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CAP?TULO - 11

O CASTANHEIRO NOS A?ORES

por David Horta Lopes, N. Macedo, A. Figueiredo, R. Pimentel, J.T. Martins, L.B. Ventura, C. Carvalho, P. A.V. Borges, D. Aguin Pombo, e A. M. M. Mexi

O CASTANHEIRO NOS A?ORES

1. RESUMO

A distribui??o dos castanheiros e a sua produ??o s?o conhecidas nos A?ores. A ilha Terceira ? a mais representativa da realidade regional. Em termos de ?rea e de produ??o, concentra-se mais na freguesia da Terra-Ch?. Infelizmente, a produ??o a?oriana, na ordem das 280 toneladas, n?o satisfaz a necessidade interna e, por isso, assiste-se, anualmente, a importa??es maci?as deste fruto. Neste cap?tulo,apresentam-se os resultados preliminares sobre a caracteriza??o das cultivares dos castanheiros, nos A?ores, e, em particular, na ilha Terceira, como os dados sobre a monitoriza??o e a quantifica??o dos preju?zos causados pelo bichado-da-castanha. Este insecto ?, actualmente, a principal praga que afecta a produ??o de qualidade e de quantidade de castanhas na ilha Terceira. As taxas de infesta??o, nesta ilha a?oriana, variam consoante as localidades, atingindo, por um lado, valores m?ximos de infesta??o de 38 %, na freguesia da Terra-Ch?, exposta a Sul, a uma cota de 218 m de altitude, e, por outro, a inexist?ncia de qualquer infesta??o na freguesia dos Biscoitos, exposta a Norte, a semelhante altitude. O per?odo de actividade dos adultos decorre de Julho a Outubro, sendo a sua actividade m?xima no m?s de Setembro.

Fig. 1 - Distribui??o da ?rea de castanheiros, na ilha Terceira.

Base cartogr?fica IGEO 180

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2.INTRODU??O

Nos A?ores, o castanheiro parece remontar ao in?cio do povoamento das ilhas (s?culo XIV), per?odo em que, pensa-se, se tenha iniciado o seu cultivo. A ele, refere-se Cordeiro, em 1866, ao escrever "em soutos de castanheiros, tal se achava, e t?o antigo que seu tronco tinha de grosso circuito trinta e cinco palmos, e em cima infinidade de castanhas". Frutuoso (1963) comparou a import?ncia dos castanheiros na ilha Terceira ? desta cultura na zona de Entre-Douro-e-Minho. O local com maior ?rea desta cultura foi, continuando, ainda, a ser, a freguesia da Terra-Ch? e as freguesias lim?trofes. A import?ncia econ?mica e social desta cultura parece ter atingido propor??es significativas nesta ilha, ? semelhan?a do que aconteceu em algumas regi?es de Portugal e at? da Europa, onde a cultura era mais expressiva.

A cultura da castanha nos A?ores n?o tem doen?as importantes, mas ? afectada, frequentemente, e com especial intensidade nos ?ltimos anos pelo bichado-dacastanha (Cap?tulo 6). Na origem desta praga est? Cydia splendana (H?bner, 1799), a ?nica esp?cie encontrada at? ? data nas parcelas de castanheiros da ilha Terceira. Recentemente, t?m sido realizados v?rios estudos sobre as variedades e as pragas do castanheiro nos A?ores.

Tab. 1 - ?rea de castanheiros e produ??o na Regi?o Aut?noma dos A?ores, em 2003 e 2006, respectivamente. Fonte: Servi?o Regional de Estat?stica dos A?ores,2006.

Neste cap?tulo, apresentam-se os resultados sobre a distribui??o, a caracteriza??o das cultivares dos castanheiros e a produ??o nos A?ores, em particular na Terceira, assim como os dados sobre pragas, em especial a monitoriza??o e a quantifica??o dos preju?zos causados pelo bichado-da-castanha.

3.DISTRIBUI??O DO CASTANHEIRO

De acordo com o Anu?rio Estat?stico da Regi?o Aut?noma dos A?ores de 2006, os castanheiros ocupam uma ?rea de 108 hectares, neste arquip?lago, distribu?da por tr?s das nove ilhas: S?o Miguel, Pico e Terceira (Fig. 1). Segundo um inqu?rito ?s estruturas das explora??es agr?colas, levado a cabo pelo Servi?o Regional de Estat?stica dos A?ores, em 2003, a Terceira tem 70,7 hectares, sendo a que maior extens?o de castanheiros apresenta em todo o arquip?lago (Tab.1).

