d?lares; em Atenas, 2004, cerca de um bilh?o de d?lares foram gastos em direitos de transmiss?o de imagens e 16033 jornalistas cobriram o espet?culo. J? nas Paraolimp?adas, que receberam o t?tulo de segundo maior evento esportivo mundial, em Atenas apenas 3000 jornalistas fizeram a cobertura dos Jogos.

De acordo com a coordenadora de comunica??o do Comit? Paraol?mpico Brasileiro, Gisliene Hesse, "(...) a divulga??o do esporte paraol?mpico ainda n?o pode ser comparada com o ol?mpico, que se sobressai pela tradi??o e maior desenvolvimento"13. Ent?o, com a finalidade de que o movimento paraol?mpico tivesse ampla divulga??o e maior valoriza??o, o CPB (Comit? Paraol?mpico Brasileiro) contratou a produtora de v?deo ?ntegra Produ??es, coordenada por Marcos Malafaia, para captar, editar e transmitir gratuitamente imagens dos jogos de Atenas, para as emissoras brasileiras interessadas. Al?m disso, oito emissoras abertas e fechadas foram convidadas pelo Comit? para cobrirem a competi??o (Rede TV, Record, TVE, TV Nacional, Sport TV, Rede Gazeta, NSB e Rede Bandeirantes); outros dez ve?culos tamb?m foram convidados, R?dio Eldorado, R?dio CBN, Folha de S?o Paulo, Jornal da Tarde, Lance!, Estado de Minas, Di?rio de Pernambuco, Tribuna do Norte, Jornal de Bras?lia, O Dia, O Globo e o portal UOL.

11 WERNECK, 2000, p. 233 12 HAENDCHEN, 2004, p. 02 13 Brasil Paraol?mpico, ano VII, n? 06

Segundo o presidente do CBP (Comit? Paraol?mpico Brasileiro), Vital Severino Neto, "o CPB passou a trabalhar com a perspectiva de uma cobertura diferenciada no momento em que entrou em contato com Marcos Malafaia"14.

Os Jogos Ol?mpicos come?aram em 776 a.C. em Ol?mpia, na Gr?cia antiga, e duraram por mais de mil anos. Entretanto, o evento religioso que deu origem aos Jogos ? bem mais antigo, podendo datar do s?culo 13 a.C. Durante todos esses anos os Jogos Ol?mpicos se desenvolveram; a primeira edi??o dos Jogos da Era Moderna aconteceu em Atenas, em 1896, e reuniu 14 pa?ses e 311 atletas, j? na sua edi??o mais recente, realizada, tamb?m, em Atenas em 2004, 201 pa?ses e mais de 10651 atletas participaram. Se por um lado, esse crescimento representa a vit?ria do ideal ol?mpico moderno, por outro gera, no mundo dos esportes, uma s?rie de problemas que os estudiosos atribuem ao pr?prio gigantismo dos jogos. Em primeiro lugar, torna-se cada vez mais dif?cil organiz?-los, pelo alt?ssimo investimento financeiro que representam (os alem?es ocidentais gastaram cerca de 630 milh?es de d?lares com os de Munique). E tamb?m pela import?ncia que a vit?ria nos campos do esporte passou a ter em termos de prest?gio pol?tico.

Os Jogos Paraol?mpicos tiveram sua primeira vers?o em 1960, em Roma, e contava com a participa??o de 23 pa?ses e 400 atletas; em sua edi??o mais recente, em Atenas 2004, o evento reuniu 143 pa?ses e 4000 atletas; os investimentos atingiram patamares antes inimagin?veis; patrocinadores mundiais ajudaram a custear a competi??o e a profissionaliza??o do esporte foi vis?vel. Os n?meros mostram que entre a primeira e a ?ltima vers?o dos Jogos houve uma grande evolu??o, o esporte para pessoas com defici?ncia abandonou o car?ter estritamente de lazer e de reabilita??o, passando a buscar tamb?m o alto-rendimento. Assim, aumentou-se o interesse da m?dia por esse segmento esportivo; contudo, segundo o jornalista do Correio Braziliense, Jos? Cruz, "Ainda n?o h? uma cobertura sistem?tica do esporte paraol?mpico (...)"15. A Paraolimp?ada de Atenas foi um marco para o paradesporto brasileiro, porque, de acordo com o presidente do CPB (Comit? Paraol?mpico Brasileiro) o para-atleta voltou de Atenas como um ?dolo, e reconhecido pelo p?blico; o Brasil que voltou da Gr?cia despertou a consci?ncia nacional para o esporte paraol?mpico, atraindo, assim, as aten??es da m?dia e das grandes marcas empresariais.

14 Brasil Paraol?mpico, ano VIII, n? 12 15 Brasil Paraol?mpico, ano VIII, n? 07

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