UM PANORAMA DA PESQUISA EM ENSINO DE FÍSICA NO BRASIL

IX CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE INVESTIGACI?N EN DID?CTICA DE LAS CIENCIAS

Girona, 9-12 de septiembre de 2013 COMUNICACI?N

UM PANORAMA DA PESQUISA EM ENSINO DE F?SICA NO BRASIL

Helena Battazza Universidade Federal de Alfenas Leandro Londero, Maria Jos? P. M. Almeida Universidade Estadual de Campinas

RESUMO: A quantidade de estudos desenvolvidos e publicados na forma de livros, disserta??es, teses, artigos e atas de congressos permite afirmar a consolida??o da pesquisa em Ensino de F?sica no Brasil. V?rios trabalhos contribu?ram para resgatar e preservar a mem?ria do Ensino de F?sica em nosso pa?s. No entanto, estes estudos limitaram-se a descrever os fatores que contribu?ram para a constitui??o dessa ?rea e, portanto, n?o apresentam o atual panorama da pesquisa em Ensino de F?sica no cen?rio nacional. Tendo em vista a import?ncia que a pesquisa de interpreta??o de registros sobre o Ensino de F?sica seja intensificada e sistematizada, para que se tenha um panorama cada vez mais abrangente do desenvolvimento da ?rea, realizamos uma investiga??o que identificou os grupos de pesquisa em Ensino de F?sica atuantes no Brasil, os atores, cen?rios e linhas de investiga??o.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de F?sica, Grupos de Pesquisa, Linhas de Investiga??o.

OBJETIVO

Objetivamos identificar os grupos de pesquisa em Ensino de F?sica atuantes no Brasil. Procuramos conhecer os sujeitos que realizam pesquisa em Ensino de F?sica no cen?rio nacional. Al?m disso, procuramos analisar as linhas de investiga??o destes grupos. Procuramos encontrar resposta para a seguinte quest?o: Quais s?o os grupos de pesquisa e as linhas de investiga??o em Ensino de F?sica no Brasil?

V?rias quest?es que parecem relevantes permearam este estudo, s?o elas: a) Qual a frequ?ncia de grupo de pesquisa em Ensino de Ci?ncias/Ensino de F?sica no Brasil por regi?o geogr?fica, unidade da federa??o e institui??o de ensino?; b) Qual a frequ?ncia de recursos humanos?; c) Quais as linhas de investiga??o dos grupos identificados?; d) Qual a evolu??o temporal de cria??o desses grupos?

MARCO TE?RICO

Trabalhos como os de Nardi e Almeida (2007, 2004, 2003), Nardi (2005), Moreira (2000) e Gaspar (1997) contribu?ram para resgatar e preservar a mem?ria do Ensino de F?sica no Brasil.

Moreira (2000), por exemplo, faz uma retrospectiva do ensino de f?sica desde os anos 60 at? a data da publica??o de seu trabalho. Ele explicita que a pesquisa em ensino de f?sica come?ou a emergir com mais clareza nos anos setenta, com o estudo das concep??es alternativas, consolidou-se na d?cada de 80, com as pesquisas sobre mudan?a conceitual, e encontra-se em plena "ci?ncia normal", com investiga??es bastante diversificadas, incluindo, por exemplo, resolu??o de problemas, representa??es mentais dos alunos, concep??es epistemol?gicas dos professores e forma??o inicial e permanente de professores.

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Por sua vez, Nardi e Almeida (2007, 2004, 2003) contribu?ram para a preserva??o da mem?ria da Educa??o em Ci?ncias no Brasil. Esses autores investigaram quem poderia responder sobre a exist?ncia de uma ?rea de Educa??o em Ci?ncias em nosso pa?s.