?rea (ha) Produ??o (t) Prod/ha

Terceira

S. Miguel

Pico

70,7

17,0

10,3

187,1

45,4

37

2,7

2,7

3,6

Total 102,0 280,7

2,8

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Na Terceira, o local com maior ?rea desta cultura foi, e mant?m-se, a freguesia da Terra-Ch? e as freguesias lim?trofes, como a de S?o Pedro, a de Posto Santo, a de S?o Mateus e a de S?o Bartolomeu (Fig. 1). Bastante mais afastado, a Norte da ilha, podemos ainda encontrar alguns pomares isolados, dispersos por uma vasta ?rea nas freguesias de Altares, Biscoitos e Quatro Ribeiras. Nas restantes freguesias, a cultura ? residual ou inexistente. O cultivo do castanheiro na Terceira realiza-se, normalmente, a baixas altitudes, entre os 100 e 200 metros. No entanto, esta ?rvore desenvolve-se bem em terrenos de natureza vulc?nica. Atendendo a que os solos nos A?ores s?o provenientes de lavas mais ou menos alteradas, esc?rias, cinzas, areias bas?lticas, ? de esperar que esta esp?cie florestal encontre, assim, nestas ilhas vulc?nicas, boas condi??es para o seu desenvolvimento no que respeita ?s caracter?sticas do solo, ?s quais se juntam as do clima, que tamb?m lhe s?o favor?veis. Recentemente, foi actualizada a localiza??o das variedades regionais atrav?s de inqu?ritos aos produtores e de amostragens.Al?m disto, a localiza??o exacta das parcelas foi registada utilizando um GPS e, juntamente com fotografia digital dos terrenos, constru?ram-se mapas tridimensionais de distribui??o das zonas de castanheiros na Terceira. A produ??o de castanha nesta ilha centra-se, como j? se disse, em duas zonas: Terra-Ch? e as suas freguesias lim?trofes, isto ?, a freguesia de S?o Pedro, a de Posto Santo e a de S?o Bartolomeu, como nos Biscoitos.

4. A PRODU??O DE CASTANHA

Nos A?ores, atingiu-se, em 2006, uma produ??o de 280,7 toneladas das quais 67 % (187,1 toneladas) foram produzidas na Terceira, sendo, como referido anteriormente, esta a ilha que tem a maior ?rea e a maior produ??o dentro do arquip?lago (Tab. 1). Ao todo, est?o identificados, na ilha Terceira, 32 produtores. Em termos de produtividade, o valor m?dio ? de 2,8 t/ha, sendo de real?ar as 3,7 t/ha produzidas na ilha do Pico. Estes valores s?o bastante superiores ?, aproximadamente, 1t/ha dada como m?dia no continente, o que permite concluir a exist?ncia, nesta regi?o, de excelentes condi??es edafoclim?ticas para esta cultura. O tipo de povoamento dos castanheiros, na Terceira, ? esparso e distribu?do por manchas dispersas no Norte e, principalmente, no Sul da ilha. Da castanha produzida, o consumidor

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a?oriano, normalmente, prefere a variedade identificada e conhecida como "Viana" pelo seu calibre e pelo sabor adocicado.

A cultura do castanheiro, como ? feita, actualmente, nos A?ores, pode ser considerada como biol?gica porque n?o existe quase nenhuma aplica??o de agro-qu?micos nesta cultura, quer em termos de aplica??o de pesticidas, quer de fertilizantes, sendo a interven??o do produtor realizada unicamente na altura da colheita e, mais recente, com o problema do bichado-da-castanha, na p?s-colheita, com a recolha de frutos e de ouri?os ca?dos, assim como na limpeza das parcelas de produ??o.

5. COMERCIALIZA??O

A quantidade de castanha produzida na Terceira ? reduzida em rela??o ? procura de que ? alvo, n?o sendo, por isso, suficiente para assegurar o consumo interno, principalmente na altura do S?o Martinho, pelo que, todos os anos, se assistem a consider?veis importa??es deste fruto, por essa altura. Contudo, n?o h? dados oficiais das quantidades importadas, uma vez que se fazem, directamente, atrav?s das grandes superf?cies comerciais existentes na ilha.

