1. INTRODUÇÃO

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1. INTRODU??O O presente trabalho visa abordar a representa??o da cidade de Juiz de Fora,

localizada na Zona da Mata de Minas Gerais, por meio do material televisivo produzido pela TV Integra??o, emissora afiliada da Rede Globo de Televis?o. Buscamos analisar nessa monografia quais s?o os aspectos que a emissora, por meio de seu telejornal di?rio, representa a cidade em que est? localizada.

Tendo como base as caracter?sticas da cidade, vamos analisar como o telejornal trabalha os investimentos simb?licos, como a mem?ria, o patrim?nio e sua voca??o para presta??o de servi?os e difus?o cultural. Na medida em que o MGTV transmite sua programa??o para 105 munic?pios, iremos verificar se ele prioriza os acontecimentos locais ou regionais.

A proposta ? refletir sobre a identidade da cidade e da popula??o constru?da pelo telejornal, e como esse notici?rio valoriza os acontecimentos de Juiz de Fora ap?s uma mudan?a editorial e de gest?o. Queremos saber se as emissoras intituladas locais, a exemplo da TV Integra??o, ainda geram, em sua maioria, programas locais.

Para o desenvolvimento do trabalho, contamos com o suporte te?rico de autores como Dominique Wolton, Rog?rio Bazi, Iluska Coutinho, Alfredo Vizeu, Christina Musse e Jhonatan Mata. Nosso recorte emp?rico foi constitu?do pelas grava??es de edi??es do MGTV primeira edi??o veiculadas entre 21 e 25 de janeiro de 2013. Al?m disso, realizamos entrevistas com o Gerente de Jornalismo da TV Integra??o (emissora de Juiz de Fora) e com o editor-chefe do MGTV primeira edi??o, registradas em ?udio.

Com rela??o ? import?ncia de estudar o tema, recorremos a muitos pesquisadores brasileiros e de outras partes do mundo estudam a TV, este ve?culo fascinante que, segundo S?rgio Mattos (2010), "historicamente, tem absorvido sempre uma m?dia entre 50 a 60% do total do bolo publicit?rio brasileiro". O pesquisador e defensor da TV Dominique Wolton

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acredita que o ve?culo desempenha um papel importante de la?o social. Uma das explica??es pode ser que "como objeto de estudo e consumo, a televis?o n?o deixa ningu?m indiferente, sendo constante alvo de controv?rsias e discursos apaixonados e pol?ticos que n?o contribu?ram para estabelecer uma l?gica do conhecimento". (WOLTON, 1996, p. 34).

Em sua obra, o autor ainda destaca que, considerando a diversidade da programa??o exibida pela televis?o, que s?o assistidos por todas as classes sociais, ela contribui para valorizar a identidade nacional e se constitui em um poderoso fator de integra??o social. ? nesse contexto que a TV se faz importante para a difus?o de informa??es e ideias, j? que ela ? um dos principais la?os da sociedade. Por isso, buscaremos saber se a programa??o veiculada diariamente na emissora cria uma rela??o de pertencimento com a cidade e com a sociedade.

O autor Alfredo Vizeu defende a ideia de telejornalismo como uma nova "pra?a p?blica". Para ele, os telejornais contribuem diariamente para a constru??o da realidade, criam rela??es de pertencimento entre a emissora e o p?blico, al?m de desempenhar as fun??es de publiciza??o dos fatos e de enuncia??o pedag?gica, procurando tornar a informa??o e o seu significado mais familiar aos telespectadores. Ele ainda destaca que o jornalista reorganiza o mundo atrav?s dos v?rios olhares que lan?a sobre a sociedade, seja no local, regional, nacional ou internacional e que isso auxilia as representa??es identit?rias de uma regi?o.

Com base nos autores citados, na an?lise do telejornal e com as entrevistas realizadas, buscaremos responder duas quest?es: "At? onde a TV Integra??o, por meio do MGTV primeira edi??o, trabalha as caracter?sticas simb?licas de Juiz de Fora?" e "Na medida em que o telejornal busca representar o regional, ele deixa de representar o local?".