Particularmente, no artigo intitulado "Mem?rias da Educa??o em Ci?ncias no Brasil: a pesquisa em Ensino de F?sica", Nardi (2005) relatou as interpreta??es atribu?das por pesquisadores, atuantes na ?rea de Ensino de F?sica, no que diz respeito aos fatores que contribu?ram para a constitui??o da ?rea de Educa??o em Ci?ncias. A partir da an?lise de entrevistas, o autor pontou as diferentes interpreta??es para quais teriam sido os fatores determinantes da constitui??o ?rea. Os principais fatores, em ordem de import?ncia, s?o: a) a tradu??o e a utiliza??o de projetos estrangeiros; b) as pol?ticas p?blicas nacionais de fomento ? p?s-gradua??o, ? pesquisa e a projetos de ensino de Ci?ncias e Matem?tica; c) a institui??o do Subprograma de Educa??o para a Ci?ncia dentro do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Cient?fico e Tecnol?gico da CAPES; d) a cria??o de Programas de P?s-gradua??o em Ensino de Ci?ncias no Brasil e na ?rea de ensino de F?sica, junto aos institutos de F?sica da Universidade de S?o Paulo e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; e) o papel das Faculdades de Educa??o na forma??o dos primeiros doutores na ?rea.

Ao final do artigo, Nardi (2005) ressalta a import?ncia que a pesquisa de recupera??o e interpreta??o de registros sobre o ensino de F?sica no pa?s seja intensificada e sistematizada, para que se tenha um panorama cada vez mais abrangente do desenvolvimento da ?rea. Uma forma de come?ar a fazer isso ? identificar e analisar os grupos de pesquisa atuantes no Ensino de F?sica, os atores, cen?rios e linhas de investiga??o.

METODOLOGIA

Inicialmente, realizamos um levantamento para identificarmos os Grupos de Pesquisa que atuam no Ensino de F?sica. Para tanto, recorremos ao Diret?rio dos Grupos de Pesquisa no Brasil desenvolvido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient?fico e Tecnol?gico.

Utilizamos como palavras-chave "Ensino de F?sica" e "Ensino de Ci?ncias" e pesquisamos nos seguintes campos do Diret?rio: Consulta grupos de pesquisa>consulta por>todas as palavras. Este procedimento foi realizado em abril de 2012.

O Diret?rio foi lan?ado em 1992 pelo CNPq e ? uma base de dados que cont?m informa??es sobre os grupos de pesquisas em atividade nas principais institui??es de ensino e pesquisa do Brasil.

Em continuidade, os grupos de pesquisa foram separados por regi?o geogr?fica, unidade da federa??o e institui??o de ensino. Ap?s, identificamos a quantidade de pesquisadores, estudantes e t?cnicos pertencentes a cada grupo. Na sequ?ncia, mapeamos as "Linhas de pesquisa" que cada grupo registrou no Diret?rio. A seguir, registramos o ano de cria??o de cada grupo para analisarmos a evolu??o temporal dos grupos.

Ao final, analisamos os dados registrados a fim de obtermos um panorama da pesquisa em Ensino de F?sica no Brasil.

RESULTADOS

Frequ?ncia de grupos de pesquisa por regi?o geogr?fica e unidade da federa??o

Tendo em vista as extens?es territoriais do Brasil, vale a pena verificar a distribui??o demogr?fica dos grupos de pesquisa nas 05 regi?es geogr?ficas e nas unidades da federa??o que comp?em o territ?rio brasileiro.

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Mapeamos 348 grupos de pesquisa, distribu?dos nas cinco regi?es e em 25 estados e no Distrito Federal. No interior destes grupos foram identificados dois subgrupos: 50 (f?sica e astronomia) grupos espec?ficos, ou seja, aqueles que dedicam-se exclusivamente ? pesquisa em ensino de f?sica e 298 grupos n?o espec?ficos, ou seja, que t?m a pesquisa em ensino de f?sica como uma quest?o abordada em uma ?rea maior de interesse.

A quantidade mais expressiva, encontra-se na regi?o Sudeste (128 grupos, 37%), seguida pelas regi?o Sul (98 grupos, 28%) e Nordeste (72 grupos, 21%). As regi?es Centro-Oeste e Norte contam com 25 grupos cada uma (7%). A verifica??o permite visualizar disparidades entre as regi?es, em rela??o ao n?mero de grupos de pesquisa mapeados. Como esperado, a maior concentra??o dos grupos ocorre na regi?o Sudeste. Uma justificativa pode ser o fato de esta regi?o abrigar os tr?s maiores polos de pesquisa e desenvolvimento do Brasil, representados pelas cidades de S?o Paulo, Rio de Janeiro e Campinas. Sendo assim, a regi?o Sudeste tem predomin?ncia da produ??o cient?fica nacional e consequentemente maior frequ?ncia dos grupos de pesquisa em rela??o ?s outras regi?es geogr?ficas.

