TRADIÇÃO, A CRIAÇÃO DA MEMÓRIA GUSTATIVA E AFETIVA

TRADI??O, A CRIA??O DA MEM?RIA GUSTATIVA E

AFETIVA

Renata Vicente dos Santos Rodrigues1

1Nutricionista - Faculdade Guararapes - FG; E-mail: rvs.rodrigues@,

Resumo: A tradi??o ? a possibilidade da inser??o do passado no presente. Especificamente sobre tradi??es culin?rias, elas podem ser repassadas de gera??o em gera??o em uma mesma popula??o. A tradi??o culin?ria pode misturar ingredientes, constituir-se algo pr?prio, de intimidade familiar, de investimentos afetivos, simb?licos e est?ticos. ? de extrema relev?ncia a elabora??o deste trabalho. Pois, a narrativa aqui encontrada n?o denota apenas a hist?ria individual, mas sim abordagem social, cultural, hist?rica, gastron?mica de gera??es. O objetivo desta pesquisa ? contribuir com o repert?rio de receitas, fazendo com que n?o se percam ao logo dos anos. A pesquisa ? do tipo relato de experi?ncia e/ou bibliogr?fica. A metodologia ainda contou pesquisas bibliogr?ficas, em bases de dados bibliogr?ficos, SciELO (Scientific Eletronic Libray Online), PubMed e DeCS. Foram selecionados artigos do per?odo entre 2005 ? 2021.A linguagem adotada para tal pesquisa foi o portugu?s e ingl?s. No total foram utilizadas dezesseis refer?ncias, sendo artigos, trabalhos acad?micos, livros, revistas e sites. A coleta de informa??es da receita de fam?lia se deu a partir fonte familiar. As tradi??es habituais das receitas de fam?lia podem ser agentes formadores do gosto, ativando o sentimento de prazer e a saciedade. Dessa forma, afetividade e sabor perpassados nas cozinhas de casa, ainda prevalecem e resistem ao tempo. Finalmente, o repasse das tradi??es das receitas de fam?lia, impulsionam a educa??o e o respeito a diversidade de cada lar; aproximando indiv?duos, propiciando a viabiliza??o da trama social, do legado familiar e individual, assim a cria??o da mem?ria gustativa e afetiva.

Palavras?chave: afeto; antropologia da alimenta??o; comida; gosto; receita de fam?lia

INTRODU??O A alimenta??o ? um sistema de comunica??o, um corpo de imagens, um protocolo

de usos, de situa??es, necessidades fisiol?gicas e de condutas (1). Por sua vez, o alimento

? natural ? sobreviv?ncia da esp?cie humana, mas sua dimens?o cultural ? posta em relevo

pela a??o social (2).

A comida ent?o est? relacionada aos la?os sociais, pois evoca lembran?as,

emo??es e sentimentos que nos remetem ?s mem?rias do passado e dos indiv?duos com

quem nos relacionamos (3). Neste sentido, o que se come ? t?o importante quanto quando

se come, onde se come, como se come e com quem se come (4).

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J? a tradi??o ? a possibilidade da inser??o do passado no presente. Especificamente sobre tradi??es culin?rias, elas podem ser repassadas de gera??o em gera??o em uma mesma popula??o. De av? para m?e, para filho, ou de forma intergeracional, uma tradi??o culin?ria pode ser passada de forma n?o linear, mas se sobrepondo gera??es. Como no caso de av? que transmite para neta quando geralmente convivem juntas (5).

? na cozinha descortinada pelas receitas culin?rias de fam?lia, que prevalece a arte de elaborar a comida e de lhes dar sabor e sentido. Tais fontes desvendam uma dimens?o do tempo n?o exclusivamente cronol?gico da produ??o de um prato, mas o tempo lento ou r?pido do gesto para misturar ingredientes, que constitui algo pr?prio e pessoal, de intimidade familiar, de investimentos afetivos, simb?licos e est?ticos (1).

? de extrema relev?ncia a elabora??o deste trabalho. Pois, a narrativa aqui encontrada n?o denota apenas a hist?ria individual, mas sim abordagem social, cultural, hist?rica, gastron?mica de gera??es. O objetivo desta pesquisa ? contribuir com o repert?rio de receitas, fazendo com que n?o se percam ao logo dos anos.

MATERIAL E M?TODOS

A pesquisa ? do tipo relato de experi?ncia e/ou bibliogr?fica. A metodologia ainda contou pesquisas bibliogr?ficas, que deram sustenta??o no contexto em geral. As buscas foram realizadas em tr?s bases de dados bibliogr?ficos, sendo estes SciELO (Scientific Eletronic Libray Online), PubMed e DeCS. Foram selecionados artigos do per?odo entre 2005 ? 2021.

A linguagem adotada para tal pesquisa foi o portugu?s e ingl?s. Nas buscas foram utilizados os seguintes termos: afeto; antropologia da alimenta??o; comida; gosto; receita de fam?lia. No total foram utilizadas dezessete, sendo artigos, trabalhos acad?micos, livros, revistas e sites.

A coleta de informa??es se deu a partir fonte familiar. Realizou-se uma coleta a partir de uma conversa subjetiva, onde alguns t?picos foram levantados, como identificar a receita de fam?lia, as ocasi?es em que esta ? utilizada; poss?veis adapta??es em sua elabora??o, a raz?o desta; e se existe algum cuidado no sentido de repassar esta receita fazendo-a circular entre os membros da fam?lia.