A proposta de estudar a TV ? v?lida porque, de acordo com Vizeu, esta n?o deve ser apenas assistida, ela precisa ser estudada a fundo. Por isso, ao longo do trabalho vamos discorrer sobre a hist?ria da TV e do surgimento do telejornalismo no Brasil, al?m de expor

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que, cada vez maior das pessoas tem o desejo de saber not?cias sobre o local onde vivem e de verem sua cidade bem representada no espa?o televisivo. Uma das nossas premissas ? que a globaliza??o tenha contribu?do para essa vontade das pessoas de assistirem o telejornalismo local. Para entender melhor esse fator, buscaremos fazer uma diferencia??o entre jornalismo em rede nacional e jornalismo regional/local e destacar como a globaliza??o contribuiu com o jornalismo regional.

O maior objetivo deste trabalho ? mostrar como Juiz de Fora e sua popula??o vem sendo representada no MGTV primeira edi??o, destacando o espa?o destinado ?s quest?es locais, em quais editorias a cidade mais aparece, se essas mat?rias s?o, em sua maioria, factuais e quem s?o os entrevistados.

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2. HIST?RIA DA TELEVIS?O E O SURGIMENTO DO TELEJORNALISMO

Muitas vezes, a hist?ria do telejornalismo se confunde com a hist?ria da TV. A televis?o surgiu em 1936, com a cria??o da British Broadcasting Corporation (BBC). Mas com o per?odo da Segunda Guerra Mundial, as transmiss?es e o desenvolvimento da TV foram interrompidos e s? voltaram a funcionar ap?s o fim da guerra, se popularizando nos anos 1950, ano que ela chega ao Brasil.

No dia 18 de setembro de 1950, em S?o Paulo, a televis?o foi inaugurada por iniciativa de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. A TV Tupi, que era transmitida no canal 3, entrou no ar sofrendo forte influ?ncia do r?dio, que era o principal ve?culo de comunica??o do pa?s. Apenas um dia ap?s sua inaugura??o, a emissora transmitiu o primeiro telejornal do pa?s, chamado de "Imagens do Dia". Exibido em preto e branco1, ao vivo e tinha poucas imagens que eram exibidas sem sofrer o processo de edi??o, na verdade ent?o montagem cinematogr?fica. O telejornal n?o tinha um tempo pr?-determinado; ele durava o tempo que fosse necess?rio para mostrar todos os fatos e imagens coletadas.

Em 1952, o "Telenot?cias Panair" substituiu o "Imagens do Dia". Veiculado ?s 21 horas esse telejornal possu?a equipamentos de melhor qualidade. Apesar do programa n?o ter durado muito tempo e ter sido substitu?do em 1953 pelo "Rep?rter Esso", foi nessa ?poca que come?ou a fase comercial da televis?o.

O "Rep?rter Esso" representou um marco na hist?ria do jornalismo televisivo brasileiro, porque se tornou refer?ncia de informa??o e regularidade. Programa jornal?stico ent?o veiculado no r?dio, patrocinado pela Esso, ele passou a ser veiculado na televis?o sem sofrer qualquer mudan?a na sua linguagem ou estrutura. O jornalismo de televis?o brasileiro baseou-se ent?o no modelo do r?dio, sem mudar as caracter?sticas de um ve?culo para outro.

1 As transmiss?es televisivas no Brasil passaram a contar com a cor apenas ao final de 1972; a primeira transmiss?o em cores foi na Festa da Uva, em Caxias do Sul.

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Era um r?dio dentro da televis?o, sem a utiliza??o de imagens. As not?cias eram produzidas e controladas por uma ag?ncia de publicidade e lidas diante das c?meras.

Em um curto espa?o de tempo, esse formato apresentou mudan?as. Foi incorporado o apresentador e surgiram imagens em movimento captadas inicialmente sem som, ?s quais eram associadas ?s narra??es em off. Em 1970, a experi?ncia do Rep?rter Esso na televis?o chegou ao fim. Na verdade o fim do notici?rio representou uma mudan?a de modelo de financiamento do telejornalismo. Nas primeiras d?cadas da televis?o no Brasil, era comum que os programas fossem identificados pelo nome dos patrocinadores, a exemplo do "Rep?rter Esso". Esse modelo chegou ao fim na d?cada de 1960.