Na distribui??o por unidade da federa??o, percebemos que o estado de S?o Paulo, como esperado, possui a maior concentra??o de grupos (61, 17,5%), seguido pelos estados do Paran? (42, 12,1%) e Rio Grande do Sul (40, 11,5%), Rio de Janeiro (35, 10,1%), Minas Gerais e Bahia, cada um desses com 25 grupos (7,2%). A seguir encontram-se os estados de Santa Catarina (16, 4,6%), Pernambuco (13, 3,7%) e Amazonas (11, 3,2%). Os demais estados possuem menos de 10 grupos. N?o identificamos nenhum grupo no estado do Tocantins. Isto pode indicar que h? um espa?o produtivo para o desenvolvimento de pesquisas no campo de Ensino de F?sica neste estado. Verificou-se ainda, que a Universidade Federal do Tocantins oferece a gradua??o em licenciatura em F?sica em um de seus campus, favorecendo assim, a poss?vel forma??o de um grupo de pesquisa na ?rea do Ensino de F?sica.

Frequ?ncia de grupos de pesquisa por institui??o de ensino

Os grupos est?o distribu?dos em 124 institui??es de ensino, 73 grupos (59%) em universidades, funda??es ou institutos federais, 24 (19%) em institui??es estaduais, 01 (1%) em institui??es municipais e 26 (21%) em institui??es privadas. As universidades estaduais paulistas em conjunto possuem 32 grupos (9,2%).

A Universidade Estadual Paulista (UNESP) ? a institui??o que possui o maior n?mero de grupos (18, 14,5%). Uma justificativa pode ser o fato desta institui??o possuir v?rios campus universit?rios (23) e um Programa de P?s-gradua??o com express?o destac?vel no cen?rio nacional. A segunda institui??o a apresentar maior quantidade de grupos ? a Universidade Tecnol?gica Federal do Paran? com 14 grupos (11,3%). Na sequ?ncia aparece a Universidade de S?o Paulo com 11 grupos (3,2%). As demais institui??es possuem menos de 10 grupos, como pode ser visualizado no quadro 1. 47 (37,9%) institui??es possuem cada uma 01 grupo.

Frequ?ncia de recursos humanos

Mapeamos um total 2.742 pesquisadores, 2.639 estudantes e 169 t?cnicos, ou seja, um total de 5.550 pessoas. Vale a pena destacar que os ?ndices de recursos humanos podem ser menos expressivos, uma vez que ocorre a participa??o de pesquisadores e/ou estudantes em mais de um grupo.

Linhas de investiga??o mencionadas

No diret?rio do CNPq, cada l?der tem liberdade de mencionar as linhas de pesquisa de seu grupo, pois n?o existe uma lista pr?via de linhas em rela??o a qual deve se situar, como tamb?m n?o existe vincula??o entre as linhas do diret?rio e as do Programa de P?s-Gradua??o que o grupo pertence.

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Foram mencionadas mais de 150 linhas de pesquisa, sendo as 10 mais citadas: a) Forma??o Inicial e Continuada de Professores; b) Ensino e Aprendizagem de Ci?ncias, tanto em espa?os formais como em n?o-formais; c) Tecnologias da Informa??o e Comunica??o; d) Alfabetiza??o Cient?fica e Tecnol?gica; e) Epistemologia e Hist?ria da Ci?ncia; f ) Linguagem e Cogni??o; g) Educa??o ? Dist?ncia; h) Modelos e Modeliza??o no Ensino de F?sica; i) Produ??o e Avalia??o de Materiais Did?ticos e/ou Livros; j) Curr?culo.