A maior parte da castanha produzida ? comercializada "em fresco", sendo, normalmente, vendida pelo produtor aos comerciantes ou entregue pelos produtores directamente na Associa??o de Produtores Frut?colas e Flor?colas da Terceira (FRUTER), que, depois, se encarrega de a distribuir pelo mercado. A m?dia de produ??o de castanhas entregue, nesta cooperativa, nos ?ltimos 5 anos, foi de 6,8 toneladas, tendo sido paga ao produtor a um valor m?dio de 1,94 /kg (Tab. 2). Toda a casta- nha recebida dos produtores ? enviada para o mercado sem distin??o de calibres. N?o existe qualquer ind?stria associada ao processamento deste fruto nos A?ores. A castanha ?, maioritariamente, consumida cozida. Apenas alguns consumidores, mas muitos dos produtores, a

Tab. 2. Produ??o de castanha comercializada pela Associa??o de Produtores Frut?colas e For?colas da Terceira (FRUTER), com indica??o dos valores pagos ao produtor e de venda a comerciantes de castanha.

Ano

2013 2014 2015 2016 2017

Produ??o (kg)

9269 6808 7065 2837 7950

Pre?o Produtor ( )

1,58 1,57 1,95 2,67 1,94

Pre?o de venda comerciantes ( )

2,31 2,20 2,95 3,78 2,94

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Variedade (designa??es diferentes dos produtores)

Calibre (n?mero de

Comp.

castanhas/kg) (cm)

1 Bicuda

91,33

3,48

2 Bicuda pequena 119,00

3,13

Largura (cm)

3,41

3,41

Espessura (cm)

2,01

1,83

Peso fresco m?dio

(g)

12,82

10,22

Data de flora??o

Data de frutifica??o

16 Outubro a

1 a 31 Julho

15

Novembro

1 a 15 Julho

1 a 15 Novembro

3 Brava

89,43

2,89 3,55

2,18

12,48

1 a 31 Julho

16 Outubro a 15 Novembro

4 Desconhecida

100,00

2,99 3,21

1,96

11,42

16 Maio a 16 Agosto a 31 Julho 15 Novembro

5 Mulata

122,50

2,74 3,03

1,91

10,50

16 a 31 Julho

1 a 31 Outubro

6 Mulata grada

122,00

2,64 3,17

1,78

9,95 1 a 15 Julho

16 a 31 Outubro

7 Mulata mi?da

96,00

2,65 3,07

1,81

9,43

1 a 15 Julho

1 a 15 Novembro

8

De S?o Martinho

79,67

3,35 3,28

2,05

12,81

1 a 31 Julho

1 a 15 Novembro

9 "Uma s?"

60,00

3,07 3,74

2,38

14,41 1 a 15 Julho

16 a 31 Outubro

10 Viana

89,82

3,11 3,18

1,82

12,13 1 a 15 Julho

16 a 31 Outubro

11 Viana grada

91,00

2,99 3,13

1,73

10,34

16 a 30 Junho

1 a 15 Outubro

12 Viana mi?da

83,00

3,22 3,17

1,83

12,13

16 a 31 Julho

16 a 31 Outubro

transformam em produtos suced?neos, como os pudins e as tartes. A castanha ? utilizada tamb?m em algumas sopas, que, apesar da sua antiguidade, ainda fazem parte do card?pio de alguns restaurantes tradicionais. Existe, ainda, uma Festa da Castanha, promovida e organizada pela junta da freguesia da Terra-Ch?, que, anualmente, a promove por altura do S?o Martinho. Nesta festa, as castanhas assadas e cozidas s?o distribu?das gratuitamente aos festeiros. Geralmente, nesta ocasi?o, s?o proferidas palestras sobre o tema por especialistas, quer da regi?o, quer de fora. Esta festividade surge como uma

Tab. 3 ? Variedades de castanheiro da ilha Terceira. Denomina??o e caracter?sticas de acordo com os descritores do IPGRI. Dados do Projecto Germobanco II (Carvalho et al., 2006).

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Fig. 2 - Castanha "bicuda" Fig. 3 - Castanha "brava" Fig. 4 - Castanha "desconhecida" Fig. 5 - Castanha "mulata" Fig. 6 - Castanha "S?o Martinho" Fig. 7 - Castanha "uma s?" Fig. 8 - Castanha "Viana"

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2

tentativa, n?o s? de estimular a continua??o da actividade dos produtores na zona da Terra-Ch?, mas tamb?m de despertar os consumidores e o mercado para a maior procura interna deste fruto.