Com o surgimento do videoteipe e das transmiss?es via sat?lite na d?cada de 1960, o ritmo das transmiss?es passaram a ser mais r?pidos e houve uma melhora na linguagem visual. At? ent?o, o jornalismo de televis?o n?o possu?a estilo pr?prio, mas foi a partir desse marco que ele come?ou a ter suas caracter?sticas diferenciadas em rela??o ?s outras m?dias e passou a ter um espa?o significativo na vida das pessoas.

Outro marco na hist?ria do telejornalismo no pa?s, conforme destaca Rezende (1985, p.107), ocorreu em 1962 com o surgimento do "Jornal de Vanguarda", que ia ao ar ?s 22h30. Esse notici?rio contava com profissionais ilustres, como Cid Moreira, Mill?r Fernandes, Vilas Boas Corr?a e Newton Carlos. O telejornal era apresentado de uma forma antes nunca vista, pois os jornalistas tinham liberdade de express?o. Ap?s o golpe de 64, o jornal chegou ao fim, entretanto, devido ao sucesso que ele fez, seu modelo foi copiado por outras emissoras. Na d?cada de 1970, a evolu??o tecnol?gica, a efetiva??o do modelo americano de televis?o e a ditadura militar tamb?m marcaram a hist?ria do telejornalismo. Nessa ?poca come?ou a ser difundido o uso do cromaqui2 e do teleprompter3. Essas

2 Fundo verde ou azul que fica atr?s dos apresentadores, onde o diretor pode inserir outras imagens 3 Equipamento que faz com que o texto lido pelo apresentador fique diante de seu alcance visual

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tecnologias permitiam que os telejornais ficassem visualmente melhores, aprimorando e padronizando o modelo do jornalismo na televis?o.

Ainda entre os anos de 1964 e 1985, foram instaladas esta??es terrestres de sat?lites, houve amplia??o do sistema telef?nico e foram implantadas linhas de micro-ondas, o que possibilitou a transmiss?o da TV para todo o Brasil. Nessa ?poca, o jornalismo passou a ocupar mais espa?o na televis?o e o telejornalismo passou a ter mais agilidade.

Ao falarmos da hist?ria da TV e do telejornalismo, n?o podemos deixar de citar as transmiss?es em rede nacional, hist?ria que se confunde com a da Rede Globo de Televis?o. Inaugurada em 1965, em 1? de setembro de 1969, a emissora criou o "Jornal Nacional", primeiro programa transmitido em rede nacional, o JN entrou no ar prometendo integrar o Brasil pela not?cia, o que tornou-se poss?vel por meio de rede terrestre e depois com liga??es feitas por micro-ondas e transmiss?o via sat?lite.

Na hist?ria do jornalismo de televis?o no Brasil, muitas emissoras surgiram: TV Tupi, TV Excelsior, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Cultura, Sistema Brasileiro de Televis?o (SBT), Rede Manchete, Rede Record, entre outras. Todas tiveram seus telejornais, que apresentavam caracter?sticas pr?prias e que se modificaram ao longo dos anos.

Mas ? na d?cada de 1980 que a televis?o brasileira atinge seu auge; um dos seus principais produtos ? o telejornalismo, pois gerava lucro para as emissoras. J? na d?cada de 1990, as reda??es passam a ser informatizadas e a chegada da Internet mudou a forma de se fazer jornalismo nas reda??es. Em 15 de outubro de 1996, outro fato marcante para o jornalismo: a inaugura??o do "Globo News", primeiro canal de not?cias brasileiro.

Desde seu in?cio at? os dias atuais, a televis?o ? direcionada ?s popula??es urbanas e visa o lucro; h? poucas emissoras p?blicas no pa?s. Al?m disso, conforme destaca Vizeu (2003) os notici?rios televisivos ocupam um papel relevante na sociedade e ajudam a

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construir a realidade, ou ao menos a percep??o dela, uma vez que, para a maioria dos cidad?os, os telejornais s?o a principal fonte de informa??o.