RESULTADOS E DISCUSS?O

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? bem verdade que a alimenta??o constitui uma necessidade b?sica do ser humano e acompanha a evolu??o da humanidade (6). Seguindo esta demanda, a pr?tica de comer fora ficou cada vez mais difundida na sociedade (7).

A comida feita de uma forma especial pode ter um novo significado, al?m da nutri??o e da saciedade da fome, esta pode manifestar-se como alimento da alma ou rememorar momentos que s?o revividos (2).

Contudo, a afetividade perpassada nas cozinhas de casa, ainda prevalecem e resistem ao tempo. O afeto propicia aproxima??o entre os indiv?duos, sendo propensa a viabiliza??o da trama social (8).

A afetividade por sua vez, se inicia na inf?ncia e evolui para o meio social, nas rela??es com a fam?lia e pessoas que convivem diariamente, tendo a possibilidade de conviv?ncias com crian?as e adultos (9). Os costumes habituais podem ser os agentes formadores do gosto, porque as prefer?ncias est?o associadas ?s condi??es objetivas de exist?ncia (10).

Nessa perspectiva, cabe compreender que o gosto ? uma sensa??o experimentada pelas papilas gustativas, intimamente relacionado ao olfato, sendo apreendido culturalmente, desempenhando papel fundamental na orienta??o de escolhas alimentares (11).

A sensa??o e a percep??o ligam os mundos f?sico e psicol?gico. Para entender os est?mulos externos, o organismo necessita de informa??es fornecidas pelos ?rg?os do sentido, por meio de impulsos el?tricos e sinais qu?micos (sensa??o), e da transmiss?o delas ao c?rebro. A percep??o ? o processamento, a organiza??o e a interpreta??o desses est?mulos (11). Deste modo, a percep??o ? norteada pela bagagem de experi?ncias anteriores, inexoravelmente culturais.

Os sistemas perceptivos est?o intimamente ligados ? aprendizagem, mem?ria, emo??o e linguagem (12). O gosto desempenha tamb?m um papel fisiol?gico, pois aciona reflexos de ingest?o e digest?o; ativa o sentimento de prazer e a saciedade e detecta a qualidade do alimento (deteriora??o, toxicidade etc) (13).

Tudo isto para explicar o qu?o vasto e plural ? o universo da alimenta??o, da comida, do sentir. N?o se d? do nada. A alquimia da alimenta??o perpassa pelos menores detalhes da percep??o humana. Denotando que o homem sai do micro conhecimento emp?rico para uma experi?ncia variada e rica no aspecto social e cultural.

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E foi no cotidiano que o sorvete caseiro (Figura 1.) surgiu como grande representante do sabor, do afeto e da tradi??o de nosso lar. J? estamos na terceira gera??o de leituras desta receita. Seu gosto peculiar de notas de baunilha e a sua temperatura gelada, nos remetem a mem?rias, a cheiros ?nicos e que acabam por confundir com o nosso presente. Em um misto de acolhimento, alegria, expectativa e saudosismo com o bem querer ao que se come.

Figura 1 ? Sorvete Caseiro Fonte:

A tradi??es culin?ria ou o legado que nos foi passado de forma costumeira, atrav?s

do cotidiano, mas n?o de uma forma linear. Afinal, testes foram sendo feitos ao longo da

hist?ria e possibilitaram maior otimiza??o da receita e da tradi??o. Mesmo com toda esta

beleza, em um tom quase que apelativo, o que nos mobiliza at? hoje ? o sabor e o afeto

t?o arraigados em nossas mem?rias.

As ocasi?es em que a receita do sorvete caseiro era feito, era basicamente para o

fim da noite. Este era o grande evento. Ter algo doce, quente e gelado, uma coberta, um

bom filmes e todos n?s no sof?. A programa??o perfeita. O ?pice da semana e da mais

simples felicidade. Criava-se uma atmosfera em torno da prepara??o. Come?ava na sexta,

visando o s?bado. Entretanto, a ansiedade e a inquietude, muitas vezes nos fez comer

antes. Sem dar tempo suficiente para o congelamento, devido ao n?meros de vezes em

que era aberto.

Com o passar dos anos, alguns ingredientes sofreram modifica??es, logo a receita

teve de adaptar. Afinal, a pr?pria ind?stria nos imp?s isso ao diminuir a qualidade,

aumentar pre?o ou por se dif?cil de encontrar, como o creme de leite fresco, fava de

baunilha etc. Mesmo assim, o cuidado perante a prepara??o nunca foi negligenciado.

O legado desta receita de fam?lia, acabou que ficou aos nossos cuidados, ou seja,

a tradi??o era/? de comer em nossa casa. Mesmo sendo repassada para os outros membros,

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com uma circula??o, a prepara??o parece ganhar um cuidado quanto a textura homog?nea, harmonia dos ingredientes. ? sempre sugerido que quando feita em nossa casa, a prepara??o ganha um sabor extra.

Tal peculiaridade ganhou espa?o ao longo dos anos e tamb?m tornou-se parte do legado de tradi??o da hist?ria da receita de fam?lia. Todos os ingredientes e modo de preparo est?o dispostos e descritos na (Figura. 2) e (Tabela 1.)

Figura 2 ? Sorvete caseiro l?dico. Fonte: elaborada pela autora (2021).

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