6. CARACTERIZA??O DAS VARIEDADES DE CASTANHEIRO NA ILHA TERCEIRA

Um estudo fenol?gico e fenot?pico, desenvolvido recentemente nos castanheiros da Terceira, permitiu reconhecer, fenologicamente, 12 variedades, de acordo com os descritores do Instituto Internacional para os Recursos Gen?ticos Vegetais (IPGRI) (Tab. 3). Estes descritores compreenderam a an?lise dos frutos, atrav?s da medi??o do seu calibre, da largura, do comprimento, da espessura, do peso fresco m?dio e, ainda, do registo da data de flora??o e da de frutifica??o de cada variedade, representando, ao todo, cinco caracteres diferentes. Fenol?gica e morfologicamente, estas 12 variedades foram caracterizadas a partir de 46 ?rvores, ?s quais foram dadas as denomina??es de castanha "bicuda" (Fig. 2) e "bicuda pequena", castanha "brava" (Fig. 3), castanha "desconhecida" (Fig. 4), castanha "mulata" (Fig. 5) "mulata grada" e "mulata mi?da"; castanha de "S?o Martinho" (Fig. 6)

3

4

5

6

7

8

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castanha "uma s?" (Fig. 7), castanha "Viana" (Fig. 8), castanha "Viana grada"e castanha "Viana mi?da" (Tab. 3). De todas as variedades apresentadas, ? de destacar o facto de a castanha "uma s?" e de a "castanha de S?o Martinho " serem as que registam o maior calibre. A "Viana grada" ser?, tamb?m ela, de maior calibre, mas a ?nica a ser colhida na primeira quinzena de Outubro, enquanto a maioria das outras ? colhida na segunda quinzena de Outubro e nos primeiros quinze dias de Novembro. ? ainda de destacar que a "castanha brava" resulta de castanheiros n?o enxertados, da? este nome vulgar que lhe ? atribu?do pelos produtores. O material vegetal dessas cultivares tem vindo a ser propagado vegetativamente in vivo, criando, para o efeito, campos de colec??o de castanheiro. Este material tamb?m est?, actualmente, dispon?vel, na Universidade dos A?ores, em cultura in vitro e na forma de plantas envasadas que, depois, sofrer?o um saneamento fitossanit?rio e um tratamento t?rmico. Este material, isento de quaisquer patog?nicos, destina-se aos agricultores para que, no futuro, possam renovar as suas planta??es antigas de castanheiro. Uma caracteriza??o gen?tica foi realizada ?s 46 (42 da ilhaTerceira e quatro de S?o Miguel) potenciais cultivares tradicionais de castanheiro encontradas e indicadas pelos produtores dessas ilhas com designa??es diferentes (Tab. 4). Estas potenciais cultivares foram, geneticamente, caracterizadas atrav?s de um estudo de ADN, tendo por base a an?lise de cinco microssat?lites. Os resultados obtidos permitiram identificar 31 gen?tipos diferentes e concluir que o castanheiro, nestas ilhas, possui uma elevada variabilidade gen?tica. Provavelmente, esta variabilidade resulta da propaga??o por semente, em vez da propaga??o vegetativa, habitual neste arquip?lago, que pode ter como resultado um aumento da variabilidade gen?tica e,assim, ser a explica??o para uma err?nea designa??o diferente de plantas com fen?tipo semelhantes por parte dos agricultores. Contudo, estes dados s?o, ainda, preliminares e os estudos devem ser alargados, a fim de conduzirem a resultados mais esclarecedores, utilizando, para o efeito, maior n?mero de microssat?lites na caracteriza??o gen?tica.

Castanha Desconhecida Castanha de Fora Castanha Bicuda Castanha Viana Castanha Mulata Castanha "Uma S?" Castanha S?o Martinho Castanha Brava Castanha Brava "Uma S?" Castanha Mulata Grada Castanha Viana Mi?da Castanha Viana Grada

Tab. 4. - As 12 cultivares tradicionais obtidas a partir da caracteriza??o gen?tica das 42 amostras iniciais, encontradas nos produtores de castanha da ilha Terceira (Monteiro et al., 2007).

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