2.1 TELEJORNALISMO EM REDE NACIONAL Como destacou-se nesse cap?tulo, o primeiro programa gerado em rede nacional

no Brasil foi o Jornal Nacional, transmitido desde 1969 pela Rede Globo. Com ele, surge o modelo de transmiss?es de programas em rede e a perspectiva de uma integra??o nacional, na ?poca uma perspectiva que interessava aos militares e sua ideologia de seguran?a nacional.

Conforme destaca Coutinho (2008), inicialmente, a interliga??o via rede terrestre de micro-ondas n?o atingia todo o territ?rio nacional. Durante cerca de vinte anos o conte?do e o alcance dos telejornais era apenas local. At? a d?cada de 1980, com a chegada do sat?lite, apenas as regi?es Sul, Sudeste e parte do Nordeste brasileiro possu?am interliga??o. N?o por acaso s?o nessas regi?es que h? maior concentra??o populacional e tamb?m da renda nacional.

Ainda segundo a autora, o acesso ? tecnologia de transmiss?o em rede nacional de TV foi viabilizado gra?as ao or?amento p?blico. A chamada "rede nacional" atendia aos interesses do governo militar e do mercado publicit?rio, no entanto, ela reduziu os sotaques e sabores regionais ent?o presentes nas emissoras de televis?o espalhadas pelo pa?s.

Organizadas em redes nacionais, as emissoras brasileiras desde ent?o se re?nem por meio de contratos de afilia??o. Nessa estrutura, a significativa maioria dos conte?dos veiculados ao longo da programa??o ? produzida pela chamada "cabe?a de rede" e reproduzido pelas emissoras afiliadas que estendem o sinal da rede por diversos estados e munic?pios, garantido alcance nacional. (COUTINHO, 2008, p. 92)

As redes permitiam que os conte?dos fossem transmitidos a toda popula??o brasileira, ou seja, as mesmas imagens eram disponibilizadas ao mesmo tempo. Hoje, o modelo de organiza??o e funcionamento das emissoras brasileiras ? constitu?do em rede nacional de televis?o por meio de contratos de afilia??o. Al?m disso, as emissoras de TV que

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possuem contrato de afilia??o com uma rede, reproduzem a programa??o gerada e ocupam com programas de car?ter local/regional apenas os espa?os cedidos pelas redes.

Os contratos de afilia??o reservam um papel central no telejornalismo no que diz respeito ? constitui??o de uma identidade nacional e quanto ? possibilidade de veicula??o de produ??es de car?ter voltado para as quest?es locais nas emissoras afiliadas.

2.2 O GLOBAL X O LOCAL Uma caracter?stica marcante da grande m?dia, a exemplo da Rede Globo de

Televis?o, ? a preocupa??o com fatos nacionais e globais e seu "esquecimento" com fatos regionais e locais. De forma associada, um dos fatores que contribui para o aumento da necessidade de informa??es, principalmente regionais, ? a globaliza??o. Assim, globaliza??o da comunica??o possibilitou, al?m da quebra de barreiras, o apego das pessoas as suas ra?zes. De acordo com Cabral (2006), a regionaliza??o da m?dia brasileira ? necessidade dos meios de comunica??o que vem se organizando pra conquistar a fidelidade do p?blico que busca a preserva??o da cultura e informa??es de qualidade ligadas a sua realidade.

Segundo Cic?lia Peruzzo (2005), a globaliza??o torna a cultura regional/local ou comunit?ria mais conhecida, proporcionando uma valoriza??o, ou seja, o n?vel de distribui??o de conte?dos e informa??o tende a valorizar os aspectos regionais e culturais. Ainda de acordo com a autora, com o desenvolvimento da globaliza??o, inicialmente chegou-se a pressupor o fim da comunica??o local, mas depois se constatou o contr?rio, ou seja, a revaloriza??o do local em diferentes contextos e formas (2005, p. 70).

O fim da comunica??o local seria algo invi?vel para as emissoras de televis?o, pois tamb?m existe um interesse comercial nessas transmiss?es regionais. Al?m disso, como destaca Coutinho (2008),

Os telejornais de produ??o local seriam o lugar priorit?rio da cria??o de uma rela??o de pertencimento en-tre emissora e p?blico e ainda um dos espa?os privilegiados de constru??o da pr?pria identidade da regi?o/localidade, uma vez pressuposta a

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