Em rela??o a quantidade expressiva de linhas de pesquisa encontramos posi??es como a de Moreira (2003). Para ele

Nossos estudos, em geral, s?o pontuais. H? uma grande pulveriza??o na nossa pesquisa. Cada pesquisador conduz ou orienta v?rios projetos de pesquisa desarticulados. Quase n?o temos programas de pesquisa. ? certo que temos bons exemplos de pesquisadores que podem ser identificados com, pelo menos, uma linha de pesquisa bem definida [...]. Mas precisamos muito mais do que isso, ? importante que nossos pesquisadores tenham linhas de pesquisa ao inv?s de dispersar esfor?os em investiga??es isoladas, pontuais e pouco significativas.

Pesquisadores constantemente listam suas linhas de pesquisa, sem qualquer preocupa??o ou crit?rio. Na verdade, eles est?o listando seus interesses pessoais de investiga??o. Perante isso, observa-se falta de precis?o na defini??o, ou mesmo aus?ncia de defini??o, do conceito de linha de pesquisa. Em muitos casos, o termo linha de pesquisa se torna quase sin?nimo de ?rea de interesse ou ?rea de concentra??o dos pesquisadores.

Em resumo, os pesquisadores da ?rea de Ensino de Ci?ncias/Ensino de F?sica t?m trabalhado numa pluralidade de tem?ticas, enfoques e, certamente, referenciais te?rico-metodol?gicos.

Evolu??o temporal de cria??o desses grupos

Tendo em vistas que a pesquisa em ensino de f?sica data da d?cada 60, consideramos importante analisar a evolu??o temporal de cria??o dos grupos. O gr?fico 1 apresenta a evolu??o temporal.

Gr?fico 1. Evolu??o temporal de cria??o dos grupos

A partir de 2002 observamos um aumento significativo do n?mero de grupos de pesquisa. Esse fato talvez possa ser justificado pela cria??o da ?rea de Ensino de Ci?ncias e Matem?tica na CAPES (antiga ?rea 46, atual ?rea de Ensino).

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CONCLUS?ES

As frequ?ncias encontradas neste estudo respondem as quest?es propostas e permitem concluir o alcance do seu objetivo, um panorama geral dos grupos e linhas de investiga??o em Ensino de F?sica do Brasil. A quantidade expressiva de grupos possivelmente deve-se ao fato da maioria deles serem heterog?neos, ou seja, o ensino de f?sica estar presente em grupos de Ensino de Ci?ncias, os quais tamb?m investigam aspectos do Ensino de Biologia e Qu?mica ou at? mesmo Educa??o Matem?tica.

No que tange a despropor??o de grupos entre regi?es, notamos, como esperado, a concentra??o no Sudeste e Sul. ? necess?rio promover a desconcentra??o regional dos grupos com o objetivo de se alcan?ar o desenvolvimento equ?nime e, perante isso, a melhoria do Ensino de F?sica nas diferentes regi?es.

Os dados que possu?mos permitem afirmar que, a ?rea de pesquisa em Ensino de F?sica possui um conjunto expressivo de investigadores e estudantes para o desenvolvimento de pesquisas nesse campo. Finalmente, vale a pena destacar que, o panorama tra?ado acima corresponde ao perfil geral dos grupos, tanto espec?ficos como n?o espec?ficos e, portanto, n?o podemos falar em homogeneidade. Consideramos que os resultados obtidos aqui relatados podem ser analisados sob outras perspectivas.

REFER?NCIAS BIBLIOGR?FICAS

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MOREIRA, M. A. (2003). P?s-Gradua??o e Pesquisa em Ensino de Ci?ncias no Brasil. Anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Educa??o em Ci?ncias, 4, Bauru: ABRAPEC. CD-ROM.

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NARDI, R. (2005).Mem?rias da Educa??o em Ci?ncias no Brasil: a pesquisa em Ensino de F?sica. Investiga??es em Ensino de Ci?ncias, v.10, n.1, p. 63-101.

NARDI, R.; ALMEIDA, M. J. P. M. (2003). Crit?rios para defini??o de entrevistas na pesquisa "Forma??o da ?rea de ensino de Ci?ncias no Brasil: mem?rias de pesquisadores no Brasil". MOREIRA, M. A. Atas do IV Encontro Nacional de Pesquisadores em Ensino de Ci?ncias, Bauru, S?o Paulo. (CD ROM